Conselho Da Comunidade
Anistiai os nossos pecados
No Conselho da Comunidade, Jocemara Gomes comenta sobre a votação das medidas anticorrupção e a anistia ao crime de ‘Caixa 2’.
| 30 de novembro de 2016 - 01:56

No Conselho da
Comunidade, Jocemara Gomes comenta sobre a votação das medidas anticorrupção e
a anistia ao crime de ‘Caixa 2’.
O Plenário da Câmara recebeu uma de suas mais polêmicas
matérias pós impeachment, a criminalização da prática de caixa dois. Integrando
uma das dez medidas contra a corrupção (PL4850/16), a prática de caixa dois se
refere ao uso de recursos não contabilizados e responsabiliza dirigentes
partidários e seus beneficiados, imputando-lhes o viés das punições que tendem
a extrapolar o rol das multas.
Na contramão dos reclames populares através do movimento
social das “10 medidas contra a corrupção” e das reivindicações da Comissão de
Promotores e Procuradores da Lava Jato, líderes partidários dentre eles,
Rodrigo Maia (presidente da Câmara) articularam estratégia para anistiar os
crimes de caixa dois, enquanto pontua: “Vamos acabar com essa discussão de
anistia, não há anistia de um crime que não existe. É só um jogo de palavras
para enfraquecer e desmoralizar o Parlamento”.
Uma emenda será apresentada a fim de obtenção do perdão dos
crimes de caixa 2 cometidos antes da publicação da lei. Reza o novo artigo:
Art. X. Não será punível nas esferas penal, civil e eleitoral, doação
contabilizada, não contabilizada ou não declarada, omitida ou ocultada de bens,
valores ou serviços, para financiamento de atividade político-partidária ou
eleitoral realizada até a data da publicação desta lei.
Opiniões se dividem e tomam as redes sociais expondo atores
políticos das mais variáveis expressões e relevâncias.
O cenário político parece oscilar entre uma solução
moralizadora e legalista. A exemplo, Carlos Marun (PMDB) é discursivo sobre a
tipificação do crime de caixa dois ser retroativa como um prejuízo ímpar para
os réus. Levando a cabo sua convicção ao chamar seus pares contrários a
anistia, de “hipócritas”. A senadora Ana Amélia Lemos expõe nas redes sociais
que “A tentativa de anistiar caixa dois é escandalosa! Sou contra essa
proposta! Além de prejudicar a Lava Jato pode liberar presos envolvidos no
Mensalão! A sociedade nunca vislumbrou, como agora, um duro combate à
impunidade e à corrupção! Não vamos tolerar qualquer proposta que queira frear
a Lava Jato e outras investigações criminais! Chegou a hora de passar o Brasil
a limpo, de fato e de direito!”
Já os nossos representantes, os deputados Sandro Alex (PSD)
e Aliel Machado (REDE) criticaram duramente a “pressa na votação”. Normalmente
de lados distintos do tabuleiro político, a dupla concordou ao se posicionar de
maneira crítica à votação do pacote. Sandro afirmou que a “pressa” em votar as
medidas eram uma tentativa de “esconder o que está prestes a ser descoberto”,
já Machado denunciou uma união do PT, PSDB e PMDB para permitir que o pacote
fosse alvo de uma votação simbólica e nominal – REDE, PSOL, PHS e PV pediam
votação nominal. Os deputados saíram “vitoriosos” após o recuo dos grandes
partidos e o adiamento da discussão até a próxima terça-feira (29), conforme
artigo deste jornal.
O debate a respeito de uma nova legislação é urgente,
premissa do regime democrático de direito. A voz do povo não deve e não será
calada. Mas urge a reflexão, desta leiga conselheira, e reitero, leiga, se
teremos nós, populares, vitória neste artigo da PL4850/16, se reinterpretadas
as extensões do princípio "nemo tenetur se detegere" (o direito de
não produzir prova contra si mesmo), consagrado pela constituição, assim como
pela legislação internacional, como um direito mínimo do acusado e direito
fundamental do cidadão. Permitirão os parlamentares a moralização e legalização
como crime de seus ilícitos conhecidos? Pane nostrae quotidianum danobis hodie
e dimite debita nostrae sicut noi debitamus pecatoribus nostrae e ne nos
inducas in tentazionen Sed liberta nos a malo. Amem.
Por Jocemara Gomes.