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Coluna MSN: O maior exportador de água do mundo

“É urgente discutir o valor da água na economia brasileira”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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Voltando da África do Sul, não posso deixar de apontar uma questão global muito importante. A preocupação do país hoje é com a falta de água. Em todas as universidades há centros de estudo de reaproveitamento de água e de uma economia menos dependente dela. Há, por exemplo, imensos galões que coletam chuva em todos os prédios e, uma das universidades, a Universidade Nelson Mandela, na região de Port Elizabeth, explora com alta tecnologia a água potável do campus.

Além da crise da Covid, o reitor desta Universidade falou que teve que enfrentar também a maior crise hídrica da história do país. Este assunto é pouco explorado no Brasil.

A cidade africana hidricamente mais crítica é Joanesburgo. Construída há 130 anos numa montanha, por ser região ourífera, o lugar é impróprio para uma urbe conhecida como a Nova York da África. A água tem que ser canalizada por centenas de quilômetros em um clima de savana e para uma população que cresce descontroladamente.

Não se trata apenas de fornecer água doce para esta região, mas de levar comida. As megalópoles são altamente dependentes de grandes escalas de alimentos, e alimentos nada mais são do que muuuuuita água.

Quanto me perguntam qual o nosso maior ativo de exportação, sempre respondo: água. Para ficar apenas com os dados da soja, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), para cada tonelada de soja ou farelo exportado, estamos “enviando” 2 milhões e duzentos mil metros cúbicos de água. No caso do óleo bruto ou refinado, esta despesa hídrica dobra – passa para 4 milhões e 300 mil metros cúbicos de água por tonelada. Isso pode ser mensurado para todos os produtos de origem vegetal e animal. Esta água se chama “água virtual”, que é a que foi retirado do solo ou veio com as chuvas e serviu para gerar e processar o produto.

A lógica que sustenta nossa economia está deixando uma perigosa “pegada hídrica” (water footprint) em nosso país, que se desertifica rapidamente.

Em uma das ruas mais lindas de Joanesburgo, de grandes mansões, há uma alameda de flamboiã, árvore exótica, oriunda da América Latina – Joanesburgo é uma cidade totalmente arborizada, foi o maior reflorestamento feito em todo o mundo. Os flamboiãs não podem mais ser plantados lá porque consomem uma quantidade absurda de água.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt.

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