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Coluna Fragmentos: A presença sírio-libanesa em Ponta Grossa
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
João Gabriel Vieira | 24 de julho de 2023 - 03:09
Uma das atuais referências físicas na área central de Ponta Grossa, o calçadão da Rua Coronel Cláudio ostentou, durante décadas, outra denominação: Rua dos Turcos! Marcada pela presença de inúmeras lojas voltadas, majoritariamente, para o comércio popular, esta rua correspondeu ao espaço de maior visibilidade e concentração da presença sírio-libanesa em nossa cidade durante todo século XX.
O fenômeno da imigração dos povos do Oriente Médio para o Brasil se enquadra, temporalmente, no momento do grande processo imigratório estimulado pelo Império de Dom Pedro II e também pela República brasileira em seus primórdios.
Ao chegarem ao Brasil os imigrantes de todas as nacionalidades acabavam “abrasileirando” seus nomes para uma melhor adaptação à nossa sociedade. Tal fenômeno atingiu também os sírio-libaneses, os quais, além da mudança de nome, acabaram tratados genericamente de “turcos”, termo que rapidamente se popularizou e se tornou corrente até entre as autoridades brasileiras.
É certo que, em Ponta Grossa, no início do século XX, a imigração eslava (polonesa e ucraniana, principalmente) foi a mais numerosa e que a partir da década de 1990 a cidade tentou se tornar conhecida nacionalmente por meio de uma festa alemã. Porém, é impossível falar da presença dos imigrantes na composição da população local sem destacar a contribuição sírio-libanesa.
Atualmente, uma grande quantidade de famílias que descendem dos chamados “turcos” que chegaram a Ponta Grossa há cerca de um século residem na cidade. Além da questão sociocultural, os sírio-libaneses cumpriram um papel determinante para o desenvolvimento econômico local, sobretudo por meio de uma intensa atividade comercial.
Estatísticas oficiais produzidas pelo governo do Paraná no início do século passado (em especial as realizadas pela Secretaria da Fazenda em 1918 e 1924), bem como publicações daquele período (como os Álbuns do Paraná editados anualmente), indicam uma predominância sírio-libanesa no cenário comercial ponta-grossense naqueles tempos. Tomando por base o Álbum do Paraná, de 1929, tal predominância se evidencia, por exemplo, nas atividades vinculadas ao comércio de armarinhos e de secos e molhados, nas quais é possível encontrar uma grande quantidade de sobrenomes de origem sírio-libanesa: Salomão, Sahd, Namur, Sallum, Akel, Kffuri, Thomé, Nejm, Thuma, Farhat, Nami, Saad, Chaiben, etc..
A maioria das casas comerciais dos “turcos” se concentrou na área central ponta-grossense, em especial nas redondezas da Estação Ferroviária, local no qual chegavam as mercadorias vindas de todas as partes do mundo e pelo qual diuturnamente circularam pessoas em busca de oportunidades. Percebendo as potencialidades econômicas desse espaço os sírio-libaneses não tardaram em se organizar ao longo da Rua Coronel Cláudio, e foi assim que nasceu a popular e movimentada “Rua dos Turcos”.
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Os sírio-libaneses no Brasil
A primeira grande onda imigratória sírio-libanesa para o Brasil ocorreu entre os anos de 1870 e 1914. De acordo com historiadores que pesquisam o tema, todos aqueles que chegaram nesse período são considerados como pioneiros desse movimento. Muitos dos “turcos” que chegaram ao país nesse momento não escolheram esse destino originalmente. Para muitos, o objetivo era desembarcar nos Estados Unidos, porém, por diversas razões não foram aceitos naquele país e acabaram desembarcando em terras brasileiras.
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Turcos?
Os primeiros imigrantes sírio-libaneses que chegaram ao Brasil, nas décadas finais dos Oitocentos, portavam documentos emitidos pela Turquia, pais que dominou politicamente o Oriente Médio por mais de quatro séculos. Desta forma, foram imediatamente identificados como “turcos”. Essa denominação se tornou popular e foi aplicada aos imigrantes de origem árabe que desembarcaram em nosso país até meados do século XX.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 08 de agosto de 2010.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.