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Um slide, uma Televisão de Cachorro e mais verbas para a ciência

Minha primeira experiência com essa ideia foi no mestrado na USP, no início dos anos 2000

Imagem ilustrativa da imagem Um slide, uma Televisão de Cachorro e mais verbas para a ciência

Por Giovani Marino Favero

Na ciência, a síntese é essencial. Costumamos usar a expressão americana "save words": objetividade com poucas palavras. Nem todas as áreas seguem essa lógica, mas na maioria delas, ser direto é uma virtude.

Minha primeira experiência com essa ideia foi no mestrado na USP, no início dos anos 2000. Em uma palestra memorável, o cientista Roger Chammas explicou toda a dinâmica da pós-graduação brasileira em um único slide. Conciso, claro e brilhante. Se cientistas fossem valorizados como jogadores de futebol, Roger estaria na seleção brasileira.

Mas a melhor história que ouvi sobre objetividade foi contada pelo ex-presidente do CNPq, Prof. Evaldo Ferreira Vilela. Quando dirigia a FAPEMIG (2015-2020), enfrentou a maior tentativa de corte de verbas da história da fundação. Depois de negociações, conseguiu um espaço na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Mas havia um limite: poucos minutos e slides. Ele disse que precisava de apenas um.

No dia da apresentação, projetou a imagem de uma "televisão de cachorro": um forno de vidro com frangos girando. O impacto foi imediato. Todos prestaram atenção. E ele disparou: "Tudo que está projetado aqui é ciência".

Explicou que a avicultura brasileira é dominada por linhagens genéticas importadas, desenvolvidas por empresas internacionais. O rápido crescimento e a alta conversão alimentar dos frangos dependem de pesquisas avançadas em genética e nutrição. As granjas seguem protocolos rigorosos para garantir o bem-estar animal e a qualidade do produto. O ciclo começa com a incubação dos ovos (21 dias), passa pelo crescimento controlado (35 a 42 dias) e termina no abate, respeitando normas sanitárias. Nos supermercados, esses frangos são assados em fornos industriais de alta eficiência, que combinam calor e vapor para garantir crocância e sabor. E tudo isso só é possível graças à pesquisa científica.

Ele seguiu explicando que até o botijão de gás usado nesses fornos é fruto de avanço científico. A compressão do GLP, baseada nos princípios da termodinâmica, permitiu armazenar combustíveis gasosos de forma segura e acessível.

Sua estratégia funcionou. A mensagem foi clara: sem ciência, não haveria nada daquilo — nem frangos bem assados, nem desenvolvimento econômico, nem inovação tecnológica. Graças à sua apresentação, parte dos recursos da FAPEMIG foi preservada. Na ciência e em tantas outras áreas, saber o que dizer é fundamental, mas saber como dizer pode fazer toda a diferença.

Giovani Marino Favero é professor associado do Departamento de Biologia Geral da UEPG.

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