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Coluna Fragmentos: O Hospital São Lucas e o Dr. Amadeu Puppi
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
João Gabriel Vieira | 11 de junho de 2023 - 03:34

A história política ponta-grossense é marcada pela presença de um considerável número de médicos que disputaram e ocuparam cargos no executivo e no legislativo local e estadual. Desde o Dr. Abraham Glasser (eleito prefeito na década de 1910) até chegar aos Drs. Zeca (José Carlos Raad), Paschoal Adura e Enoc (Pereira Brizola), que atualmente ocupam cadeiras na Câmara dos Vereadores, a lista é extensa: Bartholomeu Lisboa, Silvio Silva, Ricardo Mussi, Amadeu Puppi, Fulton Borges de Macedo, Cyro Garcia, David Federmann, Michel Namur, etc.
Nascido em Campo Largo, Dr. Amadeu Puppi radicou-se em Ponta Grossa logo após se formar em medicina pela Universidade Federal do Paraná, desenvolvendo intensa atividade no campo da medicina entre as décadas de 1940 e 1980. Na política, ocupou os cargos de vereador (por duas vezes), de deputado estadual (por quatro vezes) e o de prefeito municipal (entre 1975 e 1977). Apesar de deixar seu nome gravado na política local, sua principal contribuição à Ponta Grossa foi a construção de uma importante casa hospitalar que funcionou por mais de três décadas na cidade.
Em 1954, associado aos Drs. Nadir Silveira e David Federmann, Dr. Puppi inaugurou o São Lucas, hospital que, além da clínica geral, possuía atendimento cirúrgico, maternidade e ala psiquiátrica. Contando inicialmente com, aproximadamente, 100 leitos e com um bem equipado centro cirúrgico, o Hospital rapidamente tornou-se uma referência no atendimento da população ponta-grossense e também dos Campos Gerais.
Na década de 1970, período em que os problemas de saúde pública ainda não eram tão evidentes como nos dias atuais, o São Lucas passou por uma ampla reestruturação, ampliando e modernizando seu centro cirúrgico, aumentando o número de consultórios e criando sua primeira Unidade de Terapia Intensiva.
O crescimento do Hospital correspondeu, ao mesmo tempo, a um aumento do prestígio político de seus sócios. Entre os anos 1960 e 1970, tanto o Dr. Puppi quanto o Dr. Federmann exerceram um importante papel na vida política estadual, chegando, como deputados estaduais, a ocupar cargos diretivos na Assembléia Legislativa do Paraná.
Ao contrário desse período, a década de 1980 trouxe uma série de graves problemas para todos os hospitais brasileiros. A inflação galopante (herança do fracassado modelo econômico adotado nos anos 70), os constantes atrasos do Governo Federal no repasse de verbas e pagamentos aos hospitais de todo o país e, por fim, a municipalização da saúde, decretaram o início da crise generalizada do sistema de saúde pública no Brasil. No ano de 1990 o Hospital São Lucas fechou suas portas. Sua estrutura física, adquirida pelo município, foi transformada em Pronto Socorro Municipal, o mesmo que atende a população ponta-grossense até os dias atuais.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 23 de agosto de 2009.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.