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Coluna MSN: O livreiro apaixonado

“De quem um livreiro deve ser amigo”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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Gosto de bisbilhotar livrarias. Quando chego a uma cidade, mesmo que não domine o idioma, percorro as mesas e as estantes destas casas comerciais. Fiz isso em Cracóvia, Rabat, Praga etc. O contato com a livraria confirma o que sou.

A caminho de Paraty, sempre de carro, faço um pit stop em Santos, cidade que sinto como minha, pois meu avô Miguel Sánchez chegou ao Brasil por aquele porto, no ano de 1912. Então, volto a este portal da brasilidade instantânea que a imigração forçou. Percorro o centro histórico, vou à Bolsa Oficial do Café, como se ali estivesse parte da história familiar, porque venho de um grupo de trabalhadores das lavouras paulistas.

E todas as vezes paro na Realejo, que é uma de minhas lojas de livro preferidas. Há algo mágico nesta livraria que identifiquei agora, lendo as crônicas de Um intrépido livreiro nos trópicos (Vento Oeste, 2023). A magia do lugar está relacionada ao entusiasmo do autor-livreiro, o Zé Luiz Tahan. Ficamos amigos, ele já me convidou duas vezes para seus encontros de literatura, mas só lendo seus textos pude ter noção da energia contagiante que há em tudo que ele faz.

Embora insista em seu sangue libanês como o motor do negócio, na verdade o que o torna um dos mais amados livreiros do Brasil é seu apego autêntico à leitura. Ele não vende livros, compartilha uma crença. Suas histórias são deliciosas, nunca há ódio ou revolta nelas, sentimentos tão comuns entre os que estão na cadeia do livro. Tudo nele é devoção, gratidão e camaradagem. Tahan é o grande livreiro dos escritores, e não das editoras e empresas de marketing. É o Zé Olympio de Santos.

Seu livro revela a dimensão bondosa da identidade do cronista, ser que só existe quando há bom-humor. Se Tahan vende livros enquanto se diverte e forma leitores, para ele escrever também é uma festa sem fim, princípio lúdico de toda arte. E mesmo na pandemia ele manteve ativa a empresa, com a criação do projeto “Livreiro em domicílio”, entregando pessoalmente os livros aos leitores em isolamento, sem reclamar das medidas restritivas, que ele seguiu à risca.

Em breve vou aí bisbilhotar as suas prateleiras, Zé. 

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt.

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