Debates
Um slide, uma Televisão de Cachorro e mais verbas para a ciência
Minha primeira experiência com essa ideia foi no mestrado na USP, no início dos anos 2000
Da Redação | 16 de julho de 2025 - 04:04

Por Giovani Marino Favero
Na ciência, a síntese é essencial. Costumamos usar a
expressão americana "save words": objetividade com poucas palavras.
Nem todas as áreas seguem essa lógica, mas na maioria delas, ser direto é uma
virtude.
Minha primeira experiência com essa ideia foi no mestrado na
USP, no início dos anos 2000. Em uma palestra memorável, o cientista Roger
Chammas explicou toda a dinâmica da pós-graduação brasileira em um único slide.
Conciso, claro e brilhante. Se cientistas fossem valorizados como jogadores de
futebol, Roger estaria na seleção brasileira.
Mas a melhor história que ouvi sobre objetividade foi
contada pelo ex-presidente do CNPq, Prof. Evaldo Ferreira Vilela. Quando
dirigia a FAPEMIG (2015-2020), enfrentou a maior tentativa de corte de verbas
da história da fundação. Depois de negociações, conseguiu um espaço na
Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Mas havia um limite: poucos minutos e
slides. Ele disse que precisava de apenas um.
No dia da apresentação, projetou a imagem de uma
"televisão de cachorro": um forno de vidro com frangos girando. O
impacto foi imediato. Todos prestaram atenção. E ele disparou: "Tudo que
está projetado aqui é ciência".
Explicou que a avicultura brasileira é dominada por
linhagens genéticas importadas, desenvolvidas por empresas internacionais. O
rápido crescimento e a alta conversão alimentar dos frangos dependem de
pesquisas avançadas em genética e nutrição. As granjas seguem protocolos
rigorosos para garantir o bem-estar animal e a qualidade do produto. O ciclo
começa com a incubação dos ovos (21 dias), passa pelo crescimento controlado
(35 a 42 dias) e termina no abate, respeitando normas sanitárias. Nos
supermercados, esses frangos são assados em fornos industriais de alta
eficiência, que combinam calor e vapor para garantir crocância e sabor. E tudo
isso só é possível graças à pesquisa científica.
Ele seguiu explicando que até o botijão de gás usado nesses
fornos é fruto de avanço científico. A compressão do GLP, baseada nos
princípios da termodinâmica, permitiu armazenar combustíveis gasosos de forma
segura e acessível.
Sua estratégia funcionou. A mensagem foi clara: sem ciência, não haveria nada daquilo — nem frangos bem assados, nem desenvolvimento econômico, nem inovação tecnológica. Graças à sua apresentação, parte dos recursos da FAPEMIG foi preservada. Na ciência e em tantas outras áreas, saber o que dizer é fundamental, mas saber como dizer pode fazer toda a diferença.
Giovani Marino Favero é professor associado do Departamento
de Biologia Geral da UEPG.