A força do Agro
Região tem colheita recorde de soja com 2,28 milhões de toneladas
Produção foi alcançada na safra 2022/23 nos municípios da região dos Campos Gerais, com um valor que correspondeu a mais de 10% do total estadual. Valor foi obtido após um rendimento recorde, na casa de 4,13 mil quilos por hectare
Fernando Rogala | 15 de dezembro de 2023 - 01:35
Os municípios da região dos Campos Gerais consolidaram, nesta safra 2022/2023, a maior colheita de soja da história. Esse valor foi alcançado após um ciclo com rendimento médio por hectare recorde, superior a 4,1 mil quilos por hectare na primeira safra. No total, 2,28 milhões de toneladas de soja foram retirados dos campos nos 18 municípios do núcleo regional do Departamento de Economia Rural (Deral) de Ponta Grossa, vinculado à Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento, somando a primeira e a segunda safra do grão. Em âmbito estadual, o Paraná teve a maior safra de soja de sua história, com 22,4 milhões de toneladas retiradas dos campos nas duas safras.
Números revelados pelo Deral apontam que mesmo a área plantada de soja sendo a menor dos últimos seis anos, de 541,2 mil hectares na primeira safra 2022/23 (na safra 2017/18, por exemplo, o total ocupado chegou a 573,4 mil hectares), e que chegou a 557,5 mil hectares, somando as duas safras, a produção foi de 2,235 milhões de toneladas na 1ª safra e de 48,5 mil toneladas na segunda. Isso fez com que a produção total alcançasse um valor superior aos 2,27 milhões de toneladas da safra 2019/20, que até então detinha o recorde da região. Os 2,28 milhões de toneladas da região representam 10,15% de toda a produção de soja paranaense, que somou 22,48 milhões de toneladas no total.
Diante de uma área menor plantada, a alta produção foi resultado de um rendimento médio por hectare alto, de 4.131 quilos por hectare. É apenas a segunda vez na história que a regional alcança uma média superior aos 4 mil quilos por hectare – o recorde anterior era da safra 2019/20, quando chegou aos 4.038. A média regional ficou acima da média paranaense, de 3.869 quilos por hectare, tendo o terceiro melhor desempenho entre as 21 regionais paranaenses. Em produção total, a regional de Ponta Grossa teve o segundo maior valor, apenas atrás de Campo Mourão, onde mais de 700 mil hectares foram ocupados com soja, e onde foram colhidos 2,9 milhões de toneladas.
“Realmente foi um ano considerado muito bom para a soja”, relembra Luiz Alberto Vantroba, economista do núcleo regional do Deral. De acordo com ele, o fator fundamental foi o clima, que contribuiu bastante entre novembro e abril. Soma-se a isso, outros fatores pelos quais os municípios da região já são tradicionalmente reconhecidos. “Aí entra toda a tecnologia, uso de sementes, assistência técnica, o manejo, enfim, tudo contribuiu, junto com o clima”, completa.
COOPERATIVISMO - Além disso, a forte presença das cooperativas agroindustriais contribui para que essa média suba ano a ano. “A média das cooperativas fica acima da média da 'Seab', onde entram outros produtores e a média geral cai um pouco. As cooperativas são organizações que seguem à risca todas as recomendações técnicas, e com isso, conseguem obter melhores produtividades”, avalia o economista.
Rentabilidade foi abaixo do esperado
Apesar do grande volume produzido, a safra não foi como esperado, em termos financeiros, para os produtores, como explica o produtor rural, diretor de agronegócio da Acipg e representante da FAEP, Edilson Gorte. Isso ocorre por uma queda no valor da comercialização do grão, que baixou de R$ 173 a saca, no balcão, em média, em meados de abril de 2022, para R$ 137 a saca, no mesmo período em 2023, em queda que passou de 20%. “Em termos de produção, realmente, ninguém pode se queixar. Mas o que não agradou foi o preço. Houve o alto custo do ano anterior, e daí houve a queda nos preços. O ganho aconteceu, mas não alcançamos o que a gente desejava”, explicou ele, que plantou 730 hectares e colheu 168 sacas por alqueire.
Produtividade sobe e milho registra maior rendimento médio da história
A exemplo do que aconteceu com a soja, o milho também alcançou um rendimento recorde. Em uma área total de 78,5 mil hectares preenchida com o milho na primeira safra, foi obtido uma média de 11,6 mil quilos por hectare, resultando em uma produção total de 915,4 mil toneladas. A produtividade média foi 7,34% superior ao rendimento de 10,8 mil quilos por hectare obtido na safra 2019/20, quando foi registrado o recorde anterior. Em apenas três vezes, desde a safra 2010/2011, o rendimento médio da primeira safra chegou na casa dos 10 mil quilos por hectare.
De acordo com Vantroba, o bom rendimento do milho foi reflexo da mesma tendência observada na produção de soja: além das tecnologias avançadas de plantio, o clima favorável foi um fator preponderante para o rendimento médio mais alto.
Na segunda safra de milho, 32,1 mil hectares foram preenchidos com esse cultivar, um valor recorde, que também resultou na maior produção da história da região na segunda safra: 187,1 mil toneladas, após um rendimento médio de 5,8 mil quilos por hectare. Somadas as duas safras desse ciclo 2022/23, o total colhido nos Campos Gerais foi de 1,07 milhão de toneladas. Trata-se do maior valor colhido na região nos últimos seis anos.
Campos Gerais é a segunda região que mais produz feijão no Paraná
Ao contrário das safras de soja e milho, a do feijão não obteve um bom rendimento. Somadas as duas safras, a região teve a segunda menor produção desde a safra 2010 /2011. A primeira safra (antigamente chamada de ‘feijão das águas’) obteve um rendimento quase próximo ao inicialmente esperado, na casa de 1,9 mil quilos por hectare, mas como foi plantado na menor área desde 2010, em apenas 24,3 mil hectares, o total produzido foi de 46,4 mil toneladas.
Já a segunda safra foi plantada em uma área dentro da média dos anos anteriores, de 49,7 mil hectares, mas o clima não contribuiu e o rendimento por hectare foi abaixo do esperado. Com 1.477 quilos retirados por hectare, a média foi quase 30% inferior à registrada na safra anterior, que foi de 2.093 quilos por hectare. No total, 119,9 mil toneladas foram retiradas dos campos da região, valor 17% inferior às 144,5 mil toneladas da safra anterior, e apenas maior que os 109,8 mil registrados na safra 2020/21.
O feijão sofreu, primeiro, com o excesso de chuvas, e depois com uma estiagem, como recorda Vantroba. “O problema foi o clima. Por último, teve estiagem na fase reprodutiva da planta, que prejudicou o desenvolvimento da cultura”, detalha, lembrando que a fase reprodutiva compreende os momentos mais sensíveis da cultura, que vão desde a pré-floração até a maturação. Ainda assim, a produção da região foi a segunda maior do Paraná, com uma participação de 17,6% do total estadual (681,1 mil toneladas).