Conselho Da Comunidade
Poder do povo!
Administrador | 11 de outubro de 2016 - 02:43
Por Regis Clemente da Costa
O número de votos em branco, nulos e abstenções nas eleições
2016 oportunizam análises importantes para a compreensão do verdadeiro sentido
da democracia. Para falarmos no processo eleitoral, precisamos falar do
processo democrático e do poder do povo.
José Saramago, escritor português, dizia que “a democracia
encontra-se sequestrada, condicionada, amputada, porque o poder do cidadão se
limita a esfera política, a tirar um governo que não gosta e a pôr um outro que
talvez venha a gostar. Porém, as grandes decisões se concentram na esfera do
poder econômico.”
Reduzir a análise dos votos nulos, em branco e as abstenções
somente ao desinteresse da população em participar da escolha dos
representantes, à insatisfação com a corrupção ou com políticos corruptos
representa uma contradição, até porque, em muitas cidades, diversos partidos
envolvidos em escândalos de corrupção conseguiram eleger candidatos a prefeito,
vereadores ou garantiram uma vaga no segundo turno.
A porcentagem desses votos pode ter aumentado, porém, não é
novidade, até porque o povo é deixado de fora do processo democrático! O
processo eleitoral está desacreditado por não representar os reais interesses
da população. Em boa parte é um processo marcado pelas campanhas milionárias, pela
influência do poder econômico, pelo compadrio, pelo clientelismo. Um processo
marcado pelo espetáculo das superproduções midiáticas e pelo marketing.
O processo democrático, no entanto, vai muito além do dia da
eleição. Porém, a participação efetiva nas decisões, nem sempre são respeitadas
ou garantidas e, por vezes são reprimidas. O próprio sistema cria os mecanismos
para que o povo permaneça fora ou seja impedido de participar das decisões.
Entre tantos casos, podemos citar o massacre de 29 de abril no Estado do
Paraná, em que os professores, servidores públicos e estudantes defendiam seus
direitos e sob comando do governador do Estado foram atacados violentamente com
bombas, tiros de bala de borracha, spray de pimenta, ferindo centenas de
pessoas.
Há ainda um agravante em torno a esse tema. Está em
tramitação na Câmara Federal o Projeto de Lei denominado Escola Sem Partido,
mas que na verdade deveria se chamar Lei da Mordaça. Se aprovada, essa lei agravará
ainda mais o distanciamento do povo da participação nas decisões políticas,
pois prevê entre outras questões, a proibição da discussão política nas
escolas, proíbe o estudo das concepções teóricas, filosóficas, sociológicas, entre
outros, sob pena de demissão, multa ou até mesmo prisão para quem descumprir
essa lei.
O enfoque no fortalecimento da democracia, deve ser dado no
processo democrático e vai além do processo eleitoral. A todo momento o povo se
organiza, se mobiliza e age. No Estado do Paraná, nesse momento, mais de 70
escolas estão ocupadas por estudantes que lutam contra a MP 746 imposta por
Michel Temer, que muda o ensino médio (pra pior), lutam contra a PEC 241 que
congela os investimentos em educação por 20 anos, contra a PL 257 e contra o
sucateamento da educação pública no Paraná. Ou seja, defendem o óbvio: a
educação pública, gratuita e de qualidade.
Nesses momentos é que se constrói participação efetiva, se entende e se pratica, verdadeiramente o sentido da democracia, com a participação popular, fazendo jus ao seu significado: poder do povo. Porém, isso é uma conquista e não uma concessão. Nesse caminho, certamente, os resultados das eleições tomariam outros rumos, bem como a participação do povo nas decisões que lhes dizem respeito.
Regis Clemente da Costa
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