Coluna Fragmentos: JM: Meio século de história | aRede
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Coluna Fragmentos: JM: Meio século de história

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Primeira página da edição comemorativa do cinquentenário do Jornal da Manhã (04 de julho de 2004)
Primeira página da edição comemorativa do cinquentenário do Jornal da Manhã (04 de julho de 2004) -

João Gabriel Vieira

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No dia 4 de julho de 2004, o JM chegou às bancas com uma tarja dourada acima do cabeçalho do jornal, contendo a inscrição: “Edição Especial – 50 Anos”. Apesar da referência à data a “edição especial” do cinquentenário trouxe apenas um tímido editorial no qual se fez menção à importância do JM no jornalismo ponta-grossense.

A trajetória ininterrupta, os intelectuais e jornalistas que contribuíram com o jornal, a tradição, as campanhas assumidas ao longo das décadas, as transições e mudanças de proprietários e as transformações ocorridas em Ponta Grossa e registradas nas páginas do JM, foram sucintamente destacadas nas breves linhas do editorial.

Certamente, ao completar seu jubileu de ouro, o jornal merecia uma comemoração mais efusiva. O editorial, apesar de apontar questões importantes, não conseguiu traduzir o que o JM significou para o jornalismo e para a sociedade ponta-grossense durante as cinco primeiras décadas de existência.

Nessas cinco décadas, o Brasil e a cidade de Ponta Grossa passaram por mudanças profundas nos campos políticos, econômicos, sociais e culturais, e o jornal criado por Petrônio Fernal em meados dos anos 50, registrou, dia após dia, as transformações em curso.

Quando de seu nascimento, o JM pode discutir com seus leitores o processo de desenvolvimento do norte e do oeste paranaense e a consequente crise conjuntural que se abateu sobre Ponta Grosa. A cidade pólo dos Campos Gerais que reinara absoluta no interior do estado na primeira metade do século passado se debatia contra a emergência de outros centros importantes no chamado “hinterland”, como diziam na época.

Nos anos 60, já sob a batuta de novos proprietários (João Vargas de Oliveira, Wallace Pina, Constâncio Mendes entre outros), o jornal conviveu – relativamente bem – com os desdobramentos do golpe de 31 março: o controle da informação e a censura.

A década de 1970 começou eufórica: o “milagre” brasileiro, a implantação do PLADEI, a construção do mito da “Capital Mundial da Soja” ganharam generosos espaços nas páginas do JM. O jornal também acompanhou acontecimentos locais como a derrubada da Catedral de Sant’Ana em 1979, a vitória de Luiz Carlos Zuk e do MDB nas eleições de 1976 e os problemas sociais provocados pelo crescimento desordenado de Ponta Grossa. Em 1975, Gustavo Horst, assumiu a direção do jornal, função que exerceu por mais de 30 anos.

Os novos ares que sopravam no Brasil no início da década de 1980 não passaram em branco no JM. Notícias sobre o fim da ditadura militar, a “construção” da Nova República, a retomada plena da normalidade política, acabaram por ganhar destaque no jornal. No âmbito local, o final da década foi marcado pela criação da München Fest, evento que, na época, pretendia ser uma festa nacionalmente conhecida.

Nos anos 90 o JM acompanhou a ascensão de duas novas estrelas na política local: Jocelito Canto e Péricles de Holleben Mello. Lideranças populares, Canto e Mello, foram tratados de forma desigual nos artigos do jornal. Enquanto o primeiro contou com o apoio permanente, o segundo foi alvo de constantes críticas. Na segunda metade daquela década, jornalismo e preferências pessoais se confundiram explicitamente!

Ao iniciar o século XXI, o JM dava sinais evidentes de decadência. Tendo que disputar mercado com outros dois informativos, o cinquentenário jornal parecia fadado ao desaparecimento. Caracterizado por limitados recursos gráficos e por um jornalismo que muitas vezes beirava ao tom panfletário o jornal recebeu um duro golpe em 2006, com a morte de Gustavo Horst, seu proprietário e figura que lhe dava credibilidade.

Em 2007 uma negociação realizada com os herdeiros de Horst, levou a venda do JM e a abertura de uma nova fase no jornalismo ponta-grossense... Mas essa já é uma outra história! Quem sabe pra esta mesma coluna contar, dentro de alguns anos, a história recente do JM, o mais antigo jornal com circulação ininterrupta de Ponta Grossa.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 28 de outubro de 2007.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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