Coluna Fragmentos: A tropicalização do nazismo: o caso de Ponta Grossa | aRede
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Coluna Fragmentos: A tropicalização do nazismo: o caso de Ponta Grossa

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Matéria publicada no JM em 02 de junho de 1978, a respeito da prisão, em São Paulo, de Gustav Franz Wagner, nazista que comandou os Campos de Concentração de Sobibor e Teblinka durante a Segunda Guerra Mundial
Matéria publicada no JM em 02 de junho de 1978, a respeito da prisão, em São Paulo, de Gustav Franz Wagner, nazista que comandou os Campos de Concentração de Sobibor e Teblinka durante a Segunda Guerra Mundial -

João Gabriel Vieira

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Até 1939, ano em que teve início a Segunda Guerra Mundial, o nazismo, por mais que já fosse visto com desconfiança por muitas pessoas, ainda não possuía a conotação negativa que passou a ter a partir do andamento e da conclusão da Guerra.

Ao terminar o conflito, em 1945, o mundo se viu diante de uma das maiores tragédias já produzidas pela humanidade. O holocausto judeu, a negação aos princípios democráticos, a perseguição e a intolerância político-ideológica, a morte de milhões de soldados e de civis na Europa, África e América e o desarranjo econômico das nações (conseqüências das ações produzidas por Hitler e seus seguidores ao longo da Guerra) fizeram com que, no pós-guerra, a simples menção à palavra nazismo remetesse aos sentimentos de temor, indignação e de rejeição aos defensores daquela ideologia.

No Brasil o nazismo deu seus primeiros passos no final da década de 1920, disseminando-se principalmente entre os alemães e seus descendentes espalhados, sobretudo, no sul brasileiro. De acordo com uma tese de doutorado recentemente defendida pela historiadora Ana Maria Dietrich (Nazismo Tropical? O Partido Nazista Brasileiro, USP, 2007), entre 1928 e 1938 funcionou em nosso país o Partido Nazista Brasileiro.

De acordo com Dietrich, a agremiação nazista implantada no Brasil contou com 2900 filiados e se configurou na maior célula hitlerista fora da Alemanha na década de 1930. Para essa pesquisadora, assim como defendem muitos historiadores que se dedicam ao estudo desse período, o modelo político em curso no Brasil dos anos 30 contribuiu para a chamada tropicalização do nazismo.

Ponta Grossa, cidade que nas primeiras décadas do século XX era marcada pela forte presença de imigrantes, muitos deles de origem germânica, e onde as mais diversas propostas e correntes ideológicas encontraram adeptos e simpatizantes, se constituiu – nos anos 30 – em um fértil campo para o nazismo.

Organizado ainda nos primeiros anos daquela década, o núcleo ponta-grossense do Partido Nazista Brasileiro foi extinto em 1938, momento em que o Estado Novo de Getúlio Vargas ordenou o fechamento de todas as agremiações políticas existentes no Brasil. Entre os principais militantes nazistas de Ponta Grossa estavam Germano Betge (comerciante alemão radicado na cidade e presidente do núcleo local) e Alfred Nixdorf, membro da família de Oswald Nixdorf (fundador de Rolândia e um dos mais ativos militantes nazistas no Brasil). Mesmo com o fechamento do núcleo local do Partido Nazista, é possível acreditar que as idéias defendidas pelos hitleristas permaneceram vivas por muitos anos em nossa cidade e no Brasil.

No ostracismo desde o final da Segunda Guerra Mundial, o nazismo ganhou novo fôlego a partir das crises políticas e econômicas dos anos 80. Desse momento em diante o mundo assistiu um movimento de retomada do ideário nazista e de seu discurso “salvacionista”. Por conta disso, tanto o Brasil quanto a cidade de Ponta Grossa voltaram a conviver com esse fenômeno político. Geralmente organizados em grupos e conhecidos como skin heads, defendem princípios contidos na origem do nazismo, ignorando os efeitos históricos catastróficos produzidos por Hitler e seus seguidores. 

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 28 de setembro de 2008.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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