Urbe
Exposição homenageia a crítica de arte Adalice Araújo
Natural de Ponta Grossa, ela é considerada o principal nome na análise da arte paranaense. Exposição será aberta neste sábado no Museu de Arte Contemporânea do Paraná
Da Redação | 30 de março de 2019 - 01:16
Natural de Ponta Grossa, ela é considerada o principal nome na análise da arte paranaense. Exposição será aberta neste sábado no Museu de Arte Contemporânea do Paraná
A sala de casa lotada de documentos, a seriedade com a qual
levava o seu trabalho e a generosidade com os artistas são algumas das
lembranças recorrentes de quem conviveu com a crítica de arte, professora,
pesquisadora, historiadora e poeta Adalice Araújo (1931-2012),
considerada o principal nome na análise da arte paranaense. Em homenagem à sua
trajetória, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR) e a Secretaria de
Estado da Cultura apresentam a exposição “História sem fim: o pensamento
revolucionário de Adalice Araújo”, que será inaugurada neste sábado
(30), às 11 horas, no hall da secretaria.
Com a mostra, que tem curadoria da diretora do MAC-PR, Ana
Rocha, e pesquisa do Setor de Pesquisa e Documentação, o museu inicia as
celebrações aos seus 50 anos, comemorados em março de 2020. A instituição lança
ainda a sua nova logo, outra ação comemorativa rumo ao seu meio século de arte.
A exposição também encerra a programação do Mês das Mulheres
promovida pela secretaria ao longo de março, com atrações que reforçaram a
importância e o talento de artistas mulheres em diferentes segmentos
artísticos.
O evento marcará também a abertura da sala homônima à
crítica de arte, administrada pelo MAC-PR e pela Coordenação do Sistema
Estadual de Museus (Cosem). A Sala Adalice Araújo, na Secretaria da
Cultura, será dedicada exclusivamente a artistas paranaenses.
MOSTRA
“História sem fim: o pensamento revolucionário
de Adalice Araújo” retrata parte da trajetória da artista e
pesquisadora, apresentando o seu trabalho crítico jornalístico, iniciado em
1969, no Diário do Paraná, com a coluna Artes Visuais — publicada também em
parte dos anos 1970 e 1990 na Gazeta do Povo, por meio de obras de mulheres
artistas que estão no acervo do MAC-PR, e sobre as quais Adalice escreveu.
São elas: Eliane Prolik, Guita Soifer, Dulce Osinski, Juliane Fuganti, Leila
Pugnaloni, Letícia Marquez e Ida Hannemann de Campos, falecida no começo de
março.
Cronologia, fotografias de Adalice, sua atuação como
diretora do MAC-PR (entre 1987 e 1988), um compilado de suas críticas em
jornais, publicadas entre 1968 e 1994, e informações sobre a elaboração de sua
obra máxima, o “Dicionário das Artes Plásticas do Paraná”, também farão parte
da mostra.
Os visitantes poderão entender ainda mais o universo
de Adalice na Praça de Leitura, espaço no hall da Secretaria da
Cultura que terá vários textos impressos para que os espectadores possam fazer
as leituras tranquilamente. A curadora Ana Rocha também fez questão de incluir
textos de Adalice sobre outros temas, como literatura, patrimônio e
arquitetura. “A ideia é mostrar a amplitude de sua atuação como crítica”,
salienta.
DESCENTRALIZAÇÃO DA ARTE
Ana Rocha destaca que Adalice fez
um “esforço hercúleo” para descentralizar a produção artística — crítica
valorizou e deu espaço aos artistas que, em alguma medida, se sentiam excluídos
por estarem fora do eixo Rio-São Paulo. Esse papel também é relembrado por
Juliane Fuganti. “A gente deve muito a ela como uma incentivadora ao Paraná”,
disse artista.
Juliane conheceu Adalice cedo, logo na primeira
exposição que realizou, aos 19 anos. Começou a estudar gravura, ganhou prêmios
no Salão Paranaense, do qual Adalice era jurada, e foi incentivada
por ela a buscar formação na Belas Artes. Juliana havia estudado Economia. “Ela
sempre via o que você tinha de bom. Fazia uma crítica construtiva aos
artistas”, diz Juliane, que também se impressionava com a documentação que a
crítica mantinha em seu apartamento. “Era um setor de pesquisa melhor do que
muitos lugares, a sala inteira era tomada por arquivos”.
A artista Leila Pugnaloni rememora que, no início dos anos
1980, a expectativa máxima dos artistas no Paraná era ter um texto escrito
por Adalice sobre a sua obra. “Ela era a pessoa que fazia as melhores
análises. Quando ela ia a uma exposição, eu e os outros artistas ficávamos na
expectativa”.
VIDA E OBRA
Nascida em Ponta Grossa em uma família de
ervateiros, Adalice Araújo iniciou a sua formação artística nos
anos 1950, no curso superior de Pintura da Escola de Música e Belas Artes do
Paraná (Embap). Logo na sequência, seguiu para uma especialização na Itália. De
volta ao Brasil, criou e presidiu o Círculo de Artes Plásticas do Paraná, com
ateliê coletivo no subsolo da Biblioteca Pública do Paraná, onde começaram
artistas como Helena Wong e Antonio Arney.
Na década seguinte, estudou outras técnicas, como Gravura,
Xilogravura, Desenho e Crítica Teatral. Em 1969, iniciou sua carreira
jornalística no Diário do Paraná com a coluna Artes Visuais, também publicada
no jornal Gazeta do Povo entre 1974-1976 e 1978-1994. Em 1971, passou a
integrar a Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).
Foi professora no Departamento de Filosofia, Setor de
Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Dirigiu o MAC-PR entre 1987 e 1988 e desenvolveu projeto de descentralização do
44º Salão Paranaense. Em 2003, recebeu o Prêmio Mário de Andrade da ABCA e, em
2006, publicou o Volume 1 do Dicionário das Artes Plásticas do Paraná (verbetes
de A e C) — o segundo, de D a K, foi publicado postumamente. Faleceu em 8 de
outubro de 2012, em Curitiba.
Serviço
Abertura da exposição História sem fim: O pensamento revolucionário de Adalice Araújo
30 de março (sábado), às 11h
Período expositivo: até 1º de junho de 2019
Entrada gratuita
Hall da Secretaria de Estado da Cultura
Rua Ébano Pereira, 240 – Centro - Curitiba
Visitação: de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h, e aos sábados, das 9h às
13h