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Coluna Fragmentos: Os clubes sociais e os dias atuais
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
João Gabriel Vieira | 01 de abril de 2023 - 04:33

Os Clubes Sociais surgiram na Inglaterra em meados do século XIX. Inicialmente reuniam oficiais britânicos que combateram nas guerras napoleônicas e que buscavam um lugar de encontro para conversar, glorificar as batalhas do passado, comer e beber.
Até a década de 1880, os “clubs” britânicos eram espaços exclusivamente masculinos, porém, com as mudanças sociais em curso no período, as mulheres também passaram a frequentá-los, chegando, em alguns casos, a criar clubes unicamente femininos.
No início do século XX, os clubes sociais se tornaram uma febre em todo o ocidente. Destinados a reunião de grupos específicos e para utilização normatizada do tempo de lazer, os clubes rapidamente passaram a assumir a característica de ponto de encontro de segmentos específicos: operários, grupos étnicos, segmentos religiosos, moradores de bairros, elites, intelectuais.
Nesse período, pertencer a um clube social era algo que conferia identidade e/ou status aos seus frequentadores. Locais originalmente criados para o desfrute do lazer e do tempo ocioso, os clubes logo ampliaram seus papéis. Tornaram-se ponto de encontro e referencial para comunidades inteiras, serviram como elemento de delimitação ou distinção social e, institucionalmente, ajudaram a compor o perfil sócio-cultural das sociedades daquele período.
A história de Ponta Grossa é marcada pela presença de inúmeros clubes cujas trajetórias históricas nos auxiliam a compreender o processo de composição do perfil da sociedade local. Em nossa cidade foram criados clubes voltados para atender aos segmentos étnicos (13 de Maio, Sírio Libanês, Germânia, Dante Alighieri, Odrozonie/Polonesa Renascença, Thalia), aos moradores dos bairros (América), aos trabalhadores (Homens do Trabalho) e, até mesmo, aos segmentos sociais específicos (Clube Pontagrossense). Tal característica revela o perfil no qual se assentou a realidade histórico-social ponta-grossense ao longo do século XX.
Durante décadas os clubes sociais mantiveram-se entre as principais opções de sociabilidade e lazer da sociedade princesina. Na década de 1970, o JM diariamente disponibilizava uma página aos clubes sociais locais para que estes expusessem suas realizações e calendários de eventos, numa clara demonstração da força dessas instituições junto à nossa sociedade. Bailes, atrações artísticas, matinês e saraus dançantes, encontros familiares nos finais de semana, torneios esportivos e outras atividades similares que tinham por finalidade congregar os associados, constituíam-se em práticas que davam aos clubes um lugar de destaque junto ao imaginário social e, ao mesmo tempo, possibilitavam aos associados se inserir e se reconhecer como pertencentes a um determinado grupo.
Contudo, as mudanças recentes da sociedade fizeram com que os clubes sociais fossem perdendo espaço e representatividade. A multiplicação de bares, casas noturnas, salões de festas, academias e condomínios fechados de alto padrão, capazes de oferecer inúmeras opções de lazer sem o compromisso da cobrança de mensalidade, constitui-se num fator decisivo para retirar dos clubes sociais a primazia desses serviços e atividades.
Pode-se dizer que pertencer ao quadro de associados de um determinado clube não se configura mais em uma situação de distinção social. É certo que, em cidades como Ponta Grossa, um glamour saudosista ainda envolve frequentadores dos clubes (sobretudo os vinculados às chamadas elites), e que a participação social ainda é vista como diferencial e prestígio. Isso pode ser compreendido por uma dinâmica que envolve as relações em uma sociedade que cresceu demograficamente, mas que ainda permanece provinciana em muitos dos seus aspectos.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 13 de abril de 2008.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.