Conselho Da Comunidade
Auto-retrato
No Conselho da Comunidade, João Elter Borges Miranda comenta sobre a possibilidade de redução do número de vereadores em Ponta Grossa.
| 06 de dezembro de 2016 - 01:24

No Conselho da
Comunidade, João Elter Borges Miranda comenta sobre a possibilidade de redução do
número de vereadores em Ponta Grossa.
A Constituição Federal de 1988, que nesses tempos de pato
rouco parece ter sido esquecida, institui muitos avanços. Entre eles está o
resgate do papel dos municípios no cenário político brasileiro. Isso foi
conquistado ao torna-los entes federados com constituições próprias e ao
dar-lhes relativa autonomia político-jurídica, acompanhando a tendência internacional
de valorizar os níveis subnacionais de governo. Graças a esses avanços
descentralizadores, os parlamentares podem definir algo como o número de
cadeiras que a Casa deve ter e o quanto eles merecem de salário.
O projeto de redução salarial e do número de vereadores vem
há anos sendo discutido pelas Câmaras Legislativas Brasil afora. Essa
preocupação em enxugar a máquina pública de forma eficiente é legítima. Em
nossa cidade, soma-se a essa pauta a interessante proposta de desconto salarial
dos vereadores que faltarem às sessões sem justificativa. O regimento interno
atual é vago no debate sobre o desconto dos vencimentos dos faltosos e permite
sessões esvaziadas.
Quanto aos salários, os R$ 7 mil mensais que atualmente um
vereador daqui recebe excede o que a média dos brasileiros recebem. E isso é
não está certo. Um vereador, que é eleito para nos representar, não pode ganhar
muito mais do que nós. Porém, o salário do parlamentar também não deve ser
reduzido ao ponto dele não conseguir sobreviver com a sua remuneração, porque a
sua total redução privilegiaria candidatos com alto poder aquisitivo, enquanto
que pessoas de baixa-renda – que hoje representam baixo índice de candidaturas
e menor ainda de eleições – evitarão ainda mais, pois não terão condições de
sobreviverem com um salário igualado a um valor próximo a nada.
Aliada a essa discussão, é preciso debater o aprimoramento
da fiscalização das verbas de gabinete. Quando uma câmara tende a aceitar a
redução salarial, não raro os vereadores buscam repor a perda através dessa
verba. Buscam repor por meio também de acordos com os assessores que terão que
destinar um percentual do seu salário ao parlamentar. Se os nossos vereadores
estão mesmo tão preocupados com a destinação eficiente dos recursos públicos,
tenho certeza que não deixarão de discutir esses pontos.
No que tange a de redução de vereadores, é uma proposta com
poucas chances de ser aprovada, mas, o fato da opinião pública apoia-la é um
auto-retrato da crise de representação que perpassa o sistema político. Tamanha
insatisfação deixa claro que essa proposta deve vir acompanhada de outras
mudanças que promovam uma participação mais direta do povo.
O fato é que muitas pessoas não se sentem representadas.
Precisamos implementar meios que ensejam numa democracia mais participativa, na
qual possamos escolher as medidas que precisam ser aplicadas, onde devem ser
promovidas e o modo como serão. Plebiscitos e Referendos Digitais seriam bons
exemplos desse necessários avanços. A CF de 1988 avançou ao possibilitar maior
autonomia às Câmaras. Precisamos continuar avançando através de uma
participação mais direta da população na tomada de decisões.
Portanto, são inúmeras discussões que precisam ser norteadas
mais por sinapses do que por sístoles; mais por reflexões do que por gritos – e
que devem envolver toda a população. Dessa forma, o legislativo poderá cumprir
o papel a que foi confiado.
Por João Elter Borges
Miranda.