Coluna Fragmentos: O "Forúm dos Elegantes": As praças e Ponta Grossa | aRede
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Coluna Fragmentos: O "Forúm dos Elegantes": As praças e Ponta Grossa

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Matéria publicada no JM em 03 de maio de 1987 trata do péssimo estado de conservação da Praça João Maria Cordeiro, na Vila Vilela
Matéria publicada no JM em 03 de maio de 1987 trata do péssimo estado de conservação da Praça João Maria Cordeiro, na Vila Vilela -

João Gabriel Vieira

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Ítalo Calvino

A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata ... Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras.

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Toda cidade escolhe seus símbolos. Monumentos, espaços, edificações e ruas, por exemplo, atuam como lugares da memória e da identidade. Esses símbolos se relacionam com o passado e com o presente e, com o passar do tempo, podem ganhar ou perder valor.

Se olharmos para as praças existentes em Ponta Grossa perceberemos que elas já se constituíram em um dos referenciais mais importantes para a memória e a identidade locais, porém, em razão de inúmeras transformações sócio-culturais perderam valor junto à população.

Historicamente a “praça” é todo espaço público livre de edificações e que propicia práticas de sociabilidade e lazer para seus usuários. Na Atenas do século III a.C. eram chamadas de ágora e se constituíam em um espaço público privilegiado para troca de idéias, debates e exercício da democracia direta.

No contexto da Europa Medieval elas ficavam próximas aos castelos, às igrejas e prédios públicos. Eram usadas como espaço para realização de comércio e eram completamente desprovidas de preocupações ornamentais ou estéticas.

De acordo com Lewis Mumford, historiador que dedicou grande parte de sua obra ao estudo das cidades, a partir do século XVIII as praças existentes nas grandes cidades européias começaram a ganhar nova estrutura física, adquiriram prestígio como local de encontro social e receberam dele (Mumford) a denominação de “fórum dos elegantes”. Tal caracterização se tornou possível a partir do avanço da sensibilidade burguesa e da urbanização no continente. Ainda segundo Mumford, foi no século XIX, com as reformas produzidas por Ildefons Cerdá, em Barcelona, e pelo Barão Haussmann, em Paris, que as praças atingiram sua valorização máxima. Calçamento, ornamentações, iluminação, chafarizes, canteiros e parques infantis passaram a compor o cenário de inúmeras praças em diversos pontos do ocidente.

No caso brasileiro, é possível afirmar que as praças “nasceram” com as escolas e igrejas trazidas pelos portugueses ainda na colônia. Eram espaços bastante pobres em termos de sua composição estética e serviam como áreas de comércio e, principalmente, para realização de festividades religiosas. As praças brasileiras adquiriram maior grau de refinamento e tornaram-se espaços destinados ao lazer público, mais nitidamente a partir do início dos Novecentos, momento em que o país experimentou um modesto processo de urbanização.

Em Ponta Grossa durante a ocupação irregular da cidade, ocorrida durante as primeiras décadas do século XX, registramos a existência de largos, como o largo São João e o largo do Rosário. A partir da década de 1920 é possível afirmar que as autoridades ponta-grossenses passaram a se preocupar com o ordenamento urbano e com a implantação de uma estrutura “civilizatória” marcada pelo embelezamento dos espaços públicos. Foi a partir desse contexto que as “praças” surgiram na cidade, tornando-se espaços valorizados para comemorações cívicas, manifestações religiosas, lazer e sociabilidades.

Foi nesse contexto a cidade passou a contar com as praças Floriano Peixoto, Barão do Rio Branco, Barão de Guaraúna, João Pessoa e, por volta de meados do século XX, Duque de Caxias e Getúlio Vargas entre outras. Nesse momento esses espaços gozavam de grande prestígio junto à população local. Eram espaços públicos democráticos, nos quais se encontravam pessoas dos mais diferentes segmentos sociais.

Porém, sobretudo a partir da década de 1970, as praças foram perdendo valor junto ao imaginário local. Na verdade esse não se trata de um fenômeno localizado em Ponta Grossa. Principalmente com o crescimento das cidades, o aumento dos problemas sociais, o avanço da violência e com o aparecimento de outros espaços e outras opções de lazer, as praças, um dia vistas como um dos símbolos de progresso e desenvolvimento de nossa cidade passaram à condição de espaços marginais, marcadas – na maioria das vezes – pela insegurança e falta de cuidado por parte do poder público.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 25 de novembro de 2007.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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