Coluna Fragmentos: O "Papa do Povo" nas páginas do JM | aRede
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Coluna Fragmentos: O "Papa do Povo" nas páginas do JM

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Matéria sobre o Papa João XXIII publicada no JM em 16 de dezembro de 1958.
Matéria sobre o Papa João XXIII publicada no JM em 16 de dezembro de 1958. -

João Gabriel Vieira

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Ao ser escolhido, em 2005, como no líder da Igreja Católica, o Cardeal Joseph Ratzinger dividiu opiniões. Enquanto alguns segmentos ressaltaram sua proximidade com João Paulo II e suas qualidades como teólogo, outros se mostraram apreensivos devido suas posturas reconhecidamente conservadoras.

Os dois primeiros anos do Pontificado de Bento XVI só fizeram aumentar as discussões a seu respeito e, consequentemente, sobre os rumos da Igreja. A beatificação de quase quinhentos católicos mortos durante a Guerra Civil Espanhola é o mais recente capítulo que envolve a figura do ex-Cardeal alemão, visto que, entre os beatificados por ele estavam inúmeros simpatizantes e colaboradores do General Franco e de seu regime de tendência fascista.

Ao longo do século XX, a trajetória da Igreja Católica foi marcada pela alternância entre Papas considerados conservadores e outros vistos como progressistas. Só para falarmos dos mais recentes, enquanto Pio XII, João Paulo II e Bento XVI figuram entre os ditos conservadores, Paulo VI e João Paulo I são apontados como líderes progressistas.

Mas entre os progressistas, quem mais se destacou foi o Papa João XXIII, o chamado “Papa do povo”. Italiano nascido na Província de Bérgamo, em 1881, Angelo Giuseppe assumiu a condução da Igreja em 1958, logo após a morte de Pio XII. Seu pontificado, comparado ao de outros Papas do século passado, foi curto, durando cerca de 5 anos. Sua atuação, no entanto, foi bastante decisiva para mudar os rumos do catolicismo na segunda metade do século XX.

De postura branda, João XXIII construiu sua autoridade com base no estímulo ao dialogo e no princípio do ecumenismo. Durante o seu papado produziu uma revisão no Código de Direito Canônico, convocou o Sínodo romano e o Concílio Vaticano II, um dos mais importantes acontecimentos relacionados ao catolicismo no século XX. O Vaticano II, convocado em 1959, teve início em 1962 e encerrou-se em 1965, já sob o Papado de Paulo VI. Seguindo a proposta de João XXIII, o Concilio se caracterizou pela defesa do ecumenismo e por um tom marcadamente social.

Ao final do Concílio, em plena Guerra Fria, a Igreja apresentou ao mundo um surpreendente documento reconhecendo os valores contidos em outras religiões e estimulando a aproximação entre católicos e fiéis de outras crenças. Porém, a reforma mais perceptível produzida pelo Vaticano II foi a que substituiu o latim nos rituais católicos em benefício das línguas nacionais. Durante anos as inovações provocaram fortes reações dos segmentos mais tradicionais do clero.

João XXIII escreveu duas importantes encíclicas: Mater et Magistra (1961) e Pacem In Terris (1963). Na primeira criticou o armamentismo da Guerra Fria e as distâncias entre paises pobres e ricos, além de convocar os cristãos a lutar por um mundo socialmente justo. Na segunda defende o desarmamento mundial, reconhece o direito de igualdade entre todos os povos e afirma que o respeito aos direitos humanos é fundamental para a paz na terra.

Enquanto isso, em Ponta Grossa, Dom Antonio Mazzarotto continuava firme na condução dos católicos. Primeiro Bispo da Diocese, Dom Antonio não comungava da visão progressista do Papa João XXIII. Ultramontano, o Bispo ponta-grossense se enquadrava aos princípios mais conservadores da Igreja. Porém, ao que tudo indica, essa divergência de olhares não parece ter gerado divergências entre o Dom Antonio e João XXIII.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 11 de Novembro de 2007.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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