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Coluna Fragmentos: Rua sem sinalização não é preferencial!

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

No dia 19 de abril de 1968 o JM trouxe em sua primeira página uma matéria que destacava a questão do trânsito na cidade de Ponta Grossa
No dia 19 de abril de 1968 o JM trouxe em sua primeira página uma matéria que destacava a questão do trânsito na cidade de Ponta Grossa -

João Gabriel Vieira

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Pode-se dizer que a história da regulamentação do trânsito nas cidades brasileiras teve início no Rio de Janeiro em 1856, com a concessão, pelo Imperador Pedro II, da instalação de um sistema de transporte coletivo urbano estruturado sobre trilhos e puxado por tração animal, ou seja, bondes puxados por muares.

Uma considerável distância temporal e uma gigantesca distância estrutural separam o ato imperial de 1856 da realidade caótica atualmente vivenciada no trânsito das cidades brasileiras.

Ainda no século XIX o primeiro automóvel – um Peugeot com motor Daimler – chegou ao Brasil, mais especificamente em São Paulo, pelas mãos da família Santos Dumont (1891) e a primeira linha de bondes elétricos foi implantada no Rio de Janeiro (1894). Pouco depois, em 1898, aportaram no país as primeiras bicicletas vindas da Europa.

Já nos anos iniciais dos Novecentos a movimentação intensa de pedestres, cavalos, bicicletas, bondes e automóveis pelas ruas das principais cidades brasileiras não deixavam dúvidas: o trânsito se transformaria em um dos grandes problemas da nossa sociedade ao longo daquele século.

Mas este não foi um fenômeno que ficou restrito as metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo. Em Ponta Grossa, já no decorrer das primeiras décadas do século passado o trânsito apareceu como um dos principais motivos de preocupação do poder público e provocou vários debates na sociedade princesina.

Por exemplo, pelo menos desde a década de 1920, foi bastante discutido em Ponta Grossa o problema gerado pela concentração de automóveis, carroças e charretes ao redor do local de maior movimento na cidade: a Estação Ferroviária. Tanto o trânsito excessivo, o barulho e, principalmente, o problema sanitário (como os cavalos passavam o dia amarrados nas proximidades da Estação, era inevitável que a urina e as fezes desses animais produzissem mau cheiro e sujassem as ruas centrais da cidade) incomodavam ao poder público e a população local.

Já na década de 1930, momento em que os ponta-grossenses elegeram a Rua XV de Novembro como seu principal ponto de convergência para as práticas de lazer e de sociabilidade, uma situação que se tornou bastante incômoda foi exatamente o caos instalado, sobretudo nos finais de semana, quando as pessoas costumavam a realizar o chamado “footing”. Essa prática consistia em andar pela Rua XV, num vai-e-vem constante desde o Cine Renascença (esquina da Rua Sete de Setembro) até o Cine Éden (esquina da Rua Augusto Ribas). Além das atrações dos cinemas, os bares, cafés e casas de jogos existentes ao longo da Rua XV funcionavam como chamariz para as pessoas. A concentração de transeuntes pela rua chegou ao ponto de inviabilizar a passagem de automóveis pelo local em determinadas noites e fez com que o poder público adotasse uma medida, no mínimo inusitada, para minimizar o problema: em 1938, a prefeitura determinou a adoção de um sistema de mãos (similar ao que conhecemos para automóveis) para os pedestres que desfrutavam as atrações oferecidas pelo “footing” da XV.

O fato do processo de urbanização de Ponta Grossa ter ocorrido de maneira intensa no início do século XX, num momento em que não se discutia o que chamamos atualmente de planejamento urbano, fez com que a ocupação física da cidade acontecesse de forma desordenada. Com o passar do tempo, essa situação tornou-se mais complexa e explica, em partes, as dificuldades que atualmente enfrentamos com o trânsito em nossa cidade. 

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 21 de junho de 2009.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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