Coluna Fragmentos: A "SCABI" e a vida cultural ponta-grossense | aRede
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Coluna Fragmentos: A "SCABI" e a vida cultural ponta-grossense

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Notícia a respeito da apresentação da Orquestra Juvenil da UFPR em Ponta Grossa, numa promoção da SCABI, publicada no JM em 05 de novembro de 1967
Notícia a respeito da apresentação da Orquestra Juvenil da UFPR em Ponta Grossa, numa promoção da SCABI, publicada no JM em 05 de novembro de 1967 -

João Gabriel Vieira

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Provavelmente não são todos os ponta-grossenses que saibam o que foi a SCABI e o quanto essa entidade foi importante para o desenvolvimento cultural em nossa cidade entre as décadas de 1940 e 1970.

As Sociedades e Centros Culturais foram bastante comuns no Brasil nos meados do século passado. Resultado da reunião de intelectuais, artistas e mediadores culturais, essas instâncias defenderam e divulgaram diferentes tendências culturais na sociedade brasileira, então em processo de urbanização e modernização.

Foi nesse contexto que, no ano de 1944, um grupo de intelectuais paranaenses resolveu criar a Sociedade de Cultura Artística Brasílio Itiberê. Entre os fundadores da SCABI estavam os musicistas Fernando Corrêa de Azevedo e Edgard Chalbaud Sampaio, o jurista Oscar Martins Gomes, o jornalista Raul Gomes e o professor Erasmo Pilloto. 

O surgimento da SCABI ocorreu num momento bastante conturbado da vida política e cultural brasileira, com o envolvimento do país na II Guerra e com o Estado Novo varguista em plena vigência. O Teatro Guaíra, um dos maiores patrimônios da cultura paranaense havia sido demolido em 1937, por ordem de Aluízio França, prefeito da capital, com a promessa de construção de um teatro oficial do estado. Porém, até o início da década de 1940 a promessa do prefeito curitibano não havia saído do papel, o que levou a uma diminuição dos eventos artísticos e culturais promovidos em Curitiba e, ao mesmo tempo, motivou a Academia Paranaense de Letras a iniciar uma campanha para que um novo teatro fosse construído.

A campanha da Academia acabou por possibilitar a reunião e a troca de ideias entre os principais intelectuais paranaenses daquele período. Foi nesse cenário que o grupo formado por Pilloto, Chalbaud, Gomes e outros decidiu criar uma entidade voltada para a promoção e o incremento das atividades culturais na capital paranaense. Desta forma, a SCABI realizou concertos, recitais, cursos de aperfeiçoamento musical, palestras, apresentações destinadas ao público leigo, etc.

Passados cinco anos de sua criação a SCABI instalou-se também em Ponta Grossa, cidade que, nas primeiras décadas do século XX, caracterizou-se por um grande envolvimento com atividades de fundo cultural, mas que a partir dos anos 40 passou a conviver com um quadro de retração nesse campo, muito provavelmente provocado pela diminuição da importância política e econômica da cidade no cenário paranaense.

A chegada da SCABI em nossa cidade correspondeu a uma tentativa dos intelectuais ponta-grossenses de revigorar a vida cultural local. Entre 1949 e 1976 – período em que atuou em Ponta Grossa – a Sociedade promoveu uma série de ações e trouxe inúmeros artistas para apresentarem-se nos palcos locais.

A SCABI marcou de modo ímpar a vida cultural ponta-grossense promovendo apresentações como as dos bailarinos Renan Sasso, Tatiana Leskova e Oleg Brainsky: do New York Jazz Quintet e do pianista Renée Devraine Frank entre outros.

Em março de 1956 a SCABI trouxe a Ponta Grossa a renomada violonista italiana Wanda Luzzato. Nascida em Milão, estudou no Conservatório Verdi e ainda muito jovem ganhou notoriedade ao vencer um concurso internacional que reuniu os principais violonistas europeus da época. Acostumada as tournées internacionais, Luzzato apresentou-se no Clube Guaíra, acompanhada pela pianista Lydia Alimonda, e seu recital contou com um variado repertório que incluiu Haendel, Bethoven, Ravel, Liszt, Paganini etc.

Em 1976, quando o país vivia um contexto marcado pelas limitações culturais impostas pela ditadura militar e pela chamada crise do petróleo, a SCABI – que sempre teve dificuldades financeiras para se manter – acabou por encerrar suas atividades, deixando uma lacuna irreparável na vida cultural de Ponta Grossa e do Paraná. Parte da documentação relativa a SCABI encontra-se preservada na Casa da Memória de Curitiba e na Casa da Memória Paraná, de Ponta Grossa.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 18 de janeiro de 2009.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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