Cientistas encontram esqueletos de 6 mil anos com DNA inédito
Cientistas jogam luz sobre a história genética oculta do altiplano colombiano, revelando evidências de uma população até então desconhecida
Publicado: 17/06/2025, 10:34

Durante milênios, o altiplano ao redor de Bogotá abrigou populações indígenas. Contudo, uma descoberta científica recente desvendou um mistério fascinante. Pesquisadores da Alemanha e da Colômbia sequenciaram, pela primeira vez, o DNA de antigos habitantes desta região, revelando a existência de um povo enigmático que floresceu há 6 mil anos antes de desaparecer por completo.
Essa comunidade desapareceu sem deixar vestígios genéticos. Não há descendentes diretos ou sequer vestígios de cruzamentos no DNA das populações que os sucederam. É como se tivessem sido apagados da história, restando apenas este enigma arqueológico no coração dos Andes colombianos.
Os cientistas analisaram o DNA de 21 indivíduos de cinco sítios arqueológicos no altiplano, abrangendo um período de quase 6 mil anos. As amostras mais antigas vêm das escavações de Checua, ao norte de Bogotá, a uma altitude de aproximadamente 3 mil metros.
“Estes são os primeiros genomas humanos antigos da Colômbia a serem publicados”, afirmou o professor Cosimo Posth, da Universidade de Tübingen, autor do estudo publicado na revista científica Science Advances. A pesquisa também contou com pesquisadores do Centro Senckenberg de Evolução Humana e Paleoambiente e da Universidade Nacional da Colômbia.
A equipe extraiu material genético de ossos e dentes que datam de 6 mil anos atrás até períodos pouco antes do início da colonização espanhola.
LINHAGEM DESCONHECIDA - O aspecto mais surpreendente da descoberta não é apenas a idade desses restos mortais, mas o que eles revelam sobre o destino dos povos aos quais pertenciam. Os indivíduos mais antigos de Checua eram de uma pequena população de caçadores-coletores que representava “uma linhagem basal até então desconhecida”, segundo o estudo. Esses povos fizeram parte da expansão inicial que povoou a América do Sul muito rapidamente a partir do norte.
Mas aí vem o mistério: há aproximadamente 2 mil anos, esses primeiros colonos simplesmente desapareceram. Não gradualmente, não por mistura com outros grupos, mas completa e radicalmente.
“Não conseguimos encontrar descendentes desses primeiros caçadores-coletores das terras altas colombianas. Os genes não foram transmitidos”, explica Kim-Louise Krettek, que participou do estudo, em um comunicado da Universidade de Tübingen. “Isso significa que houve uma troca populacional completa nos arredores de Bogotá.”
SEGUNDA MIGRAÇÃO DO NORTE - Em vez dos antigos caçadores-coletores, um grupo completamente diferente chegou à região há cerca de 2 mil anos. Esses novos colonos vieram da América Central e trouxeram consigo não apenas uma genética distinta, mas também importantes inovações culturais, como a cerâmica e, provavelmente, os idiomas chibcha, ainda falados em partes da América Central.
Ao contrário de seus predecessores, esses novos habitantes deixaram vestígios genéticos visíveis até a chegada dos europeus no século 16, desenvolvendo a cultura muisca que os conquistadores encontraram ao chegarem.
“Além de avanços tecnológicos como a cerâmica, os povos dessa segunda migração provavelmente também trouxeram as línguas chibcha para o que hoje é a Colômbia”, disse Andrea Casas-Vargas, pesquisadora da Universidade Nacional da Colômbia e coautora do estudo.
O que torna essa descoberta excepcional é a raridade do fenômeno. “O desaparecimento completo dos vestígios genéticos da população original é algo incomum, especialmente na América do Sul”, enfatizou Casas-Vargas. Em outras regiões do continente, como os Andes e o Cone Sul (região da América do Sul que inclui Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e o sul do Brasil), foi possível observar uma forte continuidade genética que durou longos períodos, mesmo quando as grandes mudanças culturais estavam ocorrendo.
Nesse sentido, o estudo levanta questões preocupantes: o que teria causado o desaparecimento completo da primeira população? Os pesquisadores não especulam sobre as causas, embora conflitos ou doenças possam estar entre as possíveis explicações. É um mistério que outras pesquisas terão que desvendar no futuro.
Informações: Metrópoles