Conselho Da Comunidade
Sectarismo: a quem interessa?
Da Redação | 30 de agosto de 2015 - 03:39
Principio o tema da semana fazendo alusão às palavras do pensador contemporâneo Alexandre Boarro, que afirmou de forma singular: “só os tolos acreditam que política e religião não se discutem. Por isso, os ladrões permanecem no poder e os falsos profetas continuam a pregar.”
Neste contexto, diante das insólitas desventuras que acontecem periodicamente em nosso legislativo princesino, o que denota a baixa qualidade dos temas que integram a pauta de discussões, causou-nos surpresa a propositura de se tornar obrigatória a exibição de bíblias nas escolas públicas e particulares do município.
É indiscutível que a escola exerce o papel de difusora do conhecimento e que os conteúdos programáticos são abordados de forma multidisciplinar. Contudo, há anos procura-se superar um grande desafio no processo ensino-aprendizagem, que diz respeito a desenvolver na comunidade estudantil o gosto e o prazer pela leitura de obras literárias.
Sobre o assunto, dados da edição de 2012 da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pelo IBOPE, mostram que os brasileiros estão cada vez mais trocando o hábito de ler jornais, revistas, livros e textos na internet, por atividades que exigem menos esforço intelectual, como ver televisão, assistir filmes, reunir-se com amigos e navegar na rede de computadores por diversão. A pesquisa revelou que houve uma queda de 9,1 % do número de leitores no Brasil, em comparação com ano de 2007, sem contar que o preço do livro é elevado em nosso país.
Nesta perspectiva, procurando entender o espírito da lei que envolve o projeto parlamentar, o dileto vereador espera que seja garantido aos alunos à leitura bíblica, pela simples exibição da obra “em local de destaque”, o que se constitui puro devaneio. Devemos considerar que nossos infantes se encontram construindo o processo de conhecimento e, deste modo, ouso afirmar que a leitura do livro sagrado não se constitui tarefa fácil, mormente porque alguns terminam a 4ª série do ensino fundamental sem desvendarem, eficientemente, o mistério das letras.
Particularmente, entendo como requisito indispensável para a leitura desta obra, que se reveste de caráter transcendental sob o ponto de vista religioso, o despertamento do leitor para o assunto, não devendo prescindir de maturidade e busca pela espiritualidade, o que certamente não se coaduna com os interesses de nossa juventude estudantil.
Portanto, deduzo que o projeto em comento carece de relevância, por estar destituído de interesse público, o que denota uma percepção estreita do cotidiano e a forma sectária de atuação dos nossos insignes representantes do povo que, nesta condição, menosprezam sua função essencial: a fiscalização das ações desenvolvidas pelo Poder Executivo.
Marcos Condolo
[email protected]