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Coluna MSN: O poeta aos oitenta

Maior poeta lírico contemporâneo do Brasil, o baiano Ruy Espinheira Filho é um autor proustiano, em permanente diálogo com o passado, mas sem jamais renunciar ao presente

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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O poeta completou 80 anos, com reconhecimento mas sem badalações, porque este é um momento de invisibilidade da cultura letrada. Maior poeta lírico contemporâneo do Brasil, o baiano Ruy Espinheira Filho (1942) é um autor proustiano, em permanente diálogo com o passado, mas sem jamais renunciar ao presente. Poeta do “ontem agora”, para usar a expressão cunhada por Helena Kolody, esta tensão se manifesta de maneira magistral em sua mais recente coletânea – “A invenção da poesia” (Record, 2023).

No volume II de “Em busca do tempo perdido”, Marcel Proust cria um pintor ficcional, Elstir, que trabalha com ilusões de ótica, mostrando no mar paisagens da cidade e na cidade, paisagens marítimas. Em suas telas, os espaços e os tempos se misturam. Esta mecânica é o centro do grande romance de Proust, o maior da história da literatura ocidental.

Ruy também usa esta ilusão de perspectiva, fazendo ressurgir como um presente vivo acontecimentos de outrora. Em seus poemas, o que restou como memória não é algo imaterial, mas uma paisagem humana que nunca termina de acontecer em uma realidade subjetiva. Estará eternamente neste agora sem fim. O poeta escreve movido pela “comoção do efêmero”, que pela palavra se torna estável. Só permanece aquilo que acabou mas ainda é real na sensibilidade humana.

Esta duplicidade de tempo também se materializa formalmente nos poemas. Ruy domina as formas fixas, entre elas o famigerado soneto. Mas sua grande contribuição estrutural está na ilusão de perspectiva que ele cria em poemas espraiados em prosa, que lemos como se fossem conversas, crônicas, relatos de memória, e no entanto são linguagens concentradas.

É isto que vemos na última série de poemas, “Anotações sobre almas ilustres”, reflexões a partir do cão Brás Cubas e da cachorra Baleia (personagens da literatura nacional), que dão à prosa, no caso ensaística, um valor de poesia para retratar a alma de animais demasiadamente humanos.

Ruy fez da poesia uma forma de deslocar lugares, tempos, seres, formas literárias, etc., sobrepondo suas manifestações como um elogio da existência que não cabe em uma única dimensão.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt.

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