Coluna Fragmentos: O Projeto Rondon e a integração nacional | aRede
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Coluna Fragmentos: O Projeto Rondon e a integração nacional

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

O envolvimento de acadêmicos e professores da UEPG em ações do Projeto Rondon foi destaque no JM em 16 de julho de 1975
O envolvimento de acadêmicos e professores da UEPG em ações do Projeto Rondon foi destaque no JM em 16 de julho de 1975 -

João Gabriel Vieira

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Nascido no Mato Grosso no ano de 1865, o Marechal Cândido Mariano Rondon se tornou uma das figuras mais populares do Brasil ao longo do século XX.

Positivista convicto, Rondon dedicou grande parte de sua vida militar ao conhecimento do território nacional e ao contato com os grupos indígenas que viviam isolados no interior brasileiro. O Marechal acreditava ser  necessário conhecer e integrar as regiões interioranas e, principalmente, “civilizar” os povos “primitivos” que ali viviam.

A questão da integração nacional é uma discussão encontrada desde a chegada dos europeus no século XVI. Durante os três séculos coloniais não foram poucas as expedições oficiais e/ou particulares (entradas e bandeiras) que se embrenharam pelo interior brasileiro em busca de riquezas naturais, da abertura de novas áreas produtivas e do aprisionamento de indígenas para o trabalho escravo.

No século XIX, quando o Brasil já havia se libertado de Portugal, foi muito grande o número de expedições – várias delas financiadas pelo governo imperial – que percorreram o território brasileiro. Entre essas o destaque fica por conta daquelas que foram organizadas por naturalistas, geógrafos, cientistas e artistas europeus, como, por exemplo, as comandadas por Auguste de Saint-Hilaire, Alex von Humboldt, Georg von Langsdorff, Johann von Spix e Carl von Marthius. O principal objetivo continuava sendo o de conhecer o interior brasileiro e as populações que viviam isoladas nesse espaço.

Devido a extensão e riqueza territorial e a diversidade sociocultural das populações que nele habitavam, muitas expedições foram realizadas em pleno século XX, com destaque para aquelas que se voltaram ao sanitarismo, como as comandadas por Oswaldo Cruz, Belisário Penna e Arthur Neiva.

O século XX iniciou, no Brasil, trazendo consigo uma série de discussões e de questões a resolver. O que era o povo brasileiro? Como se enquadrar ao modelo civilizatório europeu? Qual matriz cultural seguir, valorizar ou negar? Até que ponto a mestiçagem prejudicava a formação da nação? O que fazer para combater as doenças e epidemias que assolavam o Brasil?

Esses questionamentos, comuns à uma época em que o mundo todo falava em eugenia, higienização social e supremacia racial, revelam os vários preconceitos que estiveram presentes na formação contemporânea do Brasil e indicam porque as expedições em direção ao interior do país continuavam existindo.

Várias décadas depois, a necessidade de integração e de conhecimento mais aprofundado das populações interioranas fez com que os governos militares criassem e desenvolvessem um programa voltado para esses fins.

Assim, em 1966, num momento histórico em que os princípios de “segurança nacional”, soberania territorial, controle social e contenção ideológica eram fartamente defendidos pelos militares que ocupavam o poder, nasceu o Projeto Rondon.

Sua justificativa (ou missão) era a de fazer com que universitários de todo país conhecessem e interferissem na realidade nacional a partir do contato com as comunidades espalhadas pelo interior brasileiro.

As primeiras ações efetivas do Projeto aconteceram em 1967, quando um grupo de universitários cariocas foi levado até Rondônia, onde realizaram levantamentos socioeconômicos, prestaram assistência médica e desenvolveram ações no campo da educação e do sanitarismo.

Entre 1967 e 1989, período em que funcionou de maneira bastante intensa calcula-se que mais de 350 mil universitários fizeram parte do Projeto, atuando, sobretudo, nas regiões norte e centro-oeste, e promovendo um importante trabalho no sentido de conhecer e integrar as populações interioranas brasileiras. Ao mesmo tempo, os militares se aproveitaram das informações produzidas pelos universitários e as utilizaram para evitar ou minimizar possíveis ações contrárias ao regime.

Em 1989 o Projeto Rondon foi extinto com a justificativa de que seus resultados já não compensavam os investimentos feitos pelo Governo Federal. Retomado em 2005, atualmente o Projeto está sob a responsabilidade dos Ministérios da Educação e da Defesa, e continua baseado nos princípios de ações voluntárias de professores e acadêmicos universitários brasileiros.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 12 de abril de 2009.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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