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Coluna Fragmentos: A Rural Willys: um carro que resistiu ao tempo
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
João Gabriel Vieira | 13 de julho de 2023 - 03:01

No início do século XX inúmeros textos escritos por figuras de destaque no jornalismo e na literatura paranaense do período trataram do progresso material vivido por Ponta Grossa naquele momento. Figuras como Raul Gomes, Hugo dos Reis e Nestor Vítor estão entre aqueles que entusiasticamente decretaram o inevitável futuro venturoso de nossa cidade e apontaram os elementos materiais que contribuíram decisivamente para que a Princesa dos Campos se tornasse o principal centro urbano do interior do estado: a ferrovia, as indústrias, as casas comerciais, o cinema, a eletrificação, o telefone, etc..
Nesse cenário, tais cronistas também relataram a existência de inúmeros automóveis que cortavam as ruas da cidade dia e noite carregando pessoas e produtos. Ponta Grossa foi uma das primeiras cidades do Paraná a contar com uma frota de automóveis. Além dos carros de carga que eram empregados no transporte de mercadorias, os carros de luxo, como os franceses Charron, passaram a circular por nossa cidade ainda nos primeiros anos do último século. No início da década de 1910 surgiram as revendas dos carros importados da Ford e também da Chevrolet.
Se até a década de 1950 a ferrovia era o principal meio de transporte existente no Brasil, a partir desse momento verifica-se uma importante mudança nesse setor com o nascimento da indústria automobilística nacional e com uma considerável melhoria das rodovias existentes no país. O maior símbolo dessa mudança foi o “fusca”, nome popular dado ao carro mais popular da wolksvagen, porém diversos outros automóveis marcaram a vida dos brasileiros daquele período: o Decavê (DKW), o Gordini, o Aero-Willys, o Itamarati, a Kombi e a Rural.
A Rural Willys foi produzida no Brasil por mais de 20 anos e, por suas características, se tornou um dos carros mais desejados pelos brasileiros entre as décadas de 1950 e 1970. Lançada originalmente nos Estados Unidos logo após o final da Segunda Guerra, a Rural passou a ser fabricada no Brasil a partir de 1958 nas versões 4X4 e 4X2. Sua capacidade de enfrentar as estradas brasileiras – que mesmo melhoradas ainda eram bastante precárias – e sua capacidade de transportar tanto pessoas como cargas, foram fatores determinantes para que a Rural caísse no agrado dos brasileiros.
Entre as características visuais que mais chamavam a atenção na Rural estavam as suas linhas retas e a sua tradicional pintura de duas cores (ou a pintura saia e blusa como se dizia na época), variando sempre o branco com o verde, o azul ou o vermelho.
Em 1967 a Willys do Brasil foi comprada pela Ford que, devido a grande aceitação, manteve a produção da Rural até 1976. Com motores a gasolina de seis cilindros, o que tornava a Rural um carro com alto consumo de combustível e em meio a grave crise do petróleo daquela década, a montadora norte-americana optou por encerrar a produção do automóvel no Brasil. Apesar disso, ainda hoje a Rural continua sendo um carro conhecido por todos e não é incomum nos depararmos com o modelo desfilando por nossas ruas com uma vitalidade que parece desafiar ao tempo e aos novos modelos da indústria nacional.
Willys-Overland
Uma das mais tradicionais montadoras norte-americanas, a Willys-Overland viveu sua grande fase na primeira metade do século XX, quando estruturou fábricas em diversos países ocidentais. No Brasil, a Willys instalou-se em São Bernardo do Campo/SP no ano de 1952, produzindo, além da Rural, o Jeep, o Alpine, o Aero-Willys entre outros. Passando por graves dificuldades financeiras, a Willys-Overland do Brasil foi comprada, em 1967, pela Ford que acabou por concretizar o Projeto M, originalmente desenvolvido pela Willys, e que levou a criação do Corcel, um dos automóveis mais populares do Brasil das décadas de 1970 e 1980.
Rural Saci
Um modelo originalmente brasileiro, a Rural Saci foi experimentalmente lançada no Salão do Automóvel de São Paulo, em 1960. Toda a estrutura do carro era a mesma da tradicional Rural: chassi, caixa de câmbio, motor e a parte frontal. A inovação ficou por conta da carroceria conversível. Apesar de inovador, esse automóvel nunca foi produzido em série no Brasil, apenas nos Estados Unidos, onde circulou com o nome de Jeepster, o modelo chegou a ser fabricado e comercializado.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 09 de maio de 2010.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.