Coluna Fragmentos: Um edifício histórico, um Fórum, um Museu: um presente nos 200 anos!
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
Publicado: 15/09/2023, 00:05
O Centro Cultural Euclides da Cunha (CCEC), fundado no dia 6 de maio de 1948 e que tinha como seu criador e presidente perpétuo o professor Faris Michaele, educador e intelectual referencial na cidade no século passado, foi um dos mais importantes organismos culturais da história de Ponta Grossa.
Reunindo educadores, juristas, padres, médicos, jornalistas, militares e figuras que transitavam pelo universo cultural local, o Centro foi criado com objetivo de debater questões da cultura nacional e de refletir sobre o que aquele seleto grupo considerava um momento de estagnação cultural em Ponta Grossa.
Para tanto, os “euclidianos” (como se autodenominavam), promoveram concursos, palestras, eventos, apresentações culturais e também criarem um jornal literário – “O Tapejara” (digitalmente disponível em: http://memoriasdigitais.museu.uepg.br/collections/show/19). Além disso, o Centro encampou a defesa da criação de uma faculdade e de um museu em Ponta Grossa, ambos projetos que se efetivaram ainda naquele final da década de 1940.
Em 8 de novembro de 1949, por meio de um decreto do governador Moysés Lupion, nasceu a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ponta Grossa, que passou a funcionar no início de 1950 e, mais tarde, deu origem à Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Pouco depois, no dia 15 de setembro de 1950, ou seja, há exatos 73 anos, nas comemorações oficiais dos 127 anos de Ponta Grossa, ocorreu o evento de fundação do Museu do Centro Cultural Euclides da Cunha. Fósseis, objetos líticos, artefatos indígenas, coleção de insetos e de animais taxidermizados, além de objetos diversos, compunham os acervos iniciais desse museu que, inicialmente, funcionou na sede do Centro Cultural, situada no Edifício Dr. Gabriel Bacila, na Avenida Vicente Machado.
Meses depois, o CCEC mudou sua sede para o Edifício do Cine Ópera, na rua XV de Novembro, ocorrendo também a mudança do Museu para esse local. Em 1963, quando já contava com um acervo maior e que não se adequava ao espaço onde estava, o Museu foi transferido para a rua Bonifácio Vilela (esquina com a Julia Wanderley), dividindo o espaço com a Biblioteca Pública Municipal (com gestão compartilhada entre o CCEC e a Prefeitura Municipal). Por fim, em 1965, o Museu foi incorporado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ponta Grossa (FAFI), tendo seu acervo transferido para o Colégio Regente Feijó, onde a Faculdade funcionava.
Em 1969, com a criação da UEPG, o Museu foi deslocado para o prédio onde atualmente funciona o campus central da instituição e, em 1983, ganhou sede própria: o antigo prédio do Fórum de Ponta Grossa.
No início da década de 1980, com a construção do prédio onde atualmente funciona o Fórum, a edificação histórica, inaugurada em 1928, ficou ociosa e o Poder Judiciário a repassou para a UEPG, então dirigida pelo saudoso professor Daniel Albach Tavares, terceiro reitor da instituição e egresso da FAFI, onde cursara o bacharelado em Geografia.
Coube ao professor Tavares destinar o prédio para seu novo fim: ser a sede do Museu Campos Gerais. Foi assim, que, na noite de 24 de março de 1983, ocorreu a cerimônia oficial de abertura de um dos espaços culturais mais tradicionais e ricos de Ponta Grossa. Vinte anos depois e em virtude dos riscos de desabamento do seu telhado, o Museu foi transferido às pressas para o prédio do “antigo Banestado”, na confluência das ruas Engenheiro Schamber e XV de Novembro.
O que era para ser um movimento provisório, por pouco não se tornou algo definitivo. Passados outros vinte anos, e graças aos recursos obtidos juntos ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos do Ministério da Justiça, o “majestoso edifício do Fórum” (como bem definiu matéria publicada no JM no ano de 1968), passou por um profundo processo de restauro e será novamente a sede oficial do Museu Campos Gerais.
O restauro buscou preservar todos os elementos arquitetônicos, artísticos e espaciais do prédio. Além disso, foi construído um anexo onde funcionará a parte técnica do Museu e foram instaladas rampas, elevador e pisos táteis, possibilitando acessibilidade para pessoas com dificuldade de locomoção. A reabertura do Museu em seu lar oficial ocorrerá em 2024, no entanto, a entrega do prédio histórico tão cheio de significado para uma cidade que hoje comemora seus duzentos anos é, sem dúvidas, um grande presente da UEPG para nossa bicentenária Ponta Grossa!
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Conteúdo inédito.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.