Coluna Fragmentos: A madeira e a economia ponta-grossense
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
Publicado: 05/05/2023, 09:00

Em 1981, a historiadora Aída Mansani Lavalle publicou um livro que se tornou uma referência no estudo da economia de nosso estado . Em “A madeira na economia paranaense” (Grafipar, 1981), Lavalle demonstra como esse produto teve um importante papel no desenvolvimento estadual na virada do século XIX para o XX. Até então, o Paraná possuía grande parte de seu território ainda despovoado e suas ricas matas eram caracterizadas pela presença de diferentes espécies, a maior parte delas, com grande valor nos mercados nacionais e internacionais.
Até o final dos Oitocentos, a base da economia paranaense se assentava na produção da erva-mate, mas aos poucos a madeira começou a ganhar espaço no cenário estadual. O pinheiro, o cedro, a canela e a imbuia existiam em abundância e eram utilizados apenas para suprir demandas locais, como a construção de casas, cercas e pontes. Porém, o corte, o beneficiamento e a comercialização da madeira paranaense enfrentavam um problema estrutural: a dificuldade de transporte do produto. Esse entrave foi solucionado a partir da última década daquele século, com a chegada das ferrovias ao estado.
Os Campos Gerais, área com grandes reservas naturais de madeira, tiveram toda sua extensão cortada pela Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, o que possibilitou o início de uma exploração em escala industrial do produto. Ponta Grossa, cidade que além dessa ferrovia também era atendida pela Estrada de Ferro do Paraná, tornou-se um importante centro de comercialização e beneficiamento da madeira regional.
A melhoria no sistema de transportes possibilitou, em um curtíssimo espaço de tempo, o aumento da exportação da madeira paranaense, fazendo com que esse produto superasse em importância a erva-mate e se tornasse a principal fonte de arrecadação do estado.
De acordo com Elisabete Alves Pinto e Maria Aparecida Gonçalves, historiadoras ponta-grossenses que, assim como Lavalle, também se dedicaram ao estudo de nossa economia, a primeira indústria de Ponta Grossa data de 1850 e pertenceu ao Sargento-Mor Miguel Ferreira Rocha Carvalhaes. Era uma madeireira, a primeira fundada em todo o Paraná.
Nas primeiras décadas do século XX, centenas de serrarias surgiram ao longo do trajeto da Ferrovia São Paulo – Rio Grande. Em Ponta Grossa, a extração e o beneficiamento da madeira se configuraram em um atrativo negócio. Aqui se encontravam muitas das maiores serrarias do estado, com destaque para os estabelecimentos de Adolpho Buch, Bernardo Sávio, Nicolau Klüppel, Lisandro de Araújo, José Villela, Nestor Guimarães, Theophilo Cunha, Victor Antonio Batista entre outros.
A SONIRA (Sociedade Anônima Exportadora), por exemplo, que pertencia ao Cel. José Miró de Freitas, exportava mensalmente grandes partidas de pinho para Buenos Aires, além de embarcar diariamente partidas de cedro e imbuia para diversos pontos do território nacional. Pouco depois de sua criação, essa madeireira já figurava entre as grandes indústrias de Ponta Grossa e se constituía em uma das principais arrecadadoras do município.
O comércio de madeira no âmbito local também se apresentou como uma atividade bastante lucrativa. A venda de taboas, ripas e lenha, tanto para o uso doméstico como para fins industriais, assegurou o sucesso financeiro de diversos estabelecimentos do ramo na cidade.
A exploração da madeira no Paraná foi intensa até meados do século XX. Ao mesmo tempo em que foi responsável pelo desenvolvimento de várias regiões e municípios no estado, essa atividade levou a um desmatamento desordenado das matas naturais paranaenses. Estima-se que, em 1920, 76.000 km2 do território estadual estavam cobertos por pinheiros. Em 1960 a área já era de apenas 23. 000 km2.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 07 de dezembro de 2008.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.