Debates
Mundo pós-pandemia. Quais os desafios da cidade do amanhã?
Da Redação | 17 de março de 2021 - 01:29
Por Susanna Marchionni
Já dizia um velho ditado: não há mal que dure para sempre. E
ninguém duvida que este momento ruim vai passar. Mas no momento em que se
estuda a retomada gradual das atividades e a reabertura do comércio, é
indispensável refletir sobre a cidade do amanhã no mundo pós-pandemia.
Afinal, o contexto social sofreu profundas mudanças, como a implantação
do distanciamento social, e levantaram-se dúvidas sobre quais serão os desafios
e as novas responsabilidades das pequenas, médias e grandes metrópoles.
Evidente que a digitalização deve estar no topo da nossa
reflexão, uma vez que nunca estivemos tão conectados. Os smartphones viraram
quase uma extensão do nosso corpo e foram usados para praticamente tudo e em
diversas atividades do cotidiano durante o isolamento.
Eles estiveram presentes no encontro de família, foram
utilizados como um meio para pagar contas, pedir comida, comprar produtos,
participar de reuniões de trabalho e até de cerimônias com a presença de
autoridades civis, militares e eclesiásticas. Agora, imagine a dificuldade que
os não-adeptos enfrentaram nos últimos dias. Difícil de imaginar, não é mesmo?
Difícil porque é impossível pensar na cidade do amanhã sem levar em conta o
valor e o poder da digitalização, uma vez que ela foi concebida para melhorar a
vida de todos.
O chamado mundo pós-pandemia deve intensificar o uso da tecnologia
para otimizar a rotina no sentido de construir um ambiente com maior qualidade
de vida, independente do poder aquisitivo de cada cidadão.
Mas não é só isso! Para que uma cidade seja funcional é
preciso que ela seja estruturada levando em consideração outros aspectos como a
arquitetura e o planejamento urbano, inovação social, tecnologia e meio
ambiente. Os locais com essa organização tendem a ser mais desenvolvidos, pois
o ambiente é inclusivo, harmonioso e colaborativo.
Dito isso, nos cabe dar atenção aos principais desafios
enfrentados pelas as grandes metrópoles que são a ausência de ações de
inequação nas relações humanas e a inovação digital. Ou seja, quando
digitalizamos as pessoas diminuímos a inclusão social, uma vez que incluir
significa mudar a qualidade de vida de todos ao mesmo tempo que melhoramos a
segurança.
Eu não me canso de falar que o principal problema no Brasil
é a segurança. Só conseguiremos resolver essa questão quando incluímos mais
pessoas no dia a dia da sociedade, além, é claro, de continuar investindo em
ações e serviços em prol do meio ambiente, planejamento urbano, alternativas
sustentáveis, entre tantos outros.
Na Europa, por exemplo, a telemedicina é uma realidade, mas,
aqui no Brasil, o serviço ainda vem engatinhando, porque nem todos possuem
acesso a um serviço de internet com qualidade.
Outro ponto importante para levar em consideração é o
compartilhamento de serviços de qualidade. A cidade do amanhã deve intensificar
projetos que ofereçam bibliotecas, cinemas, ciclovias, coleta de lixo seletiva,
cursos profissionalizantes e gratuitos e opções de entretenimento e de esporte.
O transporte e a mobilidade urbana também merecem atenção
especial, já que é inconcebível passar mais de quatro horas utilizando serviços
público para ir e voltar para o trabalho ou escola. É preciso investir em
ciclofaixas funcionais e calçadas mais largas para que os cidadãos consigam ter
a liberdade de viver a cidade.
Quando as pessoas estiverem vivendo tudo isso a chamada
"economia compartilhada", que há tempos vem sendo destacada como
tendência do futuro, deverá ganhar mais destaque, uma vez que uma coisa leva a
outra.
Ouso dizer que a cidade do amanhã deve oferecer
infraestrutura de alto padrão com digitalização e inovação social, tudo
isso a preços acessíveis. Porque quando promovemos a igualdade de oportunidades
diminuímos a desigualdade na sociedade ao oferecer as mesmas condições para
todos.
Aposto que a sua imaginação deve estar oferecendo uma série
de possibilidades que podem tornar uma cidade inteligente, só que não é preciso
ir muito longe para ter uma referência. A Smart City Laguna - primeira cidade
inteligente inclusiva do mundo, que fica no município de São Gonçalo do
Amarante, a 55 Km de Fortaleza, no Ceará, já começou a receber os primeiros
moradores e pode ser a materialização de todo o exercício que propus aqui. A
cidade de 330 hectares é voltada para 25 mil pessoas e possui mais de 50
soluções inteligentes integradas.
A infraestrutura de alto padrão dispõe de uma tecnologia que
beneficia todos os moradores, além de apresentar soluções inteligentes em
administração pública, planejamento urbano, acessibilidade, governança, cuidado
com o meio ambiente e economia compartilhada. Acredito que o exemplo
contribuirá para o surgimento de novos projetos que favoreçam a integração dos
moradores com a sociedade. Afinal, as cidades devem sempre estar a serviço da
população e não o contrário.
Susanna Marchionni - CEO da Planet Smart City no Brasil