Bolsonaristas querem proibir uso de linguagem neutra | aRede
PUBLICIDADE

Bolsonaristas querem proibir uso de linguagem neutra

Desde novembro do ano passado, já foram apresentadas em 14 estados e também na Câmara Federal propostas que impedem o uso desse recurso nas escolas

Na cidade do Rio, o vereador Carlos Bolsonaro apresentou propostas contrárias à linguagem neutra
Na cidade do Rio, o vereador Carlos Bolsonaro apresentou propostas contrárias à linguagem neutra -

Da Redação

@Siga-me
Google Notícias facebook twitter twitter telegram whatsapp email

Desde novembro do ano passado, já foram apresentadas em 14 estados e também na Câmara Federal propostas que impedem o uso desse recurso nas escolas

No momento em que o país discute a volta às aulas presenciais e os impactos da pandemia na educação, parlamentares bolsonaristas, após uma malsucedida onda de projetos do Escola Sem Partido, escolheram como novo alvo a proibição do uso da linguagem neutra nas escolas. As informações são do Extra.

Levantamento do Globo nas 27 assembleias legislativas do país mostra que, desde novembro do ano passado, já foram apresentadas em 14 estados e também na Câmara Federal propostas que impedem o uso desse recurso nas escolas. Em Santa Catarina, a ideia já virou até decreto.

A linguagem neutra — também chamada de “pronome neutro”, “linguagem não binária” ou “neolinguagem” — é a proposta de adaptação da língua portuguesa para que as pessoas não binárias (quem não se identifica nem com o gênero masculino nem com o feminino) se sintam representadas. Assim, “amigo” ou “amiga” virariam “amigue” ou “amigx”, segundo uma das propostas.

Uma pesquisa da USP publicada em janeiro na Nature estima que 1,2% dos brasileiros (quase 2,5 milhões de pessoas) sejam não binários.

‘Essa é a menor das prioridades dentro da maior crise educacional da História brasileira. As crianças e jovens perderam aprendizagem de uma forma extremamente preocupante. Isso é que deveria ter sentido de urgência, e não ficar discutindo detalhes acessórios de acordo com a visão de mundo dos parlamentares’, afirma Claudia Costin, diretora do Centro de Políticas Educacionais da FGV/RJ.

Em Santa Catarina, o governador Carlos Moisés (PSL), eleito com apoio do presidente Jair Bolsonaro, decretou no mês passado a proibição da linguagem neutra em escolas públicas e privadas. A decisão foi tomada após proposta de lei apresentada pela deputada estadual Ana Caroline Campagnolo (PSL), uma das maiores defensoras do Escola Sem Partido no país. O PT entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar o decreto.

Nos outros estados, há projetos de lei em debate. Em todos, os deputados que fizeram a proposta utilizaram basicamente o mesmo texto, que diz garantir aos estudantes o direito ao aprendizado da língua portuguesa “de acordo com a norma culta e orientações legais de ensino estabelecidas com base nas orientações nacionais de Educação, pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp)”.

Para isso, “fica expressamente proibida a denominada ‘linguagem neutra’ na grade curricular e no material didático de instituições de ensino públicas ou privadas, assim como em editais de concursos públicos”, dizem as propostas.

'Trata-se de uma aberração linguística que não está em conformidade com a nossa gramática e pode confundir o aprendizado dos nossos jovens', defende o deputado Cabo Junio Amaral (PSL-MG), autor do projeto na Câmara Federal que se elegeu comprometido com o Escola Sem Partido e votou contra o Fundeb, o fundo para manutenção da educação básica.

Entenda a linguagem

Não há uma padronização de qual seria a forma ideal de linguagem não binária. Um das propostas, o chamado sistema “ile”, por exemplo, transforma a frase “Eles são amigos” em “Iles são amigues”.

‘Há alguns anos, as pessoas utilizavam X ou @, e isso parecia inclusivo (amigx ou amig@). Só que se percebeu que esses elementos não eram pronunciáveis, o que prejudicava a leitura de pessoas disléxicas ou com leitoras de telas. Queremos o debate para encontrar uma forma acessível que atenda quem não se identifica na atual linguagem’, diz Urse Brevilheri, 20 anos, pessoa não binária que criou um curso sobre o recurso.

Coordenador do programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rodrigo Borba conduz uma pesquisa, ainda em andamento, sobre o uso da linguagem neutra na escola.

PUBLICIDADE

Participe de nossos

Grupos de Whatsapp

Conteúdo de marca

Quero divulgar right

PUBLICIDADE