Coluna Fragmentos: Clínica Exclusiva de Crianças
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
Publicado: 29/07/2023, 00:05

Em 1957 o indicador profissional (uma espécie de classificados da época) do Jornal da Manhã contava com anúncio de diversas clínicas médicas existentes em Ponta Grossa. Até o início daquela década, o comum era que predominassem anúncios de clínicos gerais, ou seja, médicos que atendiam casos de diversas naturezas sem que, necessariamente, fossem especialistas em algum campo específico da medicina.
Em todo o mundo, a década de 1950 se caracterizou como um momento de grandes e importantes mudanças para a medicina. O aparecimento e popularização de novos métodos, tratamentos, aparelhos e medicamentos, somados ao avanço das técnicas cirúrgicas e a especialização dos profissionais que atuavam na área deram o tom naqueles meados de século.
Inegavelmente, o avanço das especializações decorrente dos avanços técnico-científicos experimentados pela medicina, contribuiu para um maior conhecimento sobre o funcionamento do corpo humano e também para um melhor o enfrentamento das doenças. Ao mesmo tempo, pode-se dizer que as especializações tornaram as relações entre médicos e pacientes mais impessoais. No dizer do historiador inglês Roy Porter, ao se fazer mais “científica” a medicina deixou de ouvir os pacientes e passou a escutar as enfermidades.
Em Ponta Grossa, cidade que desde os primeiros anos do século XX passou a contar com hospitais (26 de Outubro e Santa Casa) e com um considerável número de médicos, tais mudanças também foram observadas. A partir dos anos 50 que a cidade viu crescer o número de especialistas que atendiam a população local. Assim, o médico “faz tudo” (denominação popular aplicada aos clínicos gerais) foi perdendo espaço, por exemplo, para o “médico de senhoras” ou para o “médico de crianças”.
Foi assim que, através dos jornais, profissionais como a dra. Olga Fachin (primeira mulher a atuar como médica em Ponta Grossa) passou a oferecer seus serviços no atendimento de “doenças de senhoras e crianças”, que o dr. Lauro Justus se apresentou como “especialista em partos e moléstias de senhoras” e que os drs. Milton Lopes e Isaak Schilklaper abriram uma “clínica exclusiva para crianças”.
Nesse contexto, a Associação Médica de Ponta Grossa cumpriu papel decisivo, promovendo jornadas, conferências e cursos, com o intuito de estimular a especialização dos profissionais da medicina que atuavam na cidade.
Tais caminhos seguidos pela medicina não levaram a extinção dos clínicos gerais, pelo contrário, esses profissionais continuam a atuar até os nossos dias e cumprem um importante papel no campo da saúde contribuindo, por exemplo, nas cidades que adotam o Programa Saúde da Família. No entanto, a tendência de especialização dos profissionais da medicina tornou-se dominante e seria impensável para as sociedades atuais não contar com tais profissionais para o atendimento de suas enfermidades.
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Cursos e palestras
Desde sua criação, em 1951, a Associação Médica de Ponta Grossa promoveu reuniões científicas entre os profissionais que atuavam na cidade com o objetivo de fomentar a troca de experiências e de qualificar os médicos locais. Em março de 1952 a Associação realizou um grande encontro que ocorreu o salão nobre da Santa Casa de Misericórdia e no qual diversos médicos locais foram convidados para discorrer sobre temas específicos. Por exemplo: nessa reunião coube ao dr. Dino Colli fazer uma preleção sobre enfermidades reumáticas e ao dr. Nadir Silveira falar a respeito da doença de Kienbock e a necrose óssea.
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Dra. Olga Fachin
Até a década de 1950, a medicina foi uma prática exercida exclusivamente por homens em Ponta Grossa. Esse quadro começou a mudar em 1953, ano em que a dra. Olga Thomé Fachin passou a clinicar na cidade. Preocupada com questões relativas ao planejamento familiar e ao controle da natalidade, dra. Olga cumpriu importante papel participando, entre outras coisas, das discussões que levaram a criação da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Ponta Grossa (1957).
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 12 de setembro de 2010.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.