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Coluna Fragmentos: O Clube Guaíra e os clubes sociais em PG

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Em 27 de fevereiro de 1957 o JM noticiou a eleição de Ary Kffuri para a presidência do Clube Guaíra
Em 27 de fevereiro de 1957 o JM noticiou a eleição de Ary Kffuri para a presidência do Clube Guaíra -

João Gabriel Vieira

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O século XIX representou, para o Brasil, um período de transformações. Foi nesse espaço de tempo que passamos de colônia a Império e, mais tarde, a República. Foi nele também que o país superou formalmente a escravidão, que a ferrovia chegou e provocou mudanças nos sistemas produtivos e de transportes, que as cidades se expandiram e ganharam ares metropolitanos e que um grande contingente de imigrantes vindos, principalmente, da Europa promoveu mudanças étnicas, culturais e sociais em todo o território nacional, em especial nas regiões sul e sudeste.

Foi também nos Oitocentos que um forte discurso “civilizatório” ganhou força no Brasil, fazendo com que o nosso povo adquirisse hábitos e comportamentos até então desconhecidos por aqui. Nesse mesmo contexto surgiram os primeiros clubes sociais brasileiros.

Originariamente ligados a grupos sociais ou étnicos específicos, tais instituições rapidamente ganharam espaços nas cidades brasileiras e atraíram grande número de associados e frequentadores.

No sul do Brasil o aparecimento de clubes sociais foi um fenômeno comum. Os clubes significavam um espaço de organização e de fortalecimento de identidade dos vários grupos étnicos que se fixaram em estados como o Paraná. Tais instituições acabaram por marcar a vida cultural e – muitas vezes – política das sociedades nas quais se implantaram.

Esses clubes geralmente desenvolveram atividades múltiplas: aulas de canto e teatro, práticas desportivas e recreativas, reuniões religiosas, eventos beneficentes, competições, bailes, matinês, festas em datas comemorativas e tradições das etnias que representavam.

Em Ponta Grossa, cidade marcada pela forte presença de imigrantes de diversas etnias, tal tendência se mostrou bastante efetiva desde os primórdios do século XX. Foi assim que o Clube Polonesa, o 13 de Maio, o Syrio Libanês, o Dante Alighieri e o Germânia nasceram a marcaram a história local. Além desses, que representavam diferentes grupos étnicos presentes na cidade, também surgiram outros vinculados aos grupos sociais ou bairros específicos como o Homens do Trabalho, o Democrata, o Pontagrossense, etc.

No caso do Clube Germânia, fundado em Ponta Grossa em 17 de fevereiro de 1896 e que, mais tarde, passou a se denominar Clube Guairá, sua criação expressa o caráter associativo dos alemães radicados em nossa cidade e reforça a perspectiva de que os clubes sociais tiveram importante papel na preservação de práticas sócio-culturais e na organização de grupos específicos no conjunto da sociedade ponta-grossense. Tendo como seu primeiro presidente Henrique Thielen, figura de destaque no processo de desenvolvimento econômico local, já nos seus primórdios o clube investiu na formação de um grupo de canto e outro de teatro, na criação de uma escola para os filhos de alemães e na estruturação de uma biblioteca. A história secular do Germânia\Guaíra foi tema, em 1996, de um livro escrito pela historiadora Aída Mansani Lavalle. Infelizmente, poucos anos após comemorar seu centenário, o Guaíra deixou de existir.

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O nascimento dos clubes sociais

De acordo com historiadores que estudam esse tema, foi na segunda metade do século XVIII que os clubes sociais surgiram. De acordo com o sociólogo inglês Norbert Elias, a criação dos clubes sociais está diretamente ligada a alguns fatores comuns que envolvem seus associados: a disseminação de um ideário político ou de uma manifestação cultural; a valorização e perpetuação de comportamentos sociais; a manutenção das tradições de um determinado país; o auxílio às dificuldades de uma classe específica (como a operária).

O local de origem foi a França no pós Revolução Francesa, sendo o Le Club Politique, fundado em 1782, provavelmente o primeiro clube social da história. No início do século seguinte já era possível encontrar clubes na Inglaterra, na Alemanha e na Áustria. Entre os britânicos destacaram-se, no século XIX, os clubes formados por operários, os quais, além de uma conotação social, também acabaram funcionando como instâncias de organização política daquela classe.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 19 de setembro de 2010.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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