Filha de prefeita e estudante de medicina; jovem era uma das pacientes presas em clínica de Antonina
No “quarto zero”, a jovem disse ficar de um a três dias e que não sabia o motivo de estar na clínica, onde recebia tratamento "infernal"
Publicado: 31/03/2025, 17:25

Estudante de medicina em universidade particular e filha de prefeita do interior do Paraná. Essa era uma das pacientes internadas na clínica de reabilitação de Antonina, no litoral do Paraná. Do local, foram resgatadas 15 mulheres em situação de cárcere privado, na semana passada. Os dois responsáveis pelo local chegaram a ser presos, mas foram soltos.
As vítimas contaram sobre um espaço chamado “quarto zero”, que todas tinham medo de ir. E pelo menos três pacientes mencionaram o nome da estudante de medicina, que já tinha sido levada ao castigo algumas vezes.
Segundo os relatos das pacientes, a jovem foi colocada no quarto zero “porque era rebelde”. No local, “eles colocavam cadeado e não sabia que as meninas eram algemadas ali dentro”.
Outra mulher contou que a filha da prefeita estava presa no quarto zero quando a polícia chegou, e foi aí que soltaram a jovem.
“Perguntado se era comum a jovem ficar ali, respondeu que ela ficou um dia, depois dois dias, que ela ficava trancada lá e para fazer as necessidades era no balde; que eles levavam um prato de comida para ela e depois trancavam ela de volta; que perguntado se davam água, respondeu que ela começava a gritar e aí eles levavam”, diz o depoimento de uma as pacientes que citou a estudante de medicina.
Relato da filha da prefeita - A jovem, que é filha da prefeita de uma cidade do interior do Paraná, contou que foi levada para a clínica na quinta-feira de Carnaval. Disse estar em um bloco com o namorado, que tem conflitos com a mãe. Ela disse que foi vítima de uma emboscada para ser levada à clínica.
“A avó ia dar dinheiro para ir para o Rio de Janeiro, queria mudar para lá; que ligou para o irmão e perguntou se podia pegar as coisas dela e ele disse que sim; que quando chegou, tinha gente para tudo que era lado segurando e agredindo a depoente; que uma mulher que estava lá segurou e a depoente deu um soco nela; que quando entrou no veículo, estava tentando quebrar o vidro porque queria sair”, conta a jovem estudante de medicina e filha de prefeita.

Durante o trajeto até a clínica em Antonina, a jovem disse que um funcionário que estava com ela ofereceu maconha e que ela chegou “chapada”. Ela disse que não queria ficar internada, pois não queria parar com a faculdade.
Como era o tratamento - A jovem estudante de medicina disse que não sabia o motivo de estar na clínica. Ela contou também que o tratamento era infernal porque era injustiçada, era agredida e presa em um quarto que não tinha ventilação e nem a luz do dia.
“Ficava de 1 a 3 dias amarrada e fazia as necessidades em um balde; que perguntado se ficou vários dias no quarto zero, respondeu que sim; que não sabe porque eles davam remédios fortes, eles dopavam; que quando a polícia chegou, estava no quarto zero; que quando subiu, uma das funcionárias falou “fique quietinha, não fale nada”, detalha a jovem.
A paciente deu nome de dois funcionários que agrediram as mulheres e detalhou que alguns deles enforcavam, maltratavam e erguiam a voz.
No “quarto zero”, a jovem disse ficar de um a três dias e era fechado e só colocaram ventilador de “tanto implorar”. Contou que as necessidades fazia no quarto.
“Tinha um balde ali, que limpava com o edredom, que deixaram um papel e absorvente porque está menstruada; que eles pensaram “já que está menstruada, melhor deixar um papel”; que perguntado se eles algemaram respondeu que sim; que não tem marcas, porque amarram ambos os braços e as duas pernas”, conta a filha da prefeita.
Com informações de Banda B, parceira do Portal aRede.