Coluna Fragmentos: Theodoro de Bona: De Morretes para o mundo

Os quadros, assim como os outros tipos de produções artísticas não se caracterizam apenas por sua função e valor estéticos. Assim como toda produção humana as artes revelam sentimentos, tendências, posicionamento frente a diversas questões, formam identidades, nutrem imaginários e nos dão pistas sobre o contexto em que foram produzidas.

Theodoro de Bona foi um desses artistas, que com maestria, traduziu o seu mundo e as peculiaridades de seu tempo em suas obras. Nascido em Morretes, no ano de 1904, iniciou seu contato com a arte no Colégio Bom Jesus, em Curitiba, quando ainda muito jovem seu professor de desenho o incentivou a seguir a carreira de pintor. Nos próximos anos estudou na Escola de Belas Artes e Indústrias do Paraná, tendo como um de seus mestres Alfred Anderson.

Em 1927, após receber uma bolsa de estudos do governo do Paraná viajou para a Itália, onde ingressou na Real Academia de Belas Artes de Veneza. Durante os dez anos em que permaneceu no país envolveu-se ativamente no movimento artístico italiano participando da Bienalle de 1930-34 e integrando o grupo de Cá Pesaro, formado por jovens artistas que buscavam renovação nas artes. Apesar do contato com a proposta inovadora de alguns movimentos de vanguarda da Europa o professor e pesquisador Erasmo Pilotto concluiu que De Bona se manteve fiel a si mesmo e fugiu ao sombrio, ao expressionismo, desviou do “feio”, buscando o domínio poético, uma poesia doce e viril que incitasse a reflexão.

O artista voltou ao Brasil em 1936 e expôs suas telas em São Paulo e em Curitiba. A esse tempo o país ainda vivia a experiência modernista iniciada na década de 20, entretanto o que se observava era um abismo entre as produções do eixo Rio - São Paulo e as do Paraná, que apesar de contar com excelentes artistas ainda não havia se inserido em um cenário nacional de produção. 

Tal cenário mudou a partir da exposição de Theodoro de Bona, em 1939, no Clube Curitibano. Segundo Luciana Paes este evento foi um marco pois através dele se deu a inserção de uma linguagem moderna paranaense no cenário artístico nacional como um local consciente de suas peculiaridades e contradições.

De Bona também viveu no Rio de Janeiro, cidade que serviu de inspiração para a representação de temas populares e das favelas. A partir de 1939, passou a expor no Salão Nacional de Belas Artes, sendo premiado duas vezes. Por encomenda do Governo do Paraná pinta dois painéis que ainda encontram-se em exposição. O primeiro deles, o painel da Fundação da Cidade de Curitiba, atualmente no Salão Nobre do Colégio Estadual do Paraná, e o segundo o painel da Instalação da Província do Paraná, que se encontra no Palácio Iguaçu.

A partir de 1960, de volta a Curitiba, o artista passou a lecionar desenho artístico e música na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), nesta mesma instituição exerceu o cargo de diretor e de professor catedrático de pintura de nu.

Theodoro que Bona não se limitou apenas as tintas e aos pincéis, publicando em 1982 o livro Curitiba - Pequena Montparnasse. Antes de seu falecimento, em 1990 recebeu o título de Cidadão Honorário de Curitiba e a Comenda Honorífica da Ordem do Mérito da República Italiana, no grau de Cavalieri Officiale.

De Bona figura como um dos grandes nomes da arte brasileira e paranaense, contribuindo através de seu talento e de sua devoção à pintura para a cristalização de cenas, paisagens, pensamentos e sentimentos. Sobre seu amor a arte certa vez afirmou: “A arte pra mim é como uma amante exigente. Sendo assim é necessário sempre estar ao lado dela, e com ela.”

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Alfredo Anderson – um cidadão brasileiro

Mestre de Bona, Anderson nasceu em 1860, na Noruega. Frequentou as academias Reais de Belas Artes de Oslo e de Copenhague. Em 1890 decidiu empreender uma viagem aos “Trópicos”. De volta a Europa soube que sua cidade natal fora destruída por um incêndio e resolveu voltar ao Novo Mundo, chegando em Curitiba em 1902, cidade em que exerceu a profissão de professor de desenho em vários cursos. Adotou a cidadania brasileira e realizou a exposições em todo o país. O artista faleceu em 1935 e sua casa ateliê foi transformada no museu Alfredo Anderson.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 28 de novembro de 2010.

Coluna assinada por Amanda Cieslak Kapp, historiadora e professora da Unibrasil e do Instituto Federal do Paraná/Campus Pinhais.