Coluna Fragmentos: A metalúrgica Schiffer e a nova rússia

Podemos dizer que o Brasil foi um país que adentrou tardiamente no capitalismo. Vejamos: do ponto de vista das relações produtivas, a escravidão sobreviveu até o final dos oitocentos. Até a década de 1920 nosso modelo econômico ainda se baseava na agroexportação. A indústria nacional surgiu entre o final do século XIX e o início do século XX. Nas suas primeiras décadas limitou-se a produzir os chamados bens de consumo como tecidos e alimentos.

A indústria de base tomou corpo no país somente após a chegada de Getúlio Vargas ao poder. Personagem que suscita, justificadamente, sentimento de amor e ódio entre os historiadores, Vargas ocupou o papel de protagonista no processo desenvolvimentista nacional dos anos 1930/1940. Nesse sentido, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), estatal fundada por Getúlio em 09 de abril de 1941, marcou, simbolicamente, o nascimento da indústria pesada no Brasil.

Pouco antes, em 1938, os irmãos Conrado e Felinto Schiffer, dois descendentes de alemães radicados em Ponta Grossa, alugaram um barracão de madeira de aproximadamente 30m2 na Nova Rússia, onde instalaram uma pequena oficina mecânica.

Naquela época, a cidade já contava com um significativo número de indústrias de diferentes ramos. Destacavam-se a Adriática, de Henrique Thielen, que produzia cervejas e gasosas; a fábrica de fogos São Pedro, de Pedro Barbosa; a Indústria Mercedes de Ewaldo Kossatz, que produzia pregos, parafusos e dobradiças; a Serraria Olinda de Theodoro Kluppel, entre outras. A cidade só era superada em número e variedade de indústrias por Curitiba.

O estabelecimento comercial dos Schiffer, localizado na Rua Ernesto Vilela, prosperou rapidamente. No final da década de 1940 a oficina já contava com cerca de 40 empregados e produzia peças para caminhões e serrarias, atendendo Ponta Grossa e o interior do Paraná.

No final dos anos 60, funcionando com o nome de Metalúrgica Schiffer S.A., a empresa já havia se consolidado no mercado regional e passou a exportar seus produtos para dois países vizinhos: Paraguai e Colômbia. Além disso, a Metalúrgica começava a atender clientes de todo território nacional.

Atualmente, a Metalúrgica Schiffer emprega aproximadamente 600 funcionários, os quais produzem mais de 300 tipos de peças e equipamentos. México, Honduras, Panamá, Costa Rica, África do Sul, Chile, Argentina, Moçambique e Suíça são alguns dos países que recebem seus produtos.

Para quem mora na Nova Rússia, talvez essas sejam informações que tenham pouco interesse. No Bairro, a Metalúrgica Schiffer, além de uma referência física, se constitui em uma de suas empresas mais tradicionais. Há décadas sua sirene marca o cotidiano do Bairro em horários específicos. Ao indicar o início ou o término de uma jornada de trabalho, o som emitido pelo apito da fábrica também serve para normatizar as praticas do dia-a-dia de centenas de pessoas que moram próximas a Metalúrgica.

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Publicada originalmente no dia 18 de novembro de 2007.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.