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Coluna Fragmentos: O imaginário anticomunista no Brasil
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
João Gabriel Vieira | 05 de agosto de 2023 - 02:38

A década de 1920 caracterizou-se, no Brasil, por ser um período de inúmeras mudanças, ou luta por elas, em praticamente todos os contextos da sociedade. Nestes anos, observaram-se os projetos inovadores dos modernistas, a lutas das mulheres por condições mais igualitárias e a vários grupos de trabalhadores em busca de direitos e valorização do seu trabalho.
No interior deste último grupo, deu-se a formação do Partido Comunista Brasileiro, datada de 1922. Desde a sua formação, o Partido e seus membros, os comunistas, causaram preocupação a diferentes grupos: os empresários, donos dos meios de produção, temerosos de que seus funcionários fossem “contaminados” com o ideário marxista; as elites políticas, em sua grande maioria conservadoras; e a Igreja Católica, que a partir da laicização do Estado com a advento da República em 1889, intensificou sua postura no que concerne a sua influência no comportamento da sociedade.
As preocupações da Igreja se dirigiam tanto ao perigo representado pela subversão e pela influência da ideia do materialismo histórico. Em resposta, a Igreja desenvolveu campanhas, fundou ligas e esforçou-se em disseminar encíclicas e cartas pastorais para convencer os governantes e, principalmente a população em geral de que o Brasil era, acima de tudo, um país católico e que não deveria conter esforços no extermínio do comunismo ateu.
Durante o século XX, dois acontecimentos relacionados ao comunismo alcançaram maior repercussão no Brasil e contribuíram para o desenvolvimento de uma verdadeira “cruzada anticomunista” no país. O primeiro deles foi a chamada Intentona Comunista de 1935, na qual se destacaram Luís Carlos Prestes e Olga Benário. Esse movimento foi rapidamente contido pelo exército e pela polícia, seus líderes foram presos, torturados e mortos e a revolta foi desmoralizada pela imprensa, que caracterizou os participantes como antinacionais e terroristas.
O segundo acontecimento, se caracterizou por sua longa duração: a Guerra Fria. O contexto pós Segunda Guerra Mundial, no qual se observou o início da divisão do mundo em dois blocos, o capitalista, representado pelos Estados Unidos e o socialista, representado pela União Soviética. Nesse período se intensificaram as propagandas e estereótipos comunistas no país, e o Brasil, que mantinha uma política de alinhamento aos Estados Unidos, seguiu o posicionamento do anticomunismo.
A corrida espacial e armamentista, acompanhada com euforia por todo o mundo através dos jornais e da televisão, influenciou de forma significativa neste debate. Em nosso país, e em toda a América Latina em geral, outro fator foi decisivo no que respeita as imagens criadas sobre os comunistas: a implantação das ditaduras militares. Basta folhear os jornais publicados há algumas décadas no país e em Ponta Grossa para que se perceba o medo do “perigo vermelho” alastrado por nossa sociedade. Setores majoritários da Igreja Católica, da sociedade civil organizada, da imprensa e do governo alertavam, num misto de pânico e de denúncia, sobre a eminente tomada de poder dos comunistas e de suas ações, entendidas por eles como contrárias a família, a moral e a religião.
Desta maneira, é possível perceber como estas representações, presentes até hoje no imaginário popular, ofereceram legitimidade, força, confiança e credibilidade a ações e posturas da Igreja Católica e do governo militar que dirigiu o Brasil entre 1964 e 1985.
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Olga Benário e Luís Carlos Prestes
Na década de 1930, a alemã de origem judaica, Olga Benário (1908-1942) chegou ao Brasil, a serviço da Internacional Comunista para atuar como guarda-costas de Luís Carlos Prestes, considerado a figura central para levar adiante uma revolução comunista no país. Ambos foram líderes da tentativa de tomada de poder dos comunistas em 1935. A convivência deu origem ao romance que resultou no nascimento da hoje historiadora Anita Leocádia Prestes. Após o fracasso da revolta de 1935, Prestes foi preso e Olga foi entregue pelo governo getulista à Alemanha, onde foi morta no campo de concentração de Benburg. O escritor Fernando Moraes, publicou em 1985 uma biografia sobre sua vida intitulada “Olga”. Em 1994, o diretor Jayme Monjardim dirigiu o longa “Olga”, inspirado na obra de Moraes.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 07 de novembro de 2010.
Coluna assinada por Amanda Cieslak Kapp, historiadora e professora da Unibrasil e do Instituto Federal do Paraná/Campus Pinhais.