Pesquisadores da UEPG desenvolvem plástico à base de amido
Realizado em parceria com a Universidade Federal do Paraná, o objetivo do trabalho é que esse material biodegradável seja uma alternativa para substituir o plástico convencional no futuro
Publicado: 03/06/2025, 19:03

O Portal aRede e o Jornal da Manhã dão continuidade, nesta terça-feira (03), à segunda edição do Painel Digital Meio Ambiente e Sustentabilidade. Realizado na semana em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, o projeto traz entrevistas e reportagens especiais que apresentam iniciativas sustentáveis adotadas por empresas e instituições localizadas em Ponta Grossa, cidade apontada como um dos principais polos industriais do Paraná.
Apesar dos avanços em reciclagem e no desenvolvimento de alternativas sustentáveis, o plástico ainda representa um grande desafio ambiental. Grande parte desse produto não é reciclada corretamente e acaba descartada na natureza, o que contribui para a poluição e coloca em risco a vida de animais e ecossistemas. A durabilidade do material, que antes era vista como vantagem, hoje é uma das principais causas do problema.
Com 55 anos de história e milhares de profissionais formados, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) promove uma variedade de pesquisas que envolvem meio ambiente. Uma delas, feita pelos departamentos de Engenharia de Alimentos e de Ciências Farmacêuticas, desenvolve um plástico biodegradável à base de amido. Em parceria com o Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o objetivo do trabalho é que esse material substitua o plástico tradicional no futuro.
Antes de avançar na discussão, é importante entender a diferença entre o plástico comum e o plástico biodegradável, como explica o professor Ivo Mottin Demiate, um dos integrantes da pesquisa. “O plástico convencional é feito a partir de moléculas derivadas do petróleo, que demoram séculos para se deteriorar. Ser biodegradável significa que esse material pode ser decomposto por microrganismos do solo e voltar a se transformar em uma substância natural, que não agride o meio ambiente”, destaca o pesquisador.

De acordo com Demiate, a escolha do amido como matéria-prima está diretamente ligada ao contexto regional e à realidade agrícola brasileira. Na região dos Campos Gerais, há uma forte produção de grãos como milho, trigo e cevada, todos ricos em amido. O polímero natural, além de amplamente utilizado na alimentação, também tem aplicação em diversas indústrias, como a de tintas, a química e até a de petróleo.
DESAFIOS - Por ser biodegradável e de origem renovável, o amido se apresenta como uma alternativa viável para substituir os polímeros sintéticos do plástico convencional, especialmente na produção de embalagens. Atualmente, os pesquisadores procuram meios para aumentar a durabilidade do plástico à base de amido.
“O amido é muito biodegradável. Eu faço uma embalagem e em poucos dias ela desaparece. Nosso desafio é torná-los um pouco menos biodegradáveis, no sentido de ter uma durabilidade maior. Ao contrário dos plásticos que duram séculos, aqui você tem um produto que dura alguns dias”, aponta Demiate.
O pesquisador menciona o trabalho realizado pelo professor Luiz Gustavo Lacerda e pela mestranda Luana Carolina Ruths na busca de aditivos naturais que possam aumentar a vida útil do produto, como o glicerol. “Desenvolvemos tecnologias para que esse material dure até dois meses, possa suportar a umidade e tenha boas propriedades, como flexibilidade”, ressalta.
Outra linha de pesquisa, discutida junto à UFPR e à Embrapa de Colombo, também prevê a incorporação de nanocelulose aos filmes de amido. Segundo Demiate, essas partículas têm potencial para potencializar as aplicações do plástico biodegradável, além de melhorar suas propriedades. “Na pesquisa em universidade pública, a gente começa mexendo com algo, mira em uma coisa e acerta em outra. Ou seja, tem muitas possibilidades”, pontua.
APROXIMAÇÃO - Questionado sobre a importância de instituições públicas de ensino produzirem pesquisas voltadas à alternativas sustentáveis para o futuro, Ivo Mottin Demiate destacou que a realização de diferentes estudos está aliada ao compromisso da UEPG em estar cada vez mais próxima da sociedade ponta-grossense e de municípios dos Campos Gerais.
Segundo o professor, o papel das universidades públicas é transferir tecnologias inovadores ao bem comum. Um dos recursos que tem beneficiado essa proximidade é a curricularização da extensão, cujo principal objetivo é promover uma interação transformadora com diferentes setores da sociedade.
“Todos os cursos de graduação e de pós-graduação têm um compromisso de fazer extensão. Isso significa responder, de forma afirmativa, com soluções para as demandas da sociedade. A partir dos estudantes, professores, agentes universitários e com apoio do Estado, a UEPG vem fazendo esse trabalho e está à disposição para discutir diferentes questões e atuar para que as coisas aconteçam da melhor maneira para a comunidade”, considera.
INCENTIVO - Apesar dos diferentes desafios enfrentados para combater a degradação do meio ambiente, Demiate compartilha sua visão otimista de que a sociedade possui todos os recursos necessários para fazer um mundo mais sustentável. O professor ainda afirma que o Brasil tem a oportunidade de ser um protagonista neste trabalho.
“Precisamos de educação em nível superior e com qualidade. As universidades públicas são da população. Estamos aqui para desenvolver projetos que tornem nosso país bem visto nessa questão, acolham a todos e contribuam para o desenvolvimento econômico e social”, diz.

DISCUSSÕES - Em novembro deste ano, Belém (PA) irá sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, popularmente conhecida como COP 30. Para Demiate, o Brasil possui uma liderança ambiental de destaque no cenário mundial, principalmente pelo seu protagonismo quando o assunto é conservação de florestas. O professor ainda projeta que o país terá papel fundamental em várias discussões que devem ocorrer ao longo do encontro.
Demiate lembra que, em alguns momentos, diferentes interesses podem conflitar com as questões que envolvem preservação. O professor, que também é engenheiro agrônomo de formação, reconhece que apenas produzir por produzir não vale a pena. “Temos que fazer isso com competência. A produção agropecuária precisa ser conciliada com a preservação ambiental”, defende.
O pesquisador aponta que o Brasil possui bons exemplos e que está mais adiantado que outros países neste aspecto. Demiate indica o próprio projeto do plástico biodegradável com base de amido como iniciativa alinhada à preocupação com a preservação ambiental. “Agora, com a COP 30, temos a oportunidade de mostrar para o mundo tudo de bom que estamos fazendo. E não é pouca coisa”, finaliza o professor.