Safra
Tibagi se consolida como capital nacional do trigo
Da Redação | 05 de outubro de 2021 - 01:01
O município
colheu 111 mil toneladas em 2020, em uma área total de 30 mil hectares, ou
pouco mais de 15% de toda a produção paranaense do cereal
A combinação de clima, altitude, fertilidade e sanidade faz
do trigo produzido em Tibagi, nos Campos Gerais, referência para o País. Quem
diz isso tem know-how no assunto, é considerado por muitos uma espécie de
catedrático da região. Guilherme Frederico de Geus Filho mal nasceu e já
começou a percorrer os campos de trigo da propriedade.
Conta, com orgulho, que ainda menino de tudo já acompanhava
o pai na lavoura. E se divertia entre os ramos dourados. Criou tanto amor pelo
cereal que fez disso a sua profissão. Engenheiro agrônomo desde 2010, ele toca
o dia a dia da fazenda, sempre sob a supervisão e os olhos atentos do
patriarca.
A cada inverno, reserva um espaço entre 600 e 800 hectares
para a cultura, o que rende uma colheita de até 3.600 toneladas, integralmente
comercializada com a cooperativa Frísia. “É o que temos de mais forte na época
de frio. E Tibagi é ainda mais privilegiada, com uma combinação perfeita de
fatores que favorecem o trigo plantado aqui”, afirma ele, destacando que os
diferentes negócios do grupo empregam 20 pessoas na região.
“Da cooperativa o nosso trigo ganha o Brasil e o mundo”,
ressalta.
Os números corroboram a explicação do agricultor. Ninguém
produz mais trigo no Paraná e no Brasil do que Tibagi, cidade com população
estimada em 20,6 mil habitantes pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da
Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), o município colheu
111 mil toneladas em 2020, em uma área total de 30 mil hectares. Ou pouco mais
de 15% de toda a produção paranaense de trigo.
“Tudo começou com meu avô, um holandês que veio para o
Brasil e se estabeleceu em Tibagi. Hoje eu toco uma plantação de 160 hectares,
que rende cerca de 400 toneladas de trigo por ano”, conta o agricultor Fredy
Nicolaas Biersteker.
Impulsionado pelo trigo, Tibagi passou a figurar no
seleto grupo dos bilionários no somatório das riquezas
produzidas pelo campo – conjunto formado por aqueles municípios que alcançaram
valores superiores a R$ 1 bilhão no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VPB).
A cidade alcançou R$ 1,26 bilhão.
Toledo (R$ 3,48 bilhões), Cascavel (R$ 2,27 bilhões), Castro
(R$ 2,26 bilhões), Guarapuava (R$ 1,60 bilhão), Marechal Cândido Rondon (R$
1,47 bilhão), Santa Helena (R$ 1,35 bilhão), Assis Chateaubriand (R$ 1,34
bilhão), Dois Vizinhos (R$ 1,34 bilhão) e Palotina (R$ 1,32 bilhão), Carambeí
(R$ 1,17 bilhão), São Miguel do Iguaçu (R$ 1,16 bilhão), Nova Aurora (R$ 1,08
bilhão) e Piraí do Sul (R$ 1,02 bilhão) completam o ranking.
DESEMPENHO ESTADUAL – O trabalho da turma de Tibagi
isola o Paraná como maior produtor de trigo do País. Foram 3,2 milhões de
toneladas no ano passado, pouco mais da metade de tudo o que foi colhido no
País – 6,2 milhões de toneladas. Com isso, dentre o faturamento das
principais culturas locais, o trigo foi o que teve o maior incremento no Valor
Bruto da Produção (VPB), passando de R$ 1,92 bilhão para R$ 3,59 bilhões de
2019 para 2020. O crescimento real de 87% foi impulsionado pela produção 39%
superior aliada aos preços valorizados, cuja média da saca passou de R$ 46,93
para R$ 67,99.
“Por causa do dólar alto, o mercado está mesmo muito bom.
Não podemos reclamar”, afirma Biersteker.
Rendimento que segue alto. A projeção da Seab aponta para
3,7 milhões de toneladas, meio milhão a mais ao que foi colhido em 2020. “Em
que pese a pandemia e as condições climáticas não tão favoráveis, a produção
agropecuária paranaense foi bastante razoável e os preços acompanharam boa
parte da evolução das principais commodities do mundo, o que trouxe renda para
os agricultores e esse crescimento expressivo”, destaca o secretário de Estado
da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.
“O Paraná tem ciência, conhecimento e materiais que nos
permitem apoiar as culturas de inverno, reduzir nossa dependência de
importação, reduzir os custos e aumentar a renda”, acrescenta.