Coluna Fragmentos: Combatamos a lepra | aRede
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Coluna Fragmentos: Combatamos a lepra

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Em 30 de janeiro de 1957 o JM publicou uma pequena nota conclamando a população a combater a lepra no país
Em 30 de janeiro de 1957 o JM publicou uma pequena nota conclamando a população a combater a lepra no país -

João Gabriel Vieira

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Em “Cinco Anos de Unidade e de Ação”, documento oficial publicado em 1942 para apresentar as obras e políticas do Estado Novo varguista, encontra-se o seguinte registro: “De não menor importância é o problema da erradicação da lepra... Como a da tuberculose, a profilaxia da lepra exige um largo aparelhamento de instituições hospitalares”.Essa preocupação do Estado brasileiro no combate a lepra expressava o quanto a doença atingia a população brasileira, o quanto ela era temida e qual era seu custo em termos de investimentos estatais em recursos financeiros e humanos.

A lepra chegou ao Brasil juntamente com os colonizadores europeus e com os africanos escravizados. De acordo com relatos produzidos por jesuítas e por cronistas dos séculos coloniais, a doença não existia entre os indígenas que habitavam o território brasileiro até o século XVI. Rio de Janeiro, Salvador e Recife, locais de grande movimento nos primeiros tempos da Colônia constituíram-se nos focos de irradiação da doença que logo se espalhou pelo Brasil.

No século XVI ocorreram as primeiras tentativas de implantação de um leprosário no Brasil, mas foi somente após a realização de uma conferência médica no Rio de Janeiro, em 1740, que atitudes no sentido de se adotar medidas de prevenção e combate a doença ganharam força. No ano seguinte a essa conferência foi então construído o primeiro leprosário brasileiro, localizado no Rio de Janeiro.

Doença de fácil transmissão, a lepra espalhou-se por todas as regiões brasileiras, fazendo com que a Coroa portuguesa e, mais tarde, o Império nacional, investissem na criação de leprosários em vários pontos do território brasileiro.

No caso do Paraná, um censo de leprosos realizado em 1917 indicava que, de uma população total de 60 mil habitantes, o estado possuía 800 casos oficialmente registrado. Em 1926 foi inaugurado o primeiro leprosário paranaense: o Leprosário São Roque, em Deodoro (atual Piraquara). A única alternativa então empregada no controle da doença era o isolamento compulsório de todos que fossem diagnosticados como leprosos.

Além das dores e decorrências da doença, sempre pesou um forte estigma sobre os leprosos. O medo do contágio era imenso e a vigilância sobre os doentes foi prática corrente na sociedade brasileira durante séculos.

Em 1935 a suposta presença de um casal de leprosos foragidos de São Roque tornou-se caso de perseguição policial em Ponta Grossa, gerando pânico entre os moradores da cidade. Outras notícias desse mesmo período davam conta de que prostitutas que atuavam na cidade eram “morféticas” (sinônimo de leprosas), espalhando preocupação, especialmente, entre a população masculina ponta-grossense.

Na década de 1940, com a descoberta das sulfas, o tratamento da lepra ganhou novo fôlego, contribuindo para diminuir minimante o estigma, a vigilância social e a discriminação com relação aos portadores da doença. Em meados dessa década, os esculápios locais promoveram a vinda do dr. Agenor de Mello, diretor do Serviço de Defesa Contra a Lepra, órgão do governo federal responsável pelo controle e profilaxia da doença, para falar aos médicos radicados em nossa cidade.

Apesar do avanço da medicina e da eficácia dos tratamentos atuais, o medo, o preconceito e a rejeição social com relação aos leprosos (ou hansenianos como são chamados atualmente), infelizmente, ainda permanecem vivos na sociedade brasileira.

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Preventórios, leprosários, dispensários

O isolamento obrigatório e a vigilância constante se constituíram, durante séculos, nos métodos adotados no combate a lepra no Brasil. Para tanto foram criados leprosários (lugares onde os leprosos eram isolados), preventórios (onde filhos de leprosos periodicamente eram examinados) e dispensários (centros de vigilância de portadores da lepra em um grau que não exigia o isolamento).

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Bacilo de Hansen

A lepra é uma doença transmitida por um bacilo (Mycobacterium leprae) que atinge os nervos e a pele humana. No século XIX o norueguês Gehrard Hansen descobriu o bacilo transmissor, contribuindo para os avanços da medicina no combate a essa enfermidade. Doença endêmica, sua ocorrência é maior nos países tropicais, o que torna o Brasil um local propício para a sua incidência.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 03 de outubro de 2010.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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