Fiação aérea afeta paisagem e segurança em Ponta Grossa
Medo de curtos, poluição visual e desgaste de cabos reforçam debate sobre manutenção e ordenamento
Publicado: 22/11/2025, 18:44

De todas as vias e avenidas iluminadas de Ponta Grossa, as únicas que dispensam da necessidade de fios aéreos são a avenida Doutor Vicente Machado, e as ruas Balduíno Taques, Coronel Cláudio e Fernandes Pinheiro, onde fica o “Calçadão”, cuja fiação subterrânea foi implementada no terceiro mandato (2009-2012) de Pedro Wosgrau Filho (PSDB).
Desde então, o último projeto pensado para a realocação dos fios aéreos para o subsolo foi na gestão de Marcelo Rangel (PSD), em 2018. À época, o Jornal da Manhã trouxe informações sobre o anúncio do investimento de R$ 12 milhões para a revitalização da avenida Ernesto Vilela. “As obras, ainda sem data definida para o início, irão contemplar modernização viária, implantação de cabeamento subterrâneo e iluminação com lâmpadas de LED”, diz a publicação do JM. Entretanto, sete anos após a divulgação da obra, a implantação de cabeamento subterrâneo não foi realizada.
“Seja em Ponta Grossa, ou qualquer outra cidade, a fiação aérea modela diretamente a paisagem urbana”, diz Henrique Zulian, arquiteto e urbanista, ao ser questionado sobre o impacto deste tipo de fiação na qualidade do espaço público e experiência do morador ponta-grossense. “A poluição visual é intensa, compete com edificações antigas, gera ruído e dá uma sensação de desorganização. A qualidade estética do espaço urbano é seriamente afetada, parecendo menos seguro, cuidado, moderno e limpo", diz.
O problema da fiação aérea não é somente visual, e, durante a produção da reportagem, moradores contaram à Redação sobre situações incômodas e frequentes. Entre as demandas compartilhadas por populares, está o medo de quedas e desgaste dos fios durante períodos de chuva, principalmente em áreas próximas de árvores, que colidem contra os fios com a força dos ventos, bem como o furto dos cabeamentos ou curtos-circuitos devido ao emaranhado em frente às residências.
Zulian aponta que este problema expõe um risco à segurança da população. “Em imóveis com árvores nas proximidades, é preciso realizar podas que, muitas vezes, fragilizam seus galhos para que ela não atrapalhe a fiação, entretanto, isto a torna mais frágil. Casas com janelas e varandas voltadas a estas fiações são desvalorizadas, além da pouca visibilidade, existem riscos à segurança com fios soltos, cabos caídos e transformadores volumosos e barulhentos”, opina o arquiteto.
FISCALIZAÇÃO - Ainda que as ruas em que o modelo de fiação subterrânea sejam localizadas na região central da cidade, é preciso otimizar e mitigar estes problemas, conforme opinião de Fabiano Gravena, diretor de Urbanismo da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg). “É uma obra de grande porte, então, acredito que poderia iniciar nas regiões centrais, onde o passeio muitas vezes é mais estreito, e toda a população frequenta, por ser um aglomerado comercial”, diz.
Nos bairros, a fiscalização sobre os perigos da fiação desgastada precisa ser mais eficaz, opina Gravena. “Pode e deve haver, por parte do poder público, uma fiscalização à parte, promovendo uma limpeza, adequação e manutenção desta rede. Por exemplo, substituir um número de fios por apenas um cabo. Além disso, é preciso rever a localização dos postes. Muitos estão rente ao meio-fio, e são mais suscetíveis a causar acidentes de ônibus e caminhões. Estas alterações podem ser feitas por um custo não tão elevado quanto a implantação de fios subterrâneos”, expressa o diretor de Urbanismo.
DESENVOLVIMENTO - Para o setor imobiliário, estas propostas são atrativas aos moradores. Carlos Tavarnaro, vice-presidente do Sindicato da Habitação e Condomínios (Secovi), concorda que as ações de melhorias na qualidade da fiação da cidade devem iniciar pela região central. “Precisamos priorizar as avenidas de maior fluxo de pessoas e veículos, para, em seguida, passar para outras regiões descentralizadas. A implantação de cabeamento subterrâneo traria um impacto muito positivo, se tratando de poluição visual, facilidade de manutenção e menor risco de incidentes”, diz Tavarnaro, que salienta também a relevância estética deste tipo de infraestrutura. “A visibilidade dos imóveis melhora bastante com o cabeamento subterrâneo, e o aspecto do local em geral, também. Isto é perceptível quando comparada a fiação aérea com locais em que este aterramento já foi feito”.
A reportagem também buscou entender a opinião analítica deste tipo de obra com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) no município. Luiz Gustavo Barbur, inspetor do órgão, aponta que este tipo de obra deve partir da decisão do gestor público ao verificar a demanda por parte da sociedade. “Os custos envolvidos são grandes: abrir valetas, fazer as contenções necessárias, recompor pavimento, calçadas, interrupção de trânsito. Além disso, no modelo subterrâneo, as normativas de segurança ficam mais rigorosas, pois os cabeamentos de alta e baixa tensão, junto aos de telecomunicações, teriam um espaço mais reduzido de distância”, explica.
O inspetor do Crea reforça que, na fiação aérea, se entende que há uma certa distância entre os fios, entretanto, a exemplo da formação de emaranhados e quedas de galhos de árvores nos cabos, passam a se tornar problemas aos moradores. “Especialmente no que se trata da arborização das vias, uma vez que inúmeras interrupções de fornecimento se dão por conta deste tipo de conflito”.
PRIORIDADE DE OBRAS - Procurada pela equipe de Jornalismo do Portal aRede/Jornal da Manhã, a Prefeitura Municipal de Ponta Grossa reconhece que a obra seria “uma opção importante do ponto de vista urbanístico, geradora de efeitos positivos quanto à manutenção e qualidade da paisagem urbana”. Entretanto, o Poder Executivo não considera a realização deste tipo de projeto como uma alternativa viável ao município neste momento. “Queremos garantir pavimentação na casa de todos os ponta-grossenses, entregando à população uma infraestrutura que se sobrepõe aos potenciais benefícios de uma rede subterrânea de cabos”, explica.
Os pontos positivos e desafios da implantação deste tipo de obra são avaliados por especialistas do planejamento urbano na cidade, que, além de tudo, são moradores de Ponta Grossa. O desafio principal da fiação subterrânea é, sem dúvida, o custo do projeto, além da necessidade de construir um cronograma para as obras e revisar normativas com as concessionárias. Porém, ficam destacados os ganhos para o município com início ao reforço da fiscalização das fiações aéreas, como a retirada de excessos, emaranhados e cabos cortados, o que garante mais segurança aos ponta-grossenses e projeta a cidade para um desenvolvimento mais moderno e sustentável.
Outras cidades do Brasil, a exemplo de Guarujá (SP), Ouro Preto (MG), Gramado (RS) e Lages (SC), inovam ao trazer legislações e normativas que focam em promover esta mudança em infraestrutura que passam das áreas centrais da cidade, buscando alcançar, também, regiões turísticas e áreas descentralizadas. Guarujá, em novembro deste ano, estenderá a mudança por toda a cidade, incluindo fios de energia elétrica, telefonia, internet, TV a cabo e fibra óptica.






























