Debates
Almoço grátis na Reforma Tributária
Da Redação | 10 de julho de 2024 - 01:27

Por Carlos Rodolfo Schneider
Há muitos anos se fala de Custo Brasil, dos elevados custos
para fazer negócios no país, da falta de competitividade da nossa economia,
especialmente para a indústria, que produz os chamados “tradables” ou
comercializáveis, produtos que devem disputar o mercado internacional via
exportações, e que por outro lado sofrem a concorrência no mercado interno, via
importações. Consequência é a prematura e muito acentuada perda de participação
da indústria de transformação no PIB do país, ao contrário da China, México,
Índia, países do Sudeste Asiático, e até desenvolvidos como a Alemanha, que
mantém participação forte da indústria, em alguns casos até crescente,
aproveitando os processos em curso de redefinição das cadeias de valor, em
função de vulnerabilidades expostas pela pandemia e de conflitos geopolíticos.
Infelizmente, estamos participando apenas marginalmente dos processos de
"nearshoring" e "friendshoring", ao contrário das nações
que mais diretamente disputam mercado conosco, justamente por falta de competitividade.
Estamos perdendo uma oportunidade de recuperar produtividade e dinamismo na
economia, que decorrem de melhores empregos gerados pela indústria de
transformação, dos seus importantes investimentos em pesquisa e tecnologia, e
do aumento do valor agregado à produção nacional por esse setor.
Sem dúvida há que se reconhecer a importância de alguns avanços ocorridos nos
últimos anos, com a realização de reformas micro e macroeconômicas, em direção
à agenda da competitividade. O problema é que o Custo Brasil tem sido tão mais
alto do que o dos nossos concorrentes - dívida pública e carga tributária em
proporção do PIB, por exemplo, mais altos entre os países em desenvolvimento -
que muitas lições de casa ainda precisam ser feitas. Principalmente a redução
do peso do Estado sobre a sociedade, e em especial sobre o setor produtivo, por
meio, de um lado, de uma reforma administrativa que, apoiada pelo
desengessamento do orçamento público, permita diminuir o gasto e
consequentemente a carga tributária, via maior eficiência dos dispêndios
públicos. E de outro lado, da Reforma Tributária, que após anos de discussões,
tramita em fase de regulamentação no Congresso Nacional, em uma primeira etapa
que é a simplificação da caótica estrutura dos impostos sobre o consumo. A
proposta apresentada pelo Executivo, ainda no ano de 2023, trouxe importantes
avanços conceituais como o fim da cumulatividade, a partir da ideia de imposto
sobre valor agregado (IVA), englobando vários tributos, mas sem redução de
carga tributária, dado que este governo declaradamente pretende aumentar e não
reduzir o gasto público. Esse viés fica evidente com o foco total do Ministério
da Fazenda na busca de mais receitas. Transformou-se de fato no Ministério da
Arrecadação.
Na tramitação da Reforma no Congresso Nacional no segundo semestre do ano
passado, os parlamentares cederam a grupos de pressão, aos lobbies mais
poderosos, aos setores e regiões que sempre buscam privilégios, em tal medida
que a alíquota do IBS/CBS (nosso IVA) prevista já saltou para 26% ou 27%.
Provavelmente, será a mais alta do planeta. Novamente importante lembrar que
não existe almoço grátis. Os privilégios de uns serão pagos pelos demais. Perde
a competitividade da economia. Como bem destacou Bernard Appy, secretário
extraordinário da Reforma Tributária, os tratamentos favorecidos retiram boa
parte do potencial de impulsionamento do crescimento econômico da reforma,
criam um espaço para litígio na justiça por conta das questões de classificação
e impactam a alíquota padrão.
Carlos Rodolfo Schneider é empresário