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Coluna MSN: Exportação intelectual

“Por que nossa cultura não viaja bem no exterior?”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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Muitas vezes uma frase solta nos dá a chave de realidades complexas, permitindo uma iluminação. Sempre me perguntei por qual razão o Brasil exportava tão pouco o seu pensamento e sua arte. Por que desperdiçamos as nossas melhores mentes?

Cheguei a escrever um romance sobre isso, a partir da trajetória do paraibano que inventou, em 1859, a primeira máquina de escrever industrializável, o Padre Azevedo – (“A máquina de madeira”, Companhia das Letras), e que nunca teve nenhum reconhecimento e quase nenhum apoio nacional.

Agora, lendo a entrevista que meu compadre Paulo Krauss fez com a romancista japonesa Yoko Ogawa (“Rascunho”, outubro de 2023), me vem uma explicação perfeita. Falando do Japão, ela revela, por contraste, a situação do Brasil.

“O Japão é um país pequeno em dimensão e sem recursos naturais. Coisas que as pessoas produzem são possíveis de serem exportadas. Uma delas é a arte”.

O Brasil é um país imenso, com muitos recursos naturais, e nossa vocação, desde o período colonial, foi exportar tais recursos facilmente extraídos de nosso solo. É nisto que estão empenhadas as classes empresariais e políticas. Madeira, pedras preciosas, produtos agrícolas, minérios e animais. Com tantas potencialidades, somos vistos por meio destes produtos, e não como um país em que o pensamento e a arte sejam também geradores de riqueza. Quando a nossa cultura aparece lá fora, como é o caso da Bossa Nova, é porque alguma potência internacional nos descobriu e se apropriou desta descoberta, e não porque houve um projeto deliberado de incentivo.

Yoko Ogawa ainda diz que o sucesso de uma cultura no exterior não depende apenas do “esforço individual, necessita de um apoio do país”. Nós estamos muito ocupados em vender rapidamente e de maneira predatória as riquezas naturais e não entendemos o potencial das riquezas intelectuais (que, sim, são muitas), o que nos leva a uma invisibilidade mundial quando não se trata dos estereótipos que nos definem: Amazônia, povos indígenas, samba, praias, violência urbana etc.

Enquanto isso, artistas, inventores e intelectuais continuam extraindo do próprio esforço obras sem cotação no mercado interno.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt.

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