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Sociedade uniforme, mas sem passado

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Tiago Bubniak

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Viver em um mundo multicultural, colorido e controverso desde o nascimento leva o ser humano a ignorar detalhes que, justamente por integrarem o cotidiano desde sempre, são tão familiares que passam despercebidos. Por estarem mergulhadas na realidade que as cerca, as pessoas nem sempre se dão conta de quão complexa é a teia de beleza e mazelas que as rodeia e da qual elas mesmas fazem parte. Querendo ou não. Bem e mal coexistem e emoções desencadeadas pelos dois estão aí, presentes em maior ou menor grau em cada um.

Pois imagine que dores e alegrias, amor e saudade, o prazer das artes, todo esse emaranhado de poesia e caos fosse suprimido das memórias do ser humano em nome de uma uniformidade social capaz de extinguir competição e inveja. Imagine agora ter acesso aos dois mundos, ao da supressão das memórias e ao antigo, no qual elas existiam, e confrontar os dois. É isso o que acontece com o adolescente Jonas (Brenton Thwaites), protagonista do filme ‘O Doador de Memórias’, do diretor Phillip Noyce. Jonas é o designado pelos anciãos para ser o receptor das lembranças doadas pelo personagem de Jeff Bridges. De tempos em tempos, essa função altamente especial passa de mãos.  Só um dentre todos é o escolhido. A preservação do registro do passado servirá para que o receptor, com seu conhecimento adicional, seja um conselheiro dos líderes da sociedade.

Até aí o filme (adaptado de um best-seller de 1993, da estadunidense Lois Lowry) tem uma premissa que atrai. Motiva reflexões como a que abre este texto. Mas na medida em que o desfecho se aproxima, a ação toma conta e deixa em segundo plano o embasamento filosófico construído até então.

Como se vê, ‘O Doador de Memórias’ é outra das tantas produções que investem no enfoque de uma sociedade distópica futurista cuja figura central é um adolescente, enquanto lembra ser um arremedo distante de clássicos da literatura como ‘1984’ e ‘Admirável Mundo Novo’. Apesar de ter seu material de origem escrito muito antes da febre que tomou conta do cinema comercial (alguém já ouviu falar de ‘Jogos Vorazes’ e ‘Divergente’?), o filme fica com um quê de cópia, repetição, déjà-vu. Nem por isso, no entanto, é desprezível: não se perde por completo e merece o crédito de ser visto.

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