Coluna MSN: Vontade de comer brócolis | aRede
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Coluna MSN: Vontade de comer brócolis

“Nossos comportamentos não são comportamentos nossos”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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Manuel Bandeira gostava de falar ao telefone. A sua Pasárgada é um paraíso porque, entre outras coisas, “tem telefone automático” para se conversar à vontade. Nunca gostei de falar ao telefone, por isso aderi de imediato ao WhatsApp. A mensagem é uma forma muito menos invasiva de comunicação: respondemos quando dá.

Em conversa com dois empresários do ramo da alimentação, fiquei sabendo que os clientes preferem pagar mais caro para pedir comida pelos aplicativos do que ligar para o restaurante e fazer o pedido. Podemos tirar algumas conclusões. Preferimos interagir com os sistemas a ter que conversar com alguém, dizer “boa noite” e outras expressões de urbanidade.

Isso se reflete em nosso comportamento, que está cada vez mais lacônico. Nas mensagens, perdemos as formas introdutórias de conversa. Começamos com o assunto. Terminamos sem terminar. Respondemos com apressados emoticons, ícones emocionais, uma reação em forma de figurinha infantilizada. Causa certo constrangimento mandar ou receber coraçõezinhos pulsantes, como se usava nos cadernos dos nossos primeiros anos escolares.

Tratamos como se do outro lado estivessem apenas robôs. E não pessoas. O que leva muitos a destruir reputações com as mais absurdas acusações porque não estão falando com ou de alguém, estão escrevendo em uma plataforma. Quando encontramos a pessoa que nos agrediu, ela nos trata bem, pois não era contra nós, apenas um comentário nas redes e as redes não são pessoas.

No lugar do aperto demão, um clic. No lugar de uma chamada telefônica, um áudio que anula momentaneamente o interlocutor. Em vez de perguntar algo, uma pesquisa em algum site.

Fomos nos robotizando. Você não conseguirá conversar com ninguém mais divertido, mais inteligente ou mais obediente do que a Internet. Mas ela não fará você feliz.

Enquanto isso, os algoritmos ficam indicando nas nossas redes sociais o que devemos consumir. Conversava com minha mãe, que ela devia comer mais brocólis, e brotaram vários anúncios deste vegetal em meu celular, que estava ali só de espreita. Confesso que até deu vontade de preparar uns brócolis ao alho e óleo para o almoço. Imagina o desejo de consumo que os algoritmos criam quando tratam de coisas mais apetitosas.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt

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