Coluna Fragmentos: O JM e a dificuldade de adaptação aos novos tempos | aRede
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Coluna Fragmentos: O JM e a dificuldade de adaptação aos novos tempos

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Primeira página do JM em 20 de março de 1992. Naquele período a AIDS começava a provocar receios e temores entre a população local
Primeira página do JM em 20 de março de 1992. Naquele período a AIDS começava a provocar receios e temores entre a população local -

João Gabriel Vieira

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Tendo como seu proprietário o empresário Gustavo Horst, o Jornal da Manhã iniciava a década de 1990 como o mais antigo jornal em circulação de Ponta Grossa. Aquele decênio se apresentava cheio de novidades em diversos campos: político, cultural, social etc., e o JM, por conta das mudanças na mídia local, assumia o papel de jornal mais tradicional da cidade.

Gustavo Horst, um empresário de sucesso que tinha no jornal seu investimento mais prazeroso, dirigia o periódico desde 1975. Na verdade, Horst integrou o grupo que, em 1962, comprara o JM de Francisco Sady de Brito, mas somente 13 anos depois assumiu o controle integral da folha.

Na década de 1990, o Brasil ainda buscava reconstruir sua história após passar longos 21 anos numa ditadura militar marcada pelo autoritarismo e pela censura. A volta da normalidade política e os rumos democráticos do país ainda suscitavam debates entre aqueles que a defendiam e os que preferiam o país do “ame-o ou deixe-o”!

Em Ponta Grossa a gestão Pedro Wosgrau chegava ao seu final e nas eleições municipais de 1992, as disputas incluíram os nomes de Paulo Cunha Nascimento, Djalma de Almeida Cezar, Padre Roque Zimerman e Adail Inglês, saindo vencedor o primeiro.

Na cidade, a novidade era a München Fest, um evento inspirado no típico modelo das festas alemães que se espalham por cidades brasileiras de colonização predominantemente germânica, ainda que aqui tenhamos uma presença polonesa muito mais acentuada que alemã em nosso processo de colonização! Diferente do que acontece em Blumenau ou em Marechal Candido Rondon, em Ponta Grossa jamais ocorreu uma real integração entre a cidade e a festa.

A AIDS já se apresentava como um flagelo contemporâneo, potencialmente capaz de atingir um grande número de pessoas. Foi nessa época que a idéia de “grupos de risco” deixou de fazer sentido ao se tratar da contaminação pela doença. Em Ponta Grossa, um número ainda pequeno, porém crescente, de pessoas vitimadas pela doença começava a preocupar as autoridades médico-sanitárias e a população em geral.

Do ponto de vista da liberdade de informação, a censura e os aparelhos de repressão já haviam ficado no passado, porém as relações pessoais, os compromissos partidários e as alianças políticas davam o tom do discurso jornalístico. Cidade de porte médio, marcada por um conservadorismo crônico, Ponta Grossa geralmente se mostrou pouco sensibilizada por projetos e ideias mais avançadas e/ou populares ao longo de sua história. Não foi por acaso que tivemos que ouvir – nas eleições de 1996 – que “Ponta Grossa [ainda] tem dono”!

Nessa década, também chama a atenção o limitado investimento dos jornais locais na melhoria do seu parque gráfico e no que diz respeito à sua composição física. No caso do JM, o jornal era impresso exclusivamente em preto e branco. Suas imagens, na maior parte das vezes, careciam de um melhor tratamento e seu padrão estético era bastante pobre.

Apesar de dedicar grande parte de suas páginas para as notícias locais, o avanço das comunicações permitia ao JM publicar os acontecimentos nacionais e internacionais com precisão e rapidez.

As matérias, no entanto, adotavam um tom discursivo caracterizado por uma linguagem meramente informativa, com pouco ou nenhum posicionamento. Se por um lado ao leitor do JM era possibilitado a “visualização” dos fatos, por outro os artigos careciam de uma construção que, além de informativa, fosse minimante reflexiva.

A década de 1990, que começou eufórica – devido a superação da ditadura militar e pela volta da normalidade política ao país – pelo menos do ponto de vista do jornalismo ponta-grossense, acabou frustrante! 

A cidade teria que esperar por novos tempos, nos quais essa realidade seria substituída por outra. Jornais mais elaborados do ponto de vista físico e gráfico, com artigos que, além de informativos, se pautavam na reflexão e na discussão dos temas e, até mesmo, uma maior liberdade de imprensa somente apareceriam de modo evidente no decênio seguinte.

A partir da década de 2000, tais mudanças foram sentidas de maneira inconteste em Ponta Grossa. O JM tardou a perceber que tais mudanças eram fundamentais e a demora para adotá-las quase custou o fechamento do jornal.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 21 de outubro de 2007.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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