Conselho Da Comunidade
Na pauta: Os “lagos” de Olarias
Mario Martins | 26 de abril de 2016 - 01:09
Nesta coluna, algumas vezes, faço
comparações com o futebol. Isto porque muitos dizem que o principal esporte do
país reflete muito de seu povo. Bem, não vou analisar as diferenças do basquete
nos Estados Unidos e o futebol no Brasil, entre a NBA e a CBF, mas acredito que
podemos entender muito quando comparamos a gestão do esporte com a política.
Especificamente, o que interessa do esporte, neste texto, é uma característica do
futebol no Brasil: o ufanismo em que este esporte foi envolvido, especialmente
no obscurantismo da ditadura militar, quando a seleção foi usada como
carro-chefe de um “país do futuro”. Expressões como “Salve a seleção!”, ”A
pátria de chuteiras!”, “Somos os melhores do mundo” entre tantas, fizeram com
que acreditássemos nisso, mas que, ao longo das décadas, descobrimos que não
era “bem assim”. Bem, ufanismo, em uma de suas acepções, significa a “vanglória
de um grupo arrogando a si méritos extraordinários”!
Esta tem sido uma marca que a atual administração
municipal procura colocar para si. Ideias como: “nunca antes em Ponta Grossa”
ou “é a melhor administração que já houve” e ainda “a cidade cresceu mais do
que em toda sua história” são questões que não colam, como se diz, além de
acabar por minimizar as boas iniciativas em meio aos tantos problemas e
dificuldades flagrantes vividos pela prefeitura. Uma destas questões é o
“Parque de Olarias”, com a previsão de um conjunto de lagos que servirão para a
contenção de enchentes, melhorando a mobilidade urbana e trazendo uma opção de
lazer para a cidade. Claro que todos aprovam a aplaudem esta ação! Mas sem
ufanismo, pois é um projeto de quase vinte anos, discutido em diferentes
momentos, sendo iniciado e interrompido outras vezes, tanto por falta de
recursos como de vontade (ou interesses privados na) política.
Particularmente, entendo que além do
avanço ambiental e da mobilidade urbana, a cidade está carente de um espaço
público adequado ao lazer. Este projeto, quando concluído, evidentemente será
importante para a cidade. Mas o que é questionável é o momento onde isto é
propalado aos quatro ventos. Primeiro, é ano de eleições municipais, de novo a
mesma e cansativa forma de fazer política, como se as pessoas não percebessem.
Segundo, dizer que a obra é fabulosa, fenomenal, como se fosse algo novo e não
tivesse uma história de discussão e reflexão na cidade. Terceiro, os recursos
totais para a conclusão da obra são altos e necessitam de repasses estaduais e
federais e, por isso, precisamos pensar no momento político e econômico delicado
do país, será que estes recursos virão, de forma a atender integralmente a obra?
Quarto, mesmo que a “visão de futuro” seja importante para os gestores públicos
que se pensem arrojados, precisamos questionar sobre a “visão do presente”,
quando temos demandas sérias na saúde (situação de hospitais públicos e
conveniados, por exemplo), questões ambientais não resolvidas (aterro sanitário
e contrato com a Sanepar, por exemplo), questões de mobilidade (desde os problemas
anuais com a empresa de ônibus aos simples buracos nas vias, espalhados por
toda a cidade), além dos espaços de lazer, especialmente próximos às milhares
de casas do programa Minha Casa, Minha Vida, carentes de viabilização nesse
sentido.
Enfim, menos. Menos ufanismo, mais
pé no chão. Certamente entre erros e acertos, acredito que se a atual
administração municipal ganharia muito se expusesse as dificuldades pelas quais
passa e falasse dos esforços feitos para enfrenta-las. Isso é legítimo para os
tempos em que vivemos. De outro lado, quanto mais o discurso tem um tom
ufanista, quando existe a tentativa de dizer que “nunca antes em Ponta Grossa”,
isso demonstra um paradigma desenvolvimentista (em esgotamento no século XXI)
que se contrapõe a uma visão de sustentabilidade das políticas públicas, o
paradigma necessário para nosso tempo.
Nei
Alberto Salles Filho
Tema
da semana:
Lago de Olarias: parque deve abrir um novo polo
de desenvolvimento em Ponta Grossa