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Coluna Fragmentos: Espanhola, Asiática e Hong Kong: as pandemias gripais do século XX
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
João Gabriel Vieira | 25 de junho de 2023 - 14:19

Há poucos meses a rotina dos ponta-grossenses foi alterada pela ocorrência da pandemia da “Gripe H1N1”, conhecida popularmente como “Gripe Suína”. De uma hora para outra, uma série de hábitos que incorporamos desde o início de nossas vidas foram colocados em cheque por conta da noção de saúde pública e em nome do controle da doença. Festas, aulas, reuniões em lugares fechados e, até mesmo, o simples ato de cumprimentar alguém por meio do aperto de mãos, beijo ou abraço, passaram a integrar uma rigorosa lista de atos proibidos ou, ao menos, não recomendados.
Desta forma, foi possível perceber que a humanidade pode ter avançado científica e tecnologicamente, mas, ao contrário do que se imaginava no início do século XX, ainda está longe de debelar doenças que atingem a espécie humana há milhares de anos. De acordo com o historiador Charles Cockburn, “o vírus da influenza comporta-se da mesma maneira há 500 ou 1000 anos e nós não estamos mais capacitados que nossos antepassados para impedir a ocorrência de novas epidemias ou pandemias gripais”.
A gripe foi identificada no século IV a. C., pelo grego Hipócrates, um dos mais importantes médicos da antiguidade. É classificada como uma doença aguda, que evolui rapidamente e geralmente é benigna. No entanto, dependendo de algumas condições, um surto da doença pode gerar um grande número de vítimas fatais.
Epidemias e pandemias gripais foram comuns na história da humanidade. Somente no século XX, ocorreram três grandes pandemias gripais. A primeira – e mais agressiva – ocorreu entre os anos de 1918 e 1919. A “Gripe Espanhola” (nome que provavelmente se tornou popular por conta de ter sido fartamente noticiada pelos jornais espanhóis naquele período) se caracterizou por sua grande letalidade. Acredita-se que o início dessa crise gripal tenha sido nos Estados Unidos, entre os soldados que treinavam para participar da I Guerra Mundial e estima-se que ao final da pandemia 40 milhões de pessoas morreram ao redor do mundo. A segunda – a “Gripe Asiática” (1957/1958) – e a terceira – a “Gripe Hong Kong” (1968/1969) – apesar de agressivas e de provocarem uma onda de pânico mundial, deixaram um número bem menor de mortos (algo em torno de 4 milhões de pessoas). Possivelmente o avanço dos antibióticos e a disseminação de práticas sanitárias e de higiene foram decisivos para minimizar o efeito dessas pandemias.
Alguns estudos apontam que a maioria das pandemias gripais contemporâneas se originou no continente asiático em virtude da permanência, naquela região, de práticas produtivas tradicionais (na agricultura e pecuária), nas quais os seres humanos estão em contato direto com animais (como aves e porcos) o que favorece a transmissão e as recombinações do vírus da gripe. Foi assim que, em 1997, Hong Kong registrou um grande surto de “Gripe Aviária” que atingiu inicialmente os animais e, logo em seguida, provocou a morte de 6 pessoas. Renascia, assim, após cerca de meio século, o risco das epidemias gripais no mundo contemporâneo.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 06 de dezembro de 2009.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.