‘Tim Maia’ é um filme de “cores” carregadas
Publicado: 07/12/2014, 08:34
“Parceria? Que parceria? Existe você e quem quiser acompanhar”. A fala do personagem Fábio (Cauã Reymond) dirigida ao protagonista do filme ‘Tim Maia’ é bastante significativa por traduzir, em poucas palavras, a essência de quem foi Sebastião Rodrigues Maia. Não é nenhuma novidade que o artífice da soul music nacional era um homem de excessos. Exageros que significavam ser boca suja, arrogante, viciado em drogas, dono de uma voz poderosa, artista talentoso dotado de genialidade. Um ser intenso, enfim.
Pois o cineasta Mauro Lima (de ‘Meu Nome não é Johnny’) não economizou nas tintas com as quais pinta o protagonista da biografia que chega às telonas. E, por isso, entrega um filme intenso, como o biografado. Basta lembrar, por exemplo, da enxurrada de palavrões. A “pintura”, baseada no livro ‘Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia’, de Nelson Motta, não retrata apenas a faceta do artista ainda presente na memória de muitos: a daquele cantor que xingava Deus e todo mundo e faltava a shows.
Em pouco mais de uma hora e meia é possível acompanhar várias das peripécias de Tim Maia para sobreviver e chegar ao estrelato; é possível verificar quantos caminhos ele percorreu e o quanto o conjunto de todos eles é tortuoso. Para dar conta de expor tantos períodos diferentes da vida do artista foram escalados três atores: Babuzinho Santana (Tim Maia criança), Robson Nunes (jovem) e Babu Santana (adulto).
Não descolorir o retrato que Tim Maia compôs no decorrer da própria vida, por mais pesadas que fossem as cores, não é o único mérito da cinebiografia. O trabalho de Mauro Lima não faz julgamento moral e nem poupa o protagonista de ações criminosas que marcam sua trajetória. Isso, somado à competente direção de arte (que reconstitui os vários períodos pelos quais a história transcorre); e à entrega dos atores aos seus papéis, faz de ‘Tim Maia’ um trabalho acima da média. Sobretudo para os padrões da Globo Filmes, cujas produções, em geral, costumam deslizar para a comédia caricata.