A força do Agro
Campos Gerais consolida liderança estadual na safra de inverno
Com destaque para o trigo e cevada, municípios da região colheram um total de 729,3 mil toneladas nessa safra de inverno. Regional de Ponta Grossa é a maior produtora de trigo do Paraná, e a segunda maior produtora de cevada
Fernando Rogala | 15 de dezembro de 2023 - 02:20
O excesso de chuvas no mês de outubro de 2023 trouxe grandes impactos na produção de inverno na região dos Campos Gerais e em todo o Paraná, causando uma redução no rendimento por hectare e no total produzido. Entretanto, apesar disso, a região manteve-se como a líder estadual na produção de trigo, além de contar com a melhor produtividade do cultivar entre todas as regionais paranaenses nessa safra de 2023.
Somadas as produções dos principais cultivos de inverno (aveia branca, aveia preta, centeio, cevada, trigo e triticale), a região colheu um total de 729,3 mil toneladas, o maior valor entre todas as regionais paranaenses. Os números constam no balanço divulgado no final do mês de novembro pelo Departamento de Economia Rural (Deral), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento (SEAB).
No trigo, nos 18 municípios do núcleo regional do Deral em Ponta Grossa, o total colhido foi de 536,1 mil toneladas, valor que confirmou uma quebra superior a 100 mil toneladas, em relação às cerca de 670 mil toneladas que eram esperadas para a região. A produtividade, inicialmente estimada em 4 mil quilos por hectare, baixou para menos de 3,2 mil quilos por hectare. Na cevada, segundo principal cultivar na região, a quebra foi bastante parecida. E isso sem falar na queda na qualidade desses produtos.
“É uma safra para ser esquecida. Foi muito frustrante para os produtores: ninguém esperava esse volume de chuva”, resume o economista do núcleo regional do Deral em Ponta Grossa, Luiz Alberto Vantroba. Ele explica que a média de chuva nos municípios, no acumulado do mês, foi de 407 milímetros, variado de 291 milímetros em Arapoti a 535 milímetros em Imbaú. Em Ponta Grossa, onde a média do mês é de 150 milímetros, choveu um acumulado de 431,7 mm, ou seja, quase o triplo do ‘padrão’.
Na Fazenda Campina do Tigre, por exemplo, em Teixeira Soares, o medidor pluviométrico indicou 332 milímetros de chuva em cinco dias, entre 26 e 30 de outubro. Somando com outros 196 milímetros acumulano mês, foram mais de 530 milímetros registrados em 18 dias chuvosos. O empresário rural da fazenda, Marcio Krzyuy, explica que ele conseguiu ‘acelerar’ a colheita e retirar os 170 hectares plantados até o dia 24, ainda sem ter as condições ideais. “Com a chuvarada, não conseguimos colher antes. Começamos a colher com umidade em 28%, sendo que o ideal é 14%; começamos com mais umidade para conseguir ‘vencer’. E em três dias concluímos a colheita”, explicou.
UMIDADE Esse excesso de umidade foi crucial para as perdas no trigo, especialmente porque a chuva caiu no momento mais sensível, o da maturação e colheita. “Essa chuva coincidiu com a maior parte do trigo e da cevada estando em fase de maturação, próximo da colheita. Começou a chover e não parou mais, e o resultado foi a queda na produtividade e na qualidade”, reitera Vantroba. Assim, segundo ele, a redução na produção foi de 20%, enquanto que a queda na qualidade alcançou 35% do total colhido. “Só tinha colhido Arapoti, Tibagi e Ventania, que ficam mais ao Norte e colheram antes. Nesses locais, escapou alguma coisa, porque um percentual maior colheu”, informa o especialista.
O resultado é que, entre o final de outubro e o começo de novembro, quando as chuvas pararam, no campo foram observados muitos casos de grão germinando na espiga, por não ter conseguido colher no tempo certo e registrar muita umidade. “Nesse caso, foi perda total. Então vários pediram cobertura do seguro, mas nem todos fazem”, relata. O percentual do trigo de qualidade mais baixa não pode ser destinado para a panificação, e assim, tem outra destinação. “Com isso, o preço pago aos produtores cai para menos da metade. Se o trigo de boa qualidade está R$ 69 a saca de 60 quilos, o de baixa qualidade cai na faixa de R$ 25 a saca”, completa.
Região produziu 15% do trigo estadual
No Paraná, a produção total esperada de trigo para a safra 2023 era na casa de 4,5 milhões de toneladas. No final, porém, o resultado paranaense foi de 3,65 milhões de toneladas, resultante de uma produtividade média de 2.587 quilos por hectare. Isso significa que a região foi responsável por 15% da produção estadual de trigo neste ano, contra 11% da segunda maior região produtora, a de Cascavel, que alcançou 401 mil toneladas colhidas. Em termos de produtividade, o segundo melhor rendimento foi da região de Campo Mourão, na casa de 2,9 mil quilos por hectare.
Produção de cevada alcançou o montante de 105,9 mil toneladas
A exemplo do que aconteceu com o trigo, por ter uma janela de cultivo semelhante, a cevada também teve uma quebra na safra e um alto índice na perda de qualidade na produção, explica o economista do Deral. Em uma área plantada de 31,5 mil hectares, a expectativa era uma colheita de 132,5 mil toneladas de cevada, mas o montante obtido foi de 105,9 mil toneladas, ou seja, 20% a menos do esperado. A produtividade média esperada era de 4,2 mil quilos por hectare, valor que caiu para 3,4 mil quilos por hectare. No final das contas, a região teve a segunda maior colheita do Estado, atrás apenas das 133,9 mil toneladas retiradas da região de Guarapuava
Quem colheu depois das chuvas, enfrentou problemas com a qualidade do grão: mais de um terço da cevada colhida não poderá ser destinada para a indústria cervejeira, para a produção de malte. “Tudo estava indo bem, tanto que em Arapoti colheram a cevada com qualidade boa. Aí veio a chuva e acabou com tudo. E os produtores sentiram, porque é um investimento que fazem, plantam, se dedicam, e têm a expectativa do lucro. Hoje tem muita cevada nas empresas para ser definido a qualidade, mas até agora, pelo que se viu, 37% da produção não atingiu o padrão e vai ser destinada a outros usos. Será um baque para a indústria cervejeira”, explica Vantroba.
Nos outros cultivares de inverno, o rendimento foi bom, como é o caso da aveia branca. No total, 47,3 mil toneladas foram colhidas, com um rendimento de médio 2,48 mil quilos por hectare – maior do que o dos dois anos anteriores. “Foi quase dentro do normal, porque ela é plantada antes do trigo e colhida antes”, lembra Vantroba. Já o rendimento da aveia preta, utilizada para cobertura de solo e fazer semente para a próxima safra, foi de 1.422 quilos por hectare, a maior média desde a safra 2016, resultando em uma produção total de 30,9 mil toneladas.
Perdas são estimadas em R$ 2,5 bi no Paraná
A Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, por meio do Deral, estima que as perdas financeiras na agricultura provocadas pelas chuvas torrenciais, temperaturas altas e fortes ventos relacionados ao fenômeno El Niño chegam a um valor preliminar de R$ 2,5 bilhões. Ele se deve à perda estimada de 1,5 milhão de toneladas em relação às projeções iniciais.
Os prejuízos maiores foram observados nas regiões Sul e Sudoeste, embora todas tenham sido atingidas. O maior prejuízo coube aos triticultores do Estado, que estavam colhendo a safra 2022/23.A produção recuou praticamente 980 mil toneladas em relação ao potencial. Com as doenças no período anterior às chuvas e, posteriormente, em razão dessas, a produção caiu para 3,6 milhões de toneladas.
A qualidade também decaiu, gerando, ao menos, 420 mil toneladas de trigo que serão destinadas a ração. Considerando os fatores quantidade e qualidade, as perdas dessa cultura se aproximam de R$ 1 bilhão. Em outras culturas de inverno, especialmente a cevada, também houve redução - nessa, os prejuízos podem somar R$ 200 milhões no Estado.