PUBLICIDADE

Colunas Fragmentos: O Mercado Municipal de Ponta Grossa

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Anúncio da Pina Imóveis com o início das vendas do Mercado Municipal de Ponta Grossa – JM de 01 de janeiro de 1966
Anúncio da Pina Imóveis com o início das vendas do Mercado Municipal de Ponta Grossa – JM de 01 de janeiro de 1966 -

Nos dias atuais os Hipermercados dominam as vendas a varejo nas cidades de médio e grande porte em todo o Brasil. Com lojas que contam com um visual agradável, com incrível variedade de produtos, estacionamentos seguros e opções de pagamento, tais estabelecimentos conseguiram rapidamente superar uma prática social que, no Brasil, remonta aos séculos coloniais: a realização das compras nos pequenos armazéns e quitandas espalhados pelos bairros e pelas vilas mais distantes.

Nesse sentido, basta utilizar como exemplo a cidade de Ponta Grossa. Atualmente os consumidores locais possuem, pelo menos, quatro grandes redes de supermercados à disposição. As lojas funcionam de domingo a domingo, sem contar o sistema de compras pela internet e o serviço de entregas a domicílio.

Mas até a década de 1980 o Mercado Municipal de Ponta Grossa atraía um grande número de fiéis consumidores que ali realizavam suas compras sempre levando em conta três coisas: o preço, a qualidade dos produtos e o contato com os comerciantes que, muitas vezes, acabavam estabelecendo um vínculo pessoal com os clientes. O ato da compra era também um momento de trocas sociais e de contato entre as pessoas que desfrutavam do espaço do mercado.

Muito mais simples e rústico do que os mercados onde atualmente realizamos compras, o Mercadão – como era popularmente chamado – se configurou, durante décadas, em um rico espaço de sociabilidade, troca de experiências e, até mesmo, lazer para muitos ponta-grossenses.

Sem merecer atenção dos governos municipais que se sucederam desde os anos 80, sufocado pelo eficiente modelo empresarial das grandes redes mercadistas que atuam na cidade e, principalmente, em razão das mudanças culturais/comportamentais pelas quais a sociedade passou nos últimos anos, o Mercadão foi perdendo sua condição de referência comercial em nossa cidade e, atualmente, aparece nos noticiários exclusivamente como “um problema a ser resolvido” pela Prefeitura.

O interessante é que, ao olharmos para outras cidades brasileiras como Curitiba, Porto Alegre, São Paulo e Florianópolis, ou para cidades européias como Paris e Barcelona, descobriremos que todas possuem mercados municipais e que estes são sinônimos de qualidade e lazer. Todas essas cidades se constituem em exemplos de modernidade e desenvolvimento, contam com grandes redes de Supermercados e, mesmo assim, seus mercados municipais são espaços altamente valorizados e procurados pela população.

Desta forma a questão que se coloca é por que em Ponta Grosa o Mercado Municipal, que outrora exerceu uma importante função comercial, apresenta-se como um espaço marginal? 

Talvez a resposta esteja na postura predatória do poder público e, também, da própria sociedade ponta-grossense com relação ao passado, a história e a identidade locais. O que para outras cidades e sociedades é compreendido como sinônimo de orgulho e valor, para nossa cidade é sinônimo do velho e do ultrapassado. Foi assim com a Catedral de Santana (demolida em 1979), com o prédio da Adriática (demolido em 1993), com a Festa de Santana (extinta nos anos 60) etc.

Esse devaneio da busca por uma suposta “modernidade” tem custado muito caro para Ponta Grossa. Paulatinamente estamos perdendo nosso patrimônio (arquitetônico e cultural) e nossa identidade. Nesse sentido a cidade caminha na contramão da história, abrindo mão de um espaço que, durante décadas, fez parte do cotidiano da nossa gente.

.

O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 27 de julho de 2008.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MAIS DE VAMOS LER

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

DESTAQUES

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MIX

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE