'Quarto zero'; pacientes detalham local onde eram mantidas algemadas em clínica de Antonina; confira relatos
A denúncia envolvendo a clínica de reabilitação ganhou repercussão na semana passada, quando cinco mulheres foram resgatadas pela Polícia Civil
Publicado: 31/03/2025, 17:48

O local foi alvo de operações durante a semana, e pelo menos 15 mulheres foram resgatadas. Dois responsáveis pela clínica foram presos, mas mesmo com o pedido do Ministério Público do Paraná (MP-PR) para que continuassem detidos, o gerente e o sócio administrador da clínica foram soltos.
Conforme o relato das vítimas, todas tinham medo de ir para o tal “quarto zero”. Elas contam ser um quarto sem janela, sem porta, sem nada. Naquele local, as pacientes tinham que fazer as necessidades em um balde e se gritassem ou chorassem, eram algemadas, tanto os pés, quanto as mãos.
Uma das vítimas, quando perguntado como era o tratamento, respondeu que “era uma tortura porque se reclamasse de dor ou crise de ansiedade, eles trancariam as internas na casa e diriam ‘dorme que amanhã passa e não enche o saco!’”.
A jovem, levada pela mãe para a clínica, disse também que quando chorava por crise de ansiedade, eles falavam que “se cair mais uma lágrima do seu olho, em vez de ficar três meses, você vai ficar seis”.
Ela contou ainda que uma vez tirou o ombro do lugar e estava com muita dor, então o funcionário gritou com ela e falou que “se ela enchesse o saco dele mais uma vez por dor, ele iria trancar a depoente no zero”.
A clínica se apresentava como centro terapêutico para tratar doenças psicológicas. Apesar disso, as pacientes não podiam contar o que acontecia por lá aos familiares. “Quando liga para a família, não pode contar o que acontece, se não eles cortam a ligação. Eles ficavam vigiando as ligações”, disse outra paciente.
Outra jovem contou que foi para o quarto zero duas vezes. Ela detalhou sobre os motivos que a levaram ao castigo e uma delas foi porque já tinha concluído o trabalho de limpeza.
“A outra vez foi porque foi tomar um café na cozinha, que no quarto zero não tem banheiro; que já viu muitas meninas ficaram ali, sendo algemadas e amarradas”, conta a jovem no depoimento.
Pacientes arrependidas - Outra mulher, que foi para clínica de forma voluntária por dependência de álcool, disse que o filho sabia que ela estava lá, mas não imaginava o que acontecia na clínica. Ela disse que não queria mais ficar. Veja quem eram as pacientes no Portal aRede - clique aqui.
“Uma vez uma interna comeu um pedaço de laranja e foi penalizada por isso, sendo colocada o quarto zero só por isso”, conta a mulher.
Ela contou também que “acredita baterem na mudinha porque ela não podia falar”.
Já outra paciente, internada há quatro meses, disse que para ser levada até a clínica colocaram algemas nas mãos, nos pés e aplicaram-lhe um mata-leão até desmaiar.
Ela disse que nunca foi ao quarto zero, mas já foi ameaçada de ir para lá. Segundo ela, ”nesse quarto, as meninas ficam trancadas e às vezes elas saem para ir ao banheiro quando pedem, mas muitas vezes urinam e defecam no local e se limpam com os lençóis porque falta papel higiênico”.
Uma dentista, moradora de Curitiba, também disse que se arrependeu de ter ido para a clínica. Mas teve medo de falar isso para a família.
“No dia que chegou na clínica pediu para ligar para a mãe, não deixaram, então discutiu e acabou sendo colocada no quarto zero, que isso aconteceu no dia em que entrou. Manifestou o interesse em sair, mas ficou com medo de falar para a família porque eles ficam vigiando durante as conversas ao telefone”, diz o depoimento.
Com informações de Banda B, parceira do Portal aRede.