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Coluna Fragmentos: O Dr. Bartholomeu Lisboa e a medicina em Ponta Grossa

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Na edição especial do JM alusiva ao aniversário de Ponta Grossa, 15 de setembro de 1978, encontra-se uma mensagem do Dr. Bartholomeu Lisboa
Na edição especial do JM alusiva ao aniversário de Ponta Grossa, 15 de setembro de 1978, encontra-se uma mensagem do Dr. Bartholomeu Lisboa -

Em 1953 uma família de camponeses vinda da localidade de Porteira Grande, atual distrito de Caetano Mendes, na zona rural de Tibagi – mudou-se para Ponta Grossa. Composta por pai, mãe e três filhos adolescentes, estabeleceram-se na região do bairro da Nova Rússia. Até então eram proprietários de um pequeno engenho de açúcar e decidiram vender seus parcos bens, migrando em busca de tratamento para a matriarca da família que sofria de problemas cardíacos.

A mudança foi recomendada pelo Dr. Bartholomeu Lisboa, um clínico geral e cirurgião nascido em Itaporanga, interior paulista, que havia chegado a Ponta Grossa naquele mesmo ano. Logo após as primeiras consultas o médico detectou o problema e informou para a paciente que somente com acompanhamento permanente ela teria chances de sobreviver. Naqueles tempos, o deslocamento do local onde moravam para Ponta Grossa exigia enorme dose de sacrifício e, feito de carroça, levava ao menos um dia de viagem.

Até aquele início da década de 1950 os médicos residentes em Ponta Grossa atendiam apenas na área central da cidade. Ao perceber essa realidade, Dr. Lisboa decidiu inovar e montou seu consultório na Nova Rússia, porta de entrada para todos que vinham do interior paranaense arrebanhando, rapidamente, um grande número de pacientes. Foi isso que propiciou o encontro entre o médico e essa família de roceiros originários da Porteira Grande, e tornou-o a primeira referência sempre que alguém dessa família precisava de atendimento, fato que se manteve durante décadas e perpassou as gerações seguintes.

Esse exemplo certamente não foi o único. Ao contrário, centenas de outras famílias estabeleceram uma relação similar com esse médico. Homem de poucos sorrisos, rígido, muitas vezes até rude, conservador do ponto de vista político, o Dr. Lisboa significou, durante décadas, a única esperança de cura para inúmeros pacientes. Representante de um outro momento da medicina costumava atender tanto aos doentes que podiam remunerar seus serviços como os que simplesmente diziam “Deus lhe pague”. Desta forma, construiu laços de afetividade e respeito, e “orientou” politicamente inúmeros pacientes e seus familiares. Foi vice-prefeito de Ponta Grossa na gestão do engenheiro Cyro Martins (1969 – 1972), momento em que a cidade estruturou as bases do seu processo de desenvolvimento industrial.

No final da década de 1950, Dr. Lisboa reuniu um grupo de pessoas com objetivo de construir um hospital na região da Nova Rússia. Em 06 de agosto de 1960, Dom Antonio Mazzarotto, Bispo da Diocese de Ponta Grossa, abençoou o início das obras que foram concluídas em 1962, ano em que o Hospital Bom Jesus começou a funcionar na cidade. Desde então, o nome do Dr. Bartholomeu Lisboa está visceralmente ligado à trajetória desse hospital ponta-grossense.

Hoje seria impossível tratar da história da medicina em Ponta Grossa sem destacar a figura do Dr. Lisboa. Tanto por sua atuação como profissional dessa área, quanto por sua iniciativa de liderar os empreendedores na fundação de um dos maiores hospitais da cidade, ele integra um seleto grupo de profissionais da medicina que são reverenciados até hoje pela população como, por exemplo, os Drs. Francisco Burzio, Lauro Justus, Milton Lopes, Orlando Moro, etc.

A propósito, a família vinda da Porteira Grande, mencionada no início desta coluna, era composta por meus avós, tios e minha mãe. Minha avó, mesmo com os problemas cardíacos, faleceu em 1994 e eu sou um dos netos atendidos pelo Dr. Lisboa durante toda minha infância e adolescência. Por mais que divirja política e ideologicamente dele, sou admirador de sua trajetória profissional e de seu legado para a história da medicina ponta-grossense.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 10 de agosto de 2008.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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