Plano Municipal projeta faturamento de R$ 200 mi para o turismo de PG
Principal objetivo é unir esforços, em metas traçadas, para que a cidade possa dobrar o número de visitantes e, com isso, dobrar a movimentação financeira desse setor no município, potencializando a economia local
Publicado: 11/10/2025, 06:50

Reconhecida como a cidade que possui o maior parque industrial do interior do Estado, sendo também referência em logística, inovação, ensino e saúde, Ponta Grossa agora busca outro protagonismo: ganhar destaque estadual e nacional como um polo turístico. Incluída na Rede Brasileira de Destinos Turísticos Inteligentes (DTI) pelo Ministério do Turismo, Ponta Grossa agora também conta com um ‘Plano Municipal de Turismo’, que tem por objetivo potencializar a movimentação de visitantes e recursos financeiros na cidade. A meta é que o setor atinja um faturamento anual de R$ 200 milhões.
Atrativos e potenciais não faltam para Ponta Grossa alcançar esse patamar. Além de todas as belezas e atrativos naturais, incluindo o primeiro Parque Estadual do Paraná, o de Vila Velha, a cidade possui uma rica história cultural e patrimonial. Além disso, inúmeros eventos realizados na cidade, nas mais diversas áreas, também movimentam a economia local. “A cidade tem atrativos turísticos consolidados em diversos segmentos, como o turismo de negócios, lazer, aventura, científico e ecoturismo. Esse dinamismo é ainda reforçado porque nossa cidade é um polo educacional, porque temos uma Universidade Estadual com curso de Bacharelado em Turismo e diversos cursos técnicos voltados para a área”, detalha a prefeita, Elizabeth Schmidt (União).

Todas as ações e planos projetados para o fomento do setor nos próximos anos estão detalhados no ‘Plano Municipal de Turismo’, um documento elaborado pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa (PMPG), por meio da Secretaria Municipal de Turismo. Resultado de um trabalho coletivo, que contou com a contribuição de diversos atores do setor, o Plano é apontado pelo Poder Público como “um instrumento estratégico que visa orientar o desenvolvimento do turismo de forma planejada, sustentável e integrada às vocações do município”. O documento traz um mapeamento de locais de interesse turístico e há as ações a serem tomadas, com planos de ação e metas a serem trabalhadas pelo setor a curto, médio e longo prazos.
Um levantamento no documento mostra que o setor faturou, em 2024, mais de R$ 103 milhões. Desse montante, a maior parte originou-se de hotéis, com R$ 75,9 milhões movimentados. Outros R$ 17,9 milhões foram do faturamento de agências; R$ 6,8 milhões de feiras e R$ 2,6 milhões de shows. Com base nessa média, o Plano Municipal traçou uma meta para ser alcançada até 2035: atingir R$ 200 milhões em faturamento, o que significa dobrar a movimentação financeira no período de uma década.
Da mesma forma, o estudo apontou a meta de dobrar o número de visitantes e aumentar o número de empresas cadastradas no Cadastur, de 294 para 500. Quanto ao número de turistas que visitam a cidade, não há um valor total, mas sim o montante de visitas a alguns pontos turísticos, como 69,5 mil no Parque de Vila Velha em 2024, e 77,6 mil no Buraco do Padre em 2023.
De acordo com Paulo Stachowiak, secretário municipal de Turismo de Ponta Grossa, investir no setor é uma das formas mais inteligentes de promover o desenvolvimento econômico, social e cultural de uma cidade. “Esse setor tem um efeito multiplicador, ou seja, movimenta não apenas o comércio e os serviços diretamente ligados aos visitantes, mas também toda a economia local. O turismo cria oportunidades em diversos segmentos, como hospedagem, alimentação, transporte, artesanato, cultura e eventos, beneficiando desde pequenos empreendedores até grandes empresas”, declara. “Uma cidade que investe na promoção turística se destaca regional e nacionalmente, atraindo investimentos, eventos e novas parcerias”, acrescenta o secretário.

Lideranças elogiam Plano - Essa iniciativa da Prefeitura e todo esse envolvimento do setor em prol do desenvolvimento turístico da cidade é visto de forma positiva por lideranças do segmento. “O Plano Municipal vem para concretizar tudo isso, para organizar todas essas ações que vêm sendo discutidas, e ter um Norte para o futuro do turismo de Ponta Grossa. Então, é uma ferramenta muito importante para a gestão e para o planejamento dessas ações”, aponta Karen Kobilarz, gestora executiva da Adetur Campos Gerais e conselheira de Turismo do Grupo aRede.
“Vemos com bons olhos o Plano. Ele foi elaborado com bastante critério e em parceria com as entidades da iniciativa privada. Buscou fazer uma leitura geral de como está o setor hoje, e o que queremos. A meta de, em 10 anos, praticamente dobrar o número de visitantes aos atrativos turísticos, vai refletir positivamente em todos os empreendimentos”, acrescenta Daniel Wagner, presidente do Sindicato Empresarial de Hotelaria e Gastronomia dos Campos Gerais (SEHG).
Turismo fomenta a geração de riquezas - O turismo pode trazer grande impacto econômico para os municípios. Isso acontece porque com o turismo há uma transferência de riquezas, que gera um efeito em cadeia na cidade que recebe os turistas. “Receber visitantes/turistas é trazer um uma injeção de dinheiro de fora para o nosso PIB, pois são pessoas que estão consumindo os produtos e serviços da cidade. Isso pode aumentar a renda das empresas e das pessoas da cidade”, resume Daniel Wagner.
Quando uma cidade recebe turistas, explica Daniel, há a conjugação dos cinco verbos do turismo: comer, dormir, comprar, visitar e deslocar-se. “O comer traz impacto nos restaurantes e bares, e o dormir impacta nos meios de hospedagem. O comprar traz impactos em todo o comércio varejista, e o ‘visitar’ impacta diretamente nos atrativos”, diz ele. “E o deslocar-se impacta no setor de transportes, como combustíveis, pedágio, veículos, estacionamentos, motoristas, entre outros”, conclui.

Cidade é reconhecida como um dos Destinos Turísticos Inteligentes do Brasil
Os esforços do município e de todo o setor, nos últimos anos, estão possibilitando o reconhecimento da cidade em âmbito nacional. Desde 2024, Ponta Grossa passou a integrar o grupo dos destinos turísticos mais importantes do Brasil, sendo elevada à categoria ‘A’ no Mapa do Turismo Brasileiro, o que coloca a cidade como um dos 145 destinos mais relevantes do Brasil e o principal destino turístico dos Campos Gerais.
Já neste ano, aconteceu a inclusão do município na Rede Brasileira de Destinos Turísticos Inteligentes (DTI Brasil) - para isso, Ponta Grossa aderiu, em 2023, à Estratégia Nacional dos Destinos Turísticos Inteligentes Brasil, conquistando esse reconhecimento do Governo Federal. “Ponta Grossa ficou em 3º lugar nacional no edital do Ministério do Turismo, o que nos enche de orgulho. E tem mais: Ponta Grossa é uma das 28 cidades que auxiliaram na fundação da Rede Brasileira de DTIs, lançada neste ano no Salão Nacional de Turismo, que é um fato que pouca gente sabe”. No Paraná, somente três destinos receberam o reconhecimento: Ponta Grossa, Curitiba e Foz do Iguaçu.
A participação na Rede de Destinos Inteligentes garante maior visibilidade nacional e internacional, além de oportunidades de qualificação e fortalecimento das políticas públicas voltadas ao setor. “Esse reconhecimento reforça que estamos no caminho certo, apostando em inovação, tecnologia e sustentabilidade como pilares do desenvolvimento turístico. Mais do que visibilidade, essa conquista representa novas oportunidades para o setor e para toda a população, que se beneficia do fortalecimento da nossa economia”, destaca o secretário Paulo Stachowiak.
Município investe em infraestrutura e adota ações para potencializar setor

Para que o setor do turismo de Ponta Grossa alcance a meta de dobrar seu faturamento e o número de turistas em uma década, inúmeras obras e diversos projetos estão em execução em Ponta Grossa - ou já estão planejados, especialmente por parte do Poder Público. Entre essas principais obras estão a pavimentação de estradas rurais que dão acessos a pontos turísticos. Por outro lado, vários investimentos também são realizados pelo setor privado, que criam oportunidades para o desenvolvimento do ramo turístico.
No início desse mês de outubro, por exemplo, a prefeita Elizabeth Schmidt, junto com o secretário municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Izaltino Cordeiro, anunciou a aprovação do projeto de pavimentação da estrada que liga a rodovia PR-513 até o Buraco do Padre, uma das principais atrações turísticas da cidade. As obras serão executadas com recursos já anunciados pela Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Seil), da ordem de R$ 7,5 milhões, para um trecho com cerca de cinco quilômetros.
Outra obra que deve ser retomada em breve é a pavimentação da estrada que dá acesso à Represa de Alagados, e à ‘Ponte Preta’, que faz a ligação com Carambeí. A primeira fase da pavimentação dessa estrada, de um trecho de 6,5 quilômetros entre o Jardim San Martin e o Rio São Jorge (acesso à Cachoeira e Cânion do Rio São Jorge), foi licitada em 2023 e as obras iniciadas, mas como a empresa vencedora não cumpriu o contrato, houve uma rescisão no primeiro semestre desse ano. Agora, o município segue os trâmites legais para que as obras sejam retomadas por outra empresa. O investimento é de R$ 9 milhões.

Entre outras ações já adotadas pelo município para fomentar o setor, a prefeita Elizabeth Schmidt destacou a Lei de Incentivo a Eventos Geradores de Fluxo Turístico. “Mas temos também o projeto SOUPG, de qualificação de profissionais para o desenvolvimento de souvenires. Aqui temos também cuidado da formação de professores municipais e do desenvolvimento de material didático para o aprendizado do turismo local nas escolas, visando a promoção de sentimentos de pertencimento e orgulho pelas riquezas locais desde a infância”, explica Elizabeth. Com o reconhecimento da cidade como um ‘Destino Turístico Inteligente’, o município também criou um Grupo de Trabalho com lideranças públicas e privadas, em prol de uma gestão participativa e transparente.
“Nós também temos hoje, em execução, o projeto de sinalização turística, para a promoção dos atrativos locais e localização de visitantes na cidade”, acrescenta Elizabeth Schmidt. “Ainda a serem executados, mas já com alguma programação, temos que reativar o Centro de Informações Turísticas, e também verificar as condições de acessibilidade em locais com interesse turístico e de uso público”, completou a líder do executivo.
Por parte da iniciativa privada, um novo espaço foi anunciado recentemente, com um grande potencial para atrair eventos: uma arena, às margens da PRC-373, no bairro Boa Vista. Denominada de ‘Arena Old Stone’, segundo os empresários Júnior e Jair Máximo, o espaço pode se tornar a principal arena temática de automobilismo e motociclismo do Brasil, com estrutura completa para eventos desses dois setores. A intenção é tornar Ponta Grossa um novo polo de competições e eventos esportivos, com a possibilidade até de sediar eventos internacionais.

Aeroporto é uma das principais carências - Ao final de março de 2025, Ponta Grossa perdeu seu único voo comercial regular, então operado pela Azul Linhas Aéreas, entre o aeroporto Sant’Ana e o de Viracopos, em Campinas, devido à redução da malha da empresa. A ausência de um voo regular para a cidade desperdiça o potencial turístico de Ponta Grossa, impactando tanto na redução de turistas de lazer, quanto em um menor faturamento da rede hoteleira no turismo de negócios e de eventos. “A falta de ter um voo direto para Ponta Grossa é uma desculpa para não viajar para a cidade; para as pessoas escolherem outro lugar para viajar. Estar de fora do mapa aéreo do Brasil é sair de pacotes turísticos que são montados utilizando as companhias aéreas”, diz Daniel Wagner, presidente do SEHG da região.
No caso do turismo de negócios ou de eventos, o setor hoteleiro pode perder um pernoite, às vezes até dois, por turista. “Por exemplo, uma pessoa vai passar a semana em Ponta Grossa a trabalho, e na sexta-feira de manhã tem um voo para ir embora: se esse voo for em Curitiba, a tendência é que ela viaje a Curitiba já na quinta, ao invés de dormir em Ponta Grossa. E na outra ponta é a mesma lógica: a pessoa que chega via Curitiba pode dormir em Curitiba uma noite para só no dia seguinte vir para cá”, explica, reforçando a necessidade de a cidade voltar a ter voos diretos o quanto antes seja possível.
Para estruturar o Aeroporto Sant’Ana para poder receber aeronaves maiores, e a cidade se tornar mais competitiva para as companhias aéreas, a Prefeitura solicitou, nesse segundo semestre, um Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA), para dar início a um novo projeto de infraestrutura para o local, que já vai receber um aporte de R$ 35 milhões para a construção de um novo terminal de passageiros, estacionamento, pátio para aeronaves e nova taxiway.
Potencial turístico da cidade é amplo e diversificado

Historicamente, Ponta Grossa tem um grande potencial turístico, especialmente relacionado às belezas naturais da Escarpa Devoniana. A começar pelo fato que a cidade tem o primeiro Parque Estadual do Paraná, o de Vila Velha, criado há 72 anos. O local consiste em formações rochosas, com mais de 300 milhões de anos, com arenitos que possuem formas peculiares que remetem a objetos – entre os mais famosos estão a ‘taça’, a bota e a garrafa. No Parque Estadual, que possui 3,1 mil hectares, ainda estão as Furnas e a Lagoa Dourada. Desde 2020, o local é concessionado pela Soul Parques, que fez inúmeros investimentos e modernizou o local, que recebeu, em média, 70 mil visitantes nos últimos três anos.
Outro destino de destaque, que recebeu muitos investimentos da iniciativa privada para se estruturar, foi o Buraco do Padre, na região do Distrito de Itaiacoca, que inclui a Fenda da Freira. Nas proximidades dele, ainda há a Cachoeira da Mariquinha. Outros destinos naturais reconhecidos na cidade são o Cânion e Cachoeira do Rio São Jorge e o Capão da Onça. Em alguns desses locais é praticado o turismo de aventura e trilhas.
O aspecto histórico e cultural também são grandes atrativos da cidade. “O turismo cultural também tem crescido, com a Estação Saudade e os nossos espaços da ferrovia (aí inclui a Estação HUB e a Estação Paraná) e os nossos espaços do patrimônio tombado; e a questão religiosa, como a Abadia da Ressurreição também (e a Capela Santa Bárbara). Então, Ponta Grossa, com mais de 200 anos de história, tem muita coisa para mostrar”, acrescenta Karen Kobilarz, gestora da Adetur.

Da mesma forma, muitos eventos são realizados para atrair turistas e movimentar a cidade, como o Festival de Balonismo e o ‘PG nos Ares’, promovidos pela Prefeitura, e o Festival Rota 01 de Mototurismo – cada um deles movimentando mais de 20 mil pessoas por ano, em média. Outro destaque foi a realização do Campeonato Brasileiro de Motocross, que atraiu pilotos de mais de 10 países e movimentou mais de 40 mil pessoas na cidade neste ano. Karen reforça, ainda, a vocação da cidade no turismo técnico-científico, pela presença de diversas instituições de Ensino Superior que realizam grandes eventos e feiras.
Entretanto, segundo a prefeita, o turismo de lazer não é o que mais atrai turistas à cidade. “A maioria dos hóspedes que recebemos em Ponta Grossa são turistas de negócios, como representantes comerciais e visitas de trabalho, seguidos de participantes de eventos e turistas de lazer”, diz ela. Nesse aspecto, Paulo Stachowiak detalha o turismo industrial, com visitas técnicas nas fábricas, e o de ‘benchmarking’. “Já acontece de outras cidades virem para cá, com visitas técnicas, para comparação sistemática dos processos, produtos ou serviços e para aprender com as melhores práticas”, explica ele, apontando ainda o turismo rural, com a valorização da produção agropecuária e acompanhamento técnico do manejo no campo.
