Coluna Fragmentos: Um fascínio longe de acabar: As colunas sociais | aRede
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Coluna Fragmentos: Um fascínio longe de acabar: As colunas sociais

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Coluna Social assinada pelo jornalista Leo Pasetti, publicada no JM em 12 de março de 1986
Coluna Social assinada pelo jornalista Leo Pasetti, publicada no JM em 12 de março de 1986 -

João Gabriel Vieira

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A década de 1950 se caracterizou como um período de grande euforia no cenário político, econômico e cultural brasileiro. Passado o trauma do suicídio de Vargas (1954), Juscelino Kubitschek, o Presidente Bossa Nova, chegou ao poder pelo voto direto e trouxe consigo um discurso otimista, baseado em um nacionalismo liberal democrático e em uma idéia de desenvolvimento geral da nação.

A tese desenvolvimentista de JK possibilitou a vinda de centenas de grandes empresas internacionais – as chamadas multinacionais – para o Brasil e, com elas, a entrada de um grande volume de capitais estrangeiros no país.

O tempero que resultou dessa mistura de um período democrático com capitais abundantes em circulação e uma ideia de desenvolvimento nacional sem precedentes, lançou o Brasil em uma fase geral de bem-estar e de sensação de progresso sem igual.

Nesse contexto favorável, tornaram-se frequentes as festas da alta sociedade, nas quais a suntuosidade dos ambientes e das decorações, os cardápios requintados, as jóias capazes de provocar inveja até na Rainha da Inglaterra e os trajes assinados por estilistas de Milão e Paris, materializavam o momento vivido pelo país. O colunismo social tupiniquim surgiu exatamente nesse período, tendo como seu objetivo explícito detalhar o luxo encontrado nos eventos da high-society.

Por meio das colunas sociais os membros da alta sociedade ascenderam à categoria de estrelas e, devido a glamourizaçao dos jornais, tornaram-se figuras conhecidas e admiradas pelo grande público. A fórmula teve sucesso imediato e inquestionável, e os leitores de Caras estão aí para comprovar tal eficiência.

Ibrahim Sued, ícone do colunismo social brasileiro, ditou moda ao criar em sua coluna o destaque para as “dez mais bem vestidas”. Sua ideia foi copiada por colunistas de todo país e até hoje sobrevive destacando não só as mais bem vestidas, como também as que mais viajam pelo mundo, as que promovem as melhores festas, as que possuem as casas mais bem decoradas e assim por diante.

Ao longo do tempo o colunismo social mudou bastante. O otimismo dos anos 50 logo passou. Em seu lugar veio o medo e a censura do Regime Militar. É certo que muitos colunistas, como é o caso do próprio Sued, mantinham estreita ligação com os bastidores do governo e, aparentemente, não se preocuparam nem um pouco com o autoritarismo e o controle jornalístico impostos pelos militares.

Nas últimas décadas o colunismo social ampliou seus horizontes. Os padrões de comportamento e de moda; as “baladas” bem sucedidas; a venda de convites para festas; a propaganda – velada ou não – de lojas, casas noturnas ou restaurantes; e o colorido de um mundo paralelo ao real, no qual circulam pessoas bonitas e de sucesso, ainda se constituem em seus objetos centrais.

Porém, nos dias atuais boa parte dos colunistas sociais vão além da exposição da vida dos famosos. É possível afirmar que esse gênero jornalístico se politizou e passou a tratar de temas que extrapolam a mera futilidade e a ostentação.

Em um estudo recente, o jornalista Murilo César Ramos (Imprensa e Poder, UnB, 2002) definiu o momento atual como o de um jornalismo político das colunas sociais, marcado pela presença de notas mais sérias, capazes de atrair um perfil de leitor que até pouco tempo sequer abrir a página ou o caderno do jornal em que se encontrava a coluna social.

A verdade é que, mesmo veteranas, as colunas sociais continuam tendo fôlego e validade, na medida em que possuem um público fiel que consome o jornal tanto quanto o público que recorre ao periódico em busca de informações sobre cultura, esportes ou política.

Além disso, nos últimos anos, o colunismo social começou a merecer atenção especial por parte de pesquisadores, sobretudo historiadores, que perceberam que é possível, por meio dos relatos contidos nas colunas, recuperar ambientes, padrões de comportamento, práticas e rituais que nos ajudam a compreender como uma sociedade se estrutura e como ela constitui suas redes de relação e poder.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 03 de fevereiro de 2008.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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